China’s Silent Army – Comércio Internacional da China

Para explicar como eu me vi aprendendo sobre o comércio internacional da China e sobre a própria China com este livro – China’s Silent Army, preciso contar uma historinha.

Eu e o Gabriel esperávamos às sete da manhã por uma van que nunca chegava em Lijang, nos confins da China, para começarmos nosso trekking pelo Tiger Leaping Gorge (causo para outro post). Sonhávamos dois dias de caminhada tranquila pelas montanhas e eu estava precisando, porque vindos do Tibet para a China, ainda não tinha encontrado a razão de estar ali e tudo e todos me incomodavam. É duro ter um pouco de conhecimento, o preconceito aflora.

Quando a van chegou, dentro dela vieram um francês e um alemão virados no 220. Falavam sem parar, num ânimo matinal que por si só me causava profunda irritação. O francês parecia uma criança indo para a Disney, comentava cada segundo da jornada com clara fascinação e inúmeras exclamações de “fucking” isso ou aquilo. Até o Oh My God de medo após as manobras perigosas do motorista viraram “fucking Jesus”. Quase dei bafão quando percebi que ao invés dos 20 anos que eu deduzi da energia e maturidade demosntrada, eles estavam na casa dos 40. Graças a Deus, ao chegarmos no começo da trilha eles saíram andando na mesma velocidade em que falavam e sumiram. Os dias foram revitalizantes como eu esperava. E na volta pegamos outra van que nada tinha a ver com a primeira. Para minha consternação, os dois vieram novamente no pacote.

Como a volta foi a tarde e não tinha mais ninguém na van, resolvemos conversar um pouco. Eles trabalhavam com comércio internacional da China e contaram como aprenderam mandarim, o que já tinham visitado, que era possível dormir na muralha da China (história para outro post) e subitamente começamos uma interessante conversa político-econômica.

E foi por indicação efusiva dessa dupla improvável que resolvi ler esse livro, o China’s Silent Army e a-m-e-i. Você encontra o livro aqui na Amazon!

Eu, na trilha do Tiger Leaping Gorge, tentando entender o que raios eu estava fazendo na China! Eu ainda nem tinha começado a pensar em economia e no comércio internacional da China.

Eu, na trilha do Tiger Leaping Gorge, tentando entender o que raios eu estava fazendo na China!
Ainda nem tinha começado a pensar em economia e no comércio internacional da China.

Comércio Internacional da China e Muito Trabalho de Campo

Os jornalistas Juan Pablo Cardenal e Heriberto Araújo escreveram o livro depois de anos de intensa pesquisa sobre a sociedade, política e o comércio internacional da China e de muito trabalho de campo por conta própria. Por conta própria! Só isso já vale meu respeito.

Vou deixar um pequenino trecho inicial, para vocês entenderem para que lado vai a conversa (abaixo fiz uma tradução livre):

“For most people, this date perhaps no longer means anything at all, but as exactly 8:08 p.m. on August 8, 2008, history changed its course. That moment marked the beginning of the opening ceremony of the Beijing Olympic Games, the first event o f its kind to take place in a developing country. It was an event that came shrouded in controvery and doubt. As well as the uncertainty caused by organizers’ lack of experience there were concerns over the politicization of the Sporting contest , a consequence of the latest of countless supressed uprising in Tibet that had ocurred just months before and, more generally, of the dictatorial nature of China’s regime.

Beijing 2008 represented a priceless PR campaing for the Chinese regime. Not only did the event serve to legitimize the regime in the eyes of its own people, but it also showed China to be worthy of a level of international prestigie which immediately wiped away the tragic memory of the tanks of Tiananmen Square, the blood spilled in Tibet, and the daily trampling of human rights.

In the press, China was now only of interest from an economic perspective, while social stories of injustice or repression were pushed, surprinsingly, to the sidelines. Overnight it seemed that China had become “one of us”.

In a little less than a year, China’s prestigie and position in the rest of the world had taken a 180-degree turn, from treacherous dictatorship to savior of the world’s economy.

It was clear that the balance of world power had begun to swing towards the East.”

Minha versão em português:

“Para a maioria das pessoas essa data talvez não signifique mais nada, mas exatamente às 8:08 da manhã de 08 de agosto de 2008 a história mudou de curso. Aquele momento marca a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, o primeiro a acontecer num país em desenvolvimento. Foi um evento envolto em controvérsia e dúvidas. Assim como a inexperiência dos organizadores causava incerteza, havia preocupação com a politização da competição por consequência das últimas de muitas manifestações reprimidas no Tibet que tinham ocorrido meses antes e, mais genericamente, por causa da natureza ditatorial do regime chinês.

