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Turismo no Interior do Tibet – Shigatse e a estrada

Turismo no Tibet vai além da capital Lhasa e das montanhas famosas como o Everest. Na verdade o plateau tibetano tem milhares de lugares para fazer turismo no interior do Tibet, com paisagens lindas e cidades simpáticas, como Shigatse. É sobre as atrações dessa cidade, seus mosteiros tibetanos e todo o trajeto de Lhasa até Shigatse que vou falar aqui nesse post.

Shigatse é uma cidade que fica há 270kms de Lhasa, mais ou menos 4hs de carro, e é até meio grande, embora já no interior do Tibet. Fica no caminho para o Monte Kailash e para o Everest, lugares de peregrinação e escalada, como já contei nos posts anteriores e tem bastante movimento de peregrinos tibetanos, indianos e de turistas, que lotam os hotéis e restaurantes.

Turismo no Tibet e interior vale a pena: vista do trajeto entre Lhasa, a capital do Tibet, e Shigatse, no interior.

Quando você contratar a sua agência, eles vão obter a sua autorização para circular pelo Tibet e nela vai estar escrito os lugares que vai visitar. Se você for à Shigatse, vai passar por postos de controle no caminho,  mas você não precisa fazer nada, o guia mostra a autorização, carimba e segue viagem.

Peregrina tibetana depois de prestar homenagens ao Yamdrok Lake, um dos lagos sagrados do budismo tibetano. O Turismo no Tibet é incrível, tanto em Lhasa quanto no interior.

Eu sentadinha lá no topo do mundo! Turismo no Tibet é fantástico!

Dê uma olhadinha também nos nossos outros posts sobre turismo no Tibet:

Como ir para o Tibet – Passo a Passo

Turismo no Tibet – Roteiros de viagem pelo Budismo Tibetano

O que Fazer em Lhasa

Culinária Tibetana e Onde Comer em Lhasa

Trajeto de Lhasa à Shigatse – Turismo no Tibet

O mais lindo de ir até Shigatse é o trajeto. Nós fomos de carro, com nosso motorista e guia incluídos no nosso pacote. Já contei nesse post que não é possível fazer turismo independente no Tibet e que você vai precisar de uma agência, inclusive recomendo muito a que usamos.

A estrada entre uma cidade e outra é ótima e você só precisa apreciar o caminho, que vai serpenteando montanhas, rios, lagos e te deslumbrando a cada curva. Nesse caminho você vai passar por 2 importantes pontos naturais, o Yamdrok Tso, um lago de águas azul celeste, coisa mais linda do mundo, e o Karola Glacier, um glaciar literalmente no meio da estrada.

A vista sensacional que se tem da estrada entre Lhasa e Shigatse quando se faz turismo no Tibet.

Um trecho da estrada para ir de Lhasa até Shigatse. Nem faz curva, viu?

Essas duas paradas são de belezas naturais incríveis e nessa hora é importante estar com uma agência legal. Explico. Nosso carro parou sempre um pouquinho fora das paradas oficiais, garantindo tranquilidade. Pudemos curtir os lugares sozinhos, não tinham vendedores, ninguém forçando a barra para nada. Não que o Tibet esteja lotado de turistas, é claro que se você já esteve, por exemplo, na Tailândia, vai achar ridículo eu estar falando isso. Mas sim, tinham vans e ônibus, principalmente de turistas chineses que eram altamente incentivados a comprar tudo que viam na frente e rolava um certo auê. Prefiro a paz.

Yamdrok Tso ou Yamdrok Lake ou Lago Yamdrok

O Yamdrok Tso é um dos 4 lagos mais sagrados do Tibet e é só olhar para ele que você entende porquê. Nada com uma cor daquelas pode ser menos que divino. E olha que pegamos um dia encoberto que diminuiu bem a beleza cênica do lugar!

Como no Tibet você não dá um passo sem tropeçar em mistérios, aqui também tem. Reza a lenda que esse lago, de 75kms, é a materialização de uma deusa. Na verdade, o budismo tibetano vincula bastante as montanhas ao homem e os lagos às mulheres e os reverenciam como uma parte do próprio “Espírito” do Tibet. O lago é visto mais como o feminino, a mãe, e por isso não deve nunca ser violado. É um lugar de peregrinação bastante importante.  Os outros lagos sagrados são o Namtso Lake,  o Lake Manasarovar e o Qinghai Lake, em outras regiões.

Mais um pouquinho das cores maravilhosas do Lago Sagrado Yamdrok Lake no caminho entre Lhasa e Shigatse.

No Tibet até as estradas são repletas de bandeirinhas de oração. É só passar por baixo pra receber um pouco de amor!

Vista das cores maravilhosas do Lago Sagrado Yamdrok Lake no caminho entre Lhasa e Shigatse. Uma das maravilhas do turismo no Tibet!

É curioso, quando você está lá, pensar como é que tem tudo aquilo de água porque tudo em volta parece muito seco e você está há mais de 4000m de altitude. A água do lago vem de várias pequenas nascentes e também do derretimento do gelo do inverno. E dizem que o Tibet possui uma das maiores reservas de nascente de água do mundo e vem de lá a água que abastece diferentes rios da Ásia como o Yellow River, o Mekong e o Brahmaputra, entre outros. Essa água abastece não apenas o Tibet, mas parte da China e de todos os países em volta como Mongólia, Índia, Bangladesh, Tailândia, Vietnã, Lao, Camboja, Myanmar, Paquistão, Butão e Nepal.  Isso não parece um bom motivo para governar a região?

