60 Dias pela Ásia e os 3 Obstáculos para Amar o Próximo
Acabamos de completar 60 dias viajando. Todo esse tempo pela Ásia – Japão, Vietnã, Laos. Fica todo mundo perguntando como estamos: estão bem? Estão cansados? Já brigaram? Enjoaram da comida? Ainda tem dinheiro para continuar?
Está tudo certo, às mil maravilhas! Estamos bem, curtindo intensamente cada dia. Quando cansamos, tiramos um dia para descansar e ficamos prontos para a próxima. Não brigamos mais do que em casa. Ainda não enjoamos da comida, mas às vezes comemos uma pizza porque ninguém é de ferro. E estamos bem dentro do orçamento.
Nosso único problema até agora é que nossa consciência nos obriga à amar o próximo, mas às vezes não dá. Ficamos mal, num dilema interno, perturbados com a incapacidade de aceitar integralmente a cultura alheia. Nos esforçamos muito, é claro. Lembramos que estamos nos países deles, que somos nós que temos que nos adaptar e, principalmente, que fomos nós que escolhemos vir para cá, mas temos que fazer muita força para ultrapassar esses 3 obstáculos que se agigantam de vez em quando:
1. Buzinas
Não precisa ter ninguém na rua. Basta o motorista ter vontade de buzinar e béééén. Talvez para que ninguém ouse sair na rua dele, atravessar o caminho dele. Quem vai saber o que se passa em suas cabeças?
No começo você até vê graça, até que essa vontade de buzinar começa a ser tão grande que deixa de ser uma vontade e passa a ser algo tão natural quanto respirar: inspira, buzina, expira, buzina, inspira, buzina, expira, buzina.
É enlouquecedor. Além de deixar a gente sem a menor noção de perigo, porque buzinam tanto que já nem sabemos se é para sair da frente, se é para passar, ou whatelse, esse barulho entra na cabeça e gruda. Comecei a sonhar com buzina. Tipo aquele pernilongo chato que não para de fazer bzzzzz enquanto você tenta dormir.
Conhecemos um francês que comprou uma moto sem nunca ter dirigido uma e estava viajando pelo Vietnã. Perguntamos como ele aguentava as buzinas e ele disse que achava bom, porque buzinavam para que ele, na moto, soubesse que eles – os carros, caminhões e outras motos – estavam ali.
Gente, mas para que serve o retrovisor, as faixas de carro e, enfim, para que serve a estrada se não for para as pessoas estarem ali? Ele disse que ajudava, mas como ele nem sabia dirigir moto e no Vietnã criança dirige moto, cego dirige moto, até galinha dirige moto, acho que fez algum sentido.
Mas ainda irrita.
2. Chupação
Basta sentar numa mesa e começa. Chupam caldo de sopa, chupam macarrão da sopa, chupam macarrão sem sopa, chupam legumes, chupam arroz, chupam frango, chupam osso. Chupam com estardalhaço. Parece uma competição de quem chupa com mais avidez.
Seria cômico se a barulheira não fosse tão irritante.
Chegamos a um ponto em que nos sentimos num jogo de campo minado: a gente já entra nos restaurantes procurando uma mesa com todas as mesas em volta vazias, para ouvir menos chupação e não correr o risco de explodir. Missão quase impossível, já que aqui tudo é pequeno e a maioria dos lugares nem tem mais de 3 mesas.
Depois que terminam a chupação de comida, ou bebem e a cada gole fazem “Ahhhh” daqueles bem altos, como se tivessem acabado de chegar do deserto e aquele chá quente fosse o último gole de água gelada do mundo, ou pegam um palito de dente e… voilá… chupam palito de dente. Porque a chupação não pode parar.