Pequim 2008 representou uma impagável campanha de relações públicas para o regime chinês. Não apenas o evento serviu para legitimar o regime aos olhos da população, mas também mostrou que a China merecia certo prestígio internacional que imediatamente dissipou a trágica memória dos tanques na Praça Tiananmen, o sangue derramado no Tibet e o desrespeito diário com os direitos humanos.

Na imprensa, a China era agora apenas tratada pela perspectiva econômica, enquanto questões sociais de injustiça ou repressão foram jogadas, surpreendentemente, para escanteio. Da noite para o dia parece que a China virou “um de nós”.

Em menos de um ano, a posição e o prestígio da China no resto do mundo deu uma volta de 180 graus, de autoritária ditadura para salvadora da economia mundial. Estava claro que a balança de poder mundial começou a se inclinar para o leste.”

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Sim, é uma análise crítica da atuação da China como agente econômico no mundo, mas também dos demais atores mundiais. A gente conhece bem os “made in China”, mas você sabe mesmo quais são os produtos exportados pela China? Mais do que isso, você sabe quais são os produtos importados pela China? E como eles são exportados e importados? De onde vem o dinheiro? Você conhece algo sobre o comércio exterior da China e o comportamento da sua população? Mas não me refiro aos padrões que a mídia nos conta como se fossem verdades…

As necessidades (reais ou criadas) da China refletem no mundo todo e tem consequências tão grandes quanto sua população. Como tudo na vida, essas questões estão repletas de luz e sombras e como os autores comentam: “com uma linha fina e tênue entre elas”.

Baseado em muita pesquisa e visitas aos lugares mais improváveis os autores vão dando exemplo após exemplo de como a China vem engolindo tudo e todos com o seu exército silencioso chamado economia. Esqueçam as guerras e catástrofes, as negociações políticas e os impérios instituídos por força. Aos poucos, a China segue comprando tudo e impondo seus métodos, digamos, extravagantes.

Cases do Comércio Exterior da China

Eu não vou contar os cases expostos no livro para não dar spoiler, mas posso contar um pouco do que senti para você ter uma dimensão da abrangência do livro. Me vi como numa novela, em que vários momentos da minha própria vida viajante passaram pelos meus olhos:

* as políticas protencionistas no Brasil e os shoppings chineses em São Paulo;

* um passeio por lindos chateuax familiares em Bordeuax, com senhorzinhos explicando todo o processo de seus vinhos;

* minha estada em Angola, as famosas corporações de construção chinesa que traziam trabalhadores-abelha sem qualquer interação com a comunidade local e construíam estradas com prazo de validade inexistente;

* o Myanmar com suas regiões controladas por militares onde turistas não entram e as inúmeras lojas de Jade em Yangon;

* uma parada no meio do Mekong no Laos para desembarcar trabalhadores de uma represa e a impossibilidade de continuar viagem pelo rio porque já não havia passagem;

* nossos passeios e mergulhos pelo Mekong no Vietnam e Camboja, no meio de comunidades paupérrimas que vivem da venda de peixes e frutas plantadas nas margens;

* o povo leve e feliz do Irã, querendo mostrar pro mundo que aquele não é um país terrorista;

* os lagos azul celeste do sufocado Tibet;

* os maravilhosos tecidos egípcios, que precisamos comprar com atenção para não levar algo por engano,

e Hillary Clinton perguntando quem brigaria com o banco do mundo numa entrevista.

Sim, o livro passeia por inúmeros lugares do mundo e vai te fazer pensar muito também, tenho certeza. Entender o comércio Internacional da China é conhecimento básico nos dias de hoje!

É um interessantíssimo documento para entender a geopolítica e a economia na atualidade e também para entender a própria sociedade chinesa que, acredite, não tem nada a ver com nenhuma outra, conforme li e constatei in loco.

Eu só encontrei o livro em inglês (inclusive me candidato a fazer a tradução se alguma editora estiver por ai), mas a linguagem é simples e o texto fácil, então mesmo que você não seja fluente, dá para ler sem grandes dificuldades e eu recomendo muito essa VIAGEM! Compre o livro na Amazon por meio desse link e ajude a manter o blog! =D

E se quiser conhecer um pouco do Tibet, tem muita história aqui!

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2 Resultados

  1. Bruna Barbosa disse:

    Pois é! É impressionante a mudança, mas o trabalho é na mídia e no money, né? Dinheiro despejado em todos os lados!!!! Leia o livro sim, é muitíssimo interessante! Abs!

  2. Viajento disse:

    Parece ser muito interessante. Realmente conhecemos muito pouco sobre a China e não tenho ideia de como ela foi de um lugar mal visto por diversos motivos para uma potência econômica, toda trabalhada na mídia. Vou procurar para ler!

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