O turismo pós pandemia ainda é uma incógnita. Ninguém sabe ao certo se, quando, e como poderemos viajar. É provável que as coisas mudem bastante. Estaremos mais preocupados com a saúde e bem-estar de todos e mais medrosos também. Provavelmente teremos que rever conceitos e formatos das viagens para encontrarmos uma forma mais equilibrada de turismo enquanto sociedade e entre esta e o meio ambiente. Venho refletindo, com base nesse cenário louco em que vivemos, quais serão as tendências neste contexto, como o turismo de natureza e viagens de carro.
Acabei chegando às ideias abaixo, que são baseadas em informações sobre os destinos que já começam uma reabertura, nos planos de retomada já preparados por algumas companhias aéreas, em algumas poucas pesquisas que começaram a aparecer sobre o tema mas, principalmente, na minhas observações pessoais. Ou seja, pode ser que nada disso se concretize. Rá-rá. Mas vamos lá! Pensando juntos, talvez a gente chegue à outras ideias!
Tendências no Turismo Pós Pandemia: Regionalização
Nós estamos vendo alguns países iniciarem a reabertura pós quarentena e alguns destinos planejando uma retomada do turismo, especialmente na Europa, onde ninguém quer perder os dias quentes e felizes do verão.
Podemos até sentar aqui e imaginar uns dias em uma paradisíaca ilha grega, mas a verdade é que não vai rolar tão cedo. Os vôos continuam cancelados e as fronteiras, fechadas.
Mesmo os países que estão reabrindo, estão fazendo isso internamente primeiro. Estão avaliando se conseguem reabrir para estrangeiros, de qual maneira farão isso e, ainda, para cidadãos de quais países. Está claro que países que ainda estejam enfrentando o novo coronavírus terão que continuar isolados. E esse é exatamente o caso do Brasil agora.
Não somos os únicos, porém, a despertar desconfiança. A Grécia, para usar o mesmo exemplo, não permitiu a entrada de italianos, franceses, espanhóis e suecos, ou seja, ainda não vai permitir a entrada de moradores de locais onde a pandemia foi mais intensa.
E ainda que as fronteiras sejam novamente liberadas, até que haja um remédio ou vacina contra o covid-19, elas podem ser fechadas novamente a qualquer momento. Vimos vários brasileiros sofrendo para retornar ao país no começo do ano e considero esse um ponto de atenção importante daqui para frente.
Aqui nesse artigo da Viagem e Turismo a maravilhosa Adriana Setti fala exatamente sobre esse encolhimento do mundo no que ela chama de corredores de turismo.
Mas não é só isso! Também já está claro nesta fase da pandemia que viveremos uma crise econômica.
Imagino que esse fato terá pelo menos duas consequências: a primeira é que, preocupados com as finanças, as pessoas viajarão menos e a segunda é que, ao viajar, as pessoas optem por viagens mais baratas que se encaixem melhor ao orçamento mais apertado.
Isso costuma ser mais fácil nas viagens mais próximas, que não incluam passagens aéreas e nem a compra de moedas que estão muito valorizadas frente ao real.
Não acho que essa seja uma má notícia. Vivemos num país com tanto para explorar! De qualquer ponto onde se more é possível chegar numa viagem rápida à um lugar de belezas naturais ou culturais.
Tem praia, rio, montanha, cachoeira, cerrado, floresta, cidades de arquiteturas únicas, patrimônios históricos, gastronomia diversificada e imensos tesouros culturais diferentes. Somos privilegiados e viajando por aqui, ajudaremos também nossa economia! Vamos revisitar o Brasil!
Tendências no Turismo Pós Pandemia: Turismo de Natureza
Também acredito que nos voltaremos mais ao turismo de natureza, por diversas razões.
Com o vírus ainda circulando no mundo, ainda que de forma mais controlada, precisaremos continuar com as medidas de segurança para a nossa saúde, especialmente o distanciamento social.
Se ficamos mais seguros em locais abertos, onde o vírus não fica “preso”e onde conseguimos manter uma boa distância dos outros, quais lugares poderiam ser melhores do que nos destinos naturais que ainda nos unem à outros aspectos da vida saudável como ar e água puros e a movimentação do corpo?
Esse artigo da NPR traz um ranking das atividades mais e menos perigosas para o contágio pelo coronavírus e é bem interessante. Passar um dia na praia ou na piscina, por exemplo, são consideradas atividades de baixo risco, assim como acampar e frequentar um parque (seguindo sempre medidas de distanciamento, claro).
Já atividades mais comuns em viagens urbanas, como comer num restaurante popular e frequentar um shopping, por outro lado, representam um risco maior de contágio e as baladas aumentam vertiginosamente os riscos.
Os destinos do turismo de natureza são também ótimos para viajar com crianças, que sempre se divertem com os atrativos naturais e, claro, com muito espaço para brincar! Além disso, quanto mais nos mantivermos em nosso núcleo de contatos contínuos (pode ser a família ou quem vive com você), melhor para controlar os riscos de contágio.
Acredito também que esse será um movimento natural depois de tanto tempo em quarentena. Quem não está com saudades de caminhar nas areias fofas de uma praia, tomar aquele banho gelado e forte de uma cachoeira ou simplesmente caminhar livremente em meio ao verde?
Tendências no Turismo Pós Pandemia: Carro e Motorhome
Em conexão com os primeiros tópicos, imagino mais essa tendência, a das viagens de carro e motorhome.
Antes de mais nada, para garantir maior distanciamento social, afinal de carro viajamos somente em contato com as pessoas mais próximas. O motorhome permite ainda maior isolamento, pois também serve de hospedagem e cozinha próprios.
E se estaremos com orçamento menor para viagens aéreas, também com menos opções de rotas e procurando viagens mais regionais, é normal que as viagens de carro fiquem mais frequentes.