A gente bem que tenta entender, mas que porra de graça pode ter passar o dia TODO chupando o palito de dente de depois do almoço? Ok, não preciso entender o porquê, mas eu já ficaria feliz se eles tirassem o palito e parassem de chupar enquanto falam com a gente. Se eles já comem metade das palavras, com o estalinho de chupação de palito e a impossibilidade de abrir a boca direito para não cair o dito cujo, fica complicado entender qualquer coisa.
3. Escarração
Por fim, esse, que em matéria de nojinho, é um obstáculo quase intransponível e há cidades em que é praticamente um esporte.
Começa cedo. Lá pelas 5hs da manhã, se tiver sono leve ou por acaso estiver acordado, já vai começar a ouvir alguém escarrando (seu vizinho de quarto, alguém na rua…) no volume mais alto possível, porque, claro, além de escarrar ser um processo vital, não pode ser feito discretamente.
E assim vai, não importa onde você esteja: na rua, na chuva ou na fazenda, no templo, no mercado, no carro. Não importa se você está almoçando, se está sendo levado ou esperando alguma resposta da pessoa, se bate a vontade de escarrar, eles puxam lá de dentro e tchá, cospem pra fora. E nem vou comentar o saquinho que eles levam no ônibus.
Começamos a debater as possibilidades: seria o cigarro? Porque eles fumam pra caralho, devem ficar com a garganta estragada. Mas a maioria das mulheres não fuma e elas escarram também. Seria então a poluição? Mas numa cidade de montanha de 200 habitantes? Bom, então deve ser alguma doença desconhecida que só tem aqui. Cogitamos até comprar umas máscaras dessas que eles usam para não pegar doenças e ficam todos com cara de doentes terminais ou malucos.
Mas não adianta, né? Melhor mesmo é tentar abstrair e fingir que cada escarrada é mais um esforço pela paz mundial…
Aceita que dói menos!
Apesar da quantidade de gente que pratica essas estranhas manias, graças aos bons Budas que estão por todo lado, não são todos (nem todos os povos, nem todas as pessoas). E ai a gente encontra um templo bem lindo, come uma comida deliciosa, caminha numa montanha só para nós com um visual incrível, mergulha numa cachoeira tão azul que parece de mentira, recebe um sorriso, uma ajuda, um convite para tomar um Lao Lao e pronto, volta a soltar coraçõezinhos e amar todo mundo de novo!
Sabemos que essas diferenças culturais são chocantes e fazem parte dessa nossa maravilhosa Grande Viagem que vem nos transformando a cada dia. Assim seguimos em frente, talvez daqui mais 60 dias isso tudo nem importe mais e a gente esteja escarrando também. Não, isso não. Talvez isso tudo nem importe mais. Ponto.
Ma, é dureza, viu? Tem hora que faço caras bizarras, mas eles me ignoram solenemente! hahah
Um ótimo ano para você, meninas e menino, cheio de luz e energia positiva! Bjooo
Obrigada pela linda mensagem, Celia! Um ótimo ano para você também! Um grande beijo, Bruna e Gabriel.
Gabriel e Bruna adorei ver vcs, Bruna sua descrição das manias deste povo são tão claras e deliciosas de ler que eu quase me senti aí. desejo que vcs continuem esta viajem pelo mundo vendo tudo de bom e de ruim que há, e principalmente a viagem interior que vcs fazem (querendo ou não). Desejo a vcs só o suficiente,posto que pouco preocupa e muito nos impede de ser o que somos, (medo, desconfiança e outras cositas mais) Gabriel obrigada por estar em minha vida. bjs. Tia Célia
Bru, são 3 quase da manhã, acordei por a caso e quando fui dar uma olhadinha no meus e- mails me deparei com esse post delicioso… que gostoso saber mais um pouquinho da viagem de vcs… impressionante como o tempo passou rápido.. Fico feliz que estejam bem e curtindo cada momento.. mas eu daria TUDO pra ver a sua cara em qualquer uma dessas situações… eu tenho pavor de palito de dente?? Um ano maravilhoso pra vcs querida, com muita saúde, paz, amor, união, viagens e mais viagens…