O que é legal é que os carros nos deixam com uma enorme flexibilidade, especialmente para quem vai explorar as belezas naturais, que muitas vezes ficam mais escondidas.
Numa viagem de carro de alguns dias, por exemplo, dá para explorar um trecho dos circuito das águas no sul de Minas, com paradas em São Lourenço, Aiuruoca e São Tomé das Letras, todas deliciosas cidades para aproveitar a vida ao ar livre. Também dá para curtir o circuito Cunha-Paraty, entre parques, lavandas, cachoeiras e praias. Cito essas, que são rotas mais próximas para mim, mas as opções são inúmeras, por todo o Brasil!
Já os motorhomes ainda não são tão populares por aqui, mas nos países em que as pessoas estão mais acostumadas a fazer esse tipo de viagem, como os Estados Unidos e a África do Sul, já se vislumbra uma preferência por essa modalidade frente à outras.
Nos EUA os parques nacionais, que são muito numerosos, tem reaberto parcialmente, atendendo justamente essa demanda por espaços abertos, de natureza e com distanciamento social. O movimento ainda é pequeno, mas o que se vê é justamente famílias explorando com seus motorhomes!
Quem sabe essa tendência não fique mais forte aqui no Brasil também? Aproveite para ver esse roteiro de motorhome no oeste americano do Ideias na Mala e babar!
Tendências no Turismo Pós Pandemia: Experiências Conscientes
A pandemia de coronavírus certamente trouxe muitas reflexões. É possível que muitas pessoas tenham mudado sua consciência sobre a importância das coisas e isso inclui a forma como fazemos turismo. E outras pessoas provavelmente não mudaram nada, claro.
Mas acredito que o turismo não voltará igual, ainda que a gente tente voltar a nossa vida ao que era antes. Esta crise não foi a primeira e nem será a última atravessada pelo turismo, mas é intensa o suficiente para promover mudanças.
Certamente todos os trabalhadores do turismo, hoje, estão repensando seu trabalho, procurando soluções para continuar no mercado, olhando novas formas de existir.
O turismo massivo, agora, é impensável. Não adianta esperar que a quarentena seja flexibilizada e suspensa e que logo comecem a voltar os grupos de turismo ou que uma atração possa continuar recebendo o máximo de sua capacidade sem controle.
Imagino que destinos que vivem quase exclusivamente de turismo precisem fazer um retorno às origens. Como sobreviviam antes de se tornarem um pólo turístico? Será que o domínio dessa atividade fez somente bem? Será que não estariam neste momento mais preparados para uma crise como essa se mantivessem outras atividades características do local? Ou se estivessem unidos, se apoiando?
O turismo, como sabemos, é fonte de renda, de desenvolvimento e até de preservação, mas tem um lado nocivo, normalmente reforçados pela ganância e pela ilusão.
Acredito que estamos compreendendo melhor a importância do meio ambiente, a importância do pequeno produtor alimentar, a importância das trocas no comércio local. Como em todo o resto, o mundo encolheu e é hora de apoiarmos os pequenos e próximos, preservando nossos bens mais essenciais para sobrevivência que são a natureza, a saúde e o sentido de comunidade.
Nesse sentido, imagino que cresça no turismo pós-pandemia a busca por experiências ao invés de somente um conhecimento fugaz e para fotos bonitas.
Participei do podcast De Casa Para Você, da Luciana Priami (ouça aqui) e dei o exemplo da gastronomia, que acho ótimo para ilustrar essa possível mudança.
Acho que não tem ninguém que não goste de comer bem, certo? O turismo gastronômico já é fortíssimo e claro, em qualquer modalidade turística, restaurantes são uma parte importantíssima de qualquer viagem.
Mas a pandemia aflorou o prazer de cozinhar, de compartilhar as refeições e as receitas com as pessoas queridas. Até eu que nem gosto de cozinhar andei anotando umas receitinhas que amigos postaram nas redes sociais!
Isso mudou um pouco o foco. É possível que as pessoas não queiram apenas sentar e comer um bom prato. Talvez, ao viajar, elas prefiram uma experiência mais profunda como conhecer o processo de um prato regional, desde a horta até o prato, levando para casa uma nova receita cheia de lembranças que farão daquele um novo prato especial nas suas casas.
Algumas das minhas memórias de viagens mais intensas e frequentes são justamente sabores que experimentei e que me surpreenderam, pratos que foram preparados por pessoas dos mais diferentes lugares como Butão, Irã, Romênia e Japão e que eu nunca vou esquecer. Já fiz até aula de culinária indiana para poder continuar comendo as delícias que comi por lá!
Esse é um aspecto, mas existem tantos outros! As viagens mais espiritualizadas ou voltadas para nosso interior que já vinham numa crescente, também devem aumentar. Temos que soltar as emoções e a criatividade para esses novos caminhos.
O turismo consciente também deve aumentar, ainda que em menor escala, já que é normal que a consciência nasça e cresça em diferentes momentos para cada um. Mas houve uma acentuação desse despertar coletivo e, como já falei, precisaremos nos voltar ao que realmente importa com regionalismo e vivências mais profundas.
Esse post da Luísa do Janelas Abertas é um ótimo ponto de partida para essas reflexões! Como podemos pensar nas comunidades mais vulneráveis e ajudá-los a desenvolver um turismo sustentável? O que podemos aprender naquele lugar? Como nossa presença pode não ser nociva?
Será normal, portanto, que no turismo o movimento também seja mais consciente e mais preocupado com seus impactos, tanto local quanto globalmente.
Equilíbrio é e sempre será a chave.
Enquanto isso, fique em casa, se cuide. Adie as viagens mais um pouquinho!
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