No entorno do lago tem vários pontos para você parar e apreciar a vista, alguns na borda do lago, outros no topo da montanha, tudo lindo. Na borda do lago ficam alguns yaks que você pode alugar para dar uma voltinha (eu, never!) e se tirar foto os donos vem te pedir dinheiro. Também tem vendedores de artesanatos. Já no topo da montanha além dos yaks e do artesanato tem uns donos de uns cachorros gigantes que ficam lá para você tirar foto por um precinho camarada. Eu não sei qual é a raça daqueles cachorrões – acho que são Mastiffs – mas como achei eles meio tristonhos lá plantados no meio da estrada e não curto essas “atrações” com animais, não participei.

Karola Glacier

Já o Karola Glacier é um glaciar de 300m. Além de ver aquele gelo todo logo ali na beira da estrada, os picos das montanhas por toda a volta fazem um cenário bem bonito para algumas fotos. Mais uma vez, não paramos junto com os vendedores e ficamos sozinhos lá curtindo a vista.

O Karola Glaciar, bem no meio da estrada entre Lhasa e Shigatse. Parada de quem faz turismo no Tibet.

Karola Glaciar entre Lhasa e Shigatse. Veja os veios de água descendo….

Passadas as belezas naturais o tour vai voltar para o budismo tibetano e você vai visitar alguns monastérios. Você sabe, aliás, o que significa monastério?

Significado de Monastério – Budismo Tibetano

Um monastério é o lugar onde vivem os monges ou monjas, praticando a religião e trabalhando. Normalmente ficam em regiões afastadas das cidades, que propiciam uma certa reclusão. No Tibet qualquer monastério é um lugar muito especial, pois no budismo tibetano os monges se dedicam a estudos profundos do budismo, do tantra, do místico e ainda de política, uma vez que o Tibet era, até a invasão chinesa nos anos 50, governado pelo Dalai Lama. Até hoje a religião é o que move a região. Além disso, toda a família tibetana tinha como hábito enviar pelo menos um membro da família para ajudar no carma geral.

Um dos templos budistas em Shigatse, no TashiLumpo Monastery.

Por tudo isso, os monastérios tibetanos sempre foram grandes, com capacidade de abrigar 3, 4, 5, 6 mil monges. Eu li em algum lugar – que não consegui encontrar mais – uma pessoa comentando que o que mais a impressionou nos monastérios tibetanos era a sua “emptiness” ou o tanto que estavam vazios. E é verdade. Hoje os monastérios são bastante controlados para evitar novos conflitos relacionados ao governo e ao Dalai Lama e possuem vagas limitadas a centenas em cada um. Naqueles prédios imeeeeensos, nem 600 monges conseguem causar uma impressão de muvuca. Além disso, o Tibet também devia seguir a legislação chinesa que limitava o número de filhos por casal, o que foi outra contribuição para a queda no número de novos monges.

Sapatos de monges em Shigatse.

Um detalhe “curioso”. Eu quase matei um homem do coração num monastério quando perguntei se a foto do Panchen Lama criança que estava no altar era do atual Panchen Lama ou do antigo Panchen Lama. O cara ficou roxo e disse que era do “único” e depois me disse, já na rua, que não se deve nunca falar dessas coisas nesses lugares, porque havia muito controle.

Eu quase me enfiei num buraco, porque nunca quis causar confusão. Na verdade a história do sumiço do Panchen Lama há anos e da substituição por um novo não é exatamente segredo, mas eu obviamente não percebi que na verdade não se deve falar nunca, nem para satisfazer uma curiosidade bem simples sobre quem você está olhando, sobre um assunto tabu. Fica a dica. Ah, e lembrando que falar no Dalai Lama ou portar fotos do Dalai Lama é crime, não leve nem aquele livro com ele sorridente na capa para evitar problemas.

Gyantse Monastery ou Gyantse Kumbum

Saindo um pouco de Shigatse, você vai fazer uma parada obrigatória no Gyantse Monastery. Esse lugar tem o formato de uma mandala, um negócio muito louco.

Eu sei, você está ai imaginando uma mandala redonda com uns desenhos de florzinhas dentro, mas lá no Tibet as mandalas são desenhos mega complexos, cheios de significados e camadas que formam, dentro do círculo, quadrados com um formato meio piramidal. Esse monastério é um mandala em 4D, uma versão que sai para fora do desenho. Uma coisa que é difícil traduzir em palavras, e imagino que você não deve estar entendendo bem. Tente ver nessas fotos. Mas assim, você só vai entender mesmo estando lá.

O prédio em forma de mandala do Gyantse Monastery, um dos mais lindo do budismo tibetano, que fica em Shigatse.

Monges pintando mandala no Gyantse Monastery, em Shigatse.

Outro tipo de mandala típica do budismo tibetano.

Dentro do prédio em forma de mandala você pode ver mandalas em diversas fases, desenhadas, pintadas e já em forma de escultura, para entender o processo. Foi lá também que vimos os monges pintando as mandalas no chão com areia. Nos explicaram que aquele processo delicadíssimo, super bonito e que estava ocupando uns 50 monges era feito 2 vezes por ano e que depois de terminadas, as mandalas ficavam ali por uma noite e depois eram varridas, significando a eterna impermanência de tudo. Quase chorei de pensar que iam varrer aquilo, mas encarando pelo lado positivo, se tudo é impermanente, não há bem que nunca acabe e nem mal que sempre dure, certo? ;)

Depois você pode visitar várias pequenas “capelas”, vai rever todas as Taras (umas divindades) e subir até o topo, que tem uma vista lindíssima. Não esqueça de andar no sentido horário, fazendo a kora!

Peregrino girando as rodas de oração durante a kora no Gyantse Monastery, em Shigatse.

Vista do topo do Gyantse Monastery, em Shigatse.

Tashilunpo Monastery ou Tashi Lunpo

Sua outra parada será em outro monastério, o Tashilunpo.

Esse lugar é bem lindo e tem muitos, muitos peregrinos do interior do Tibet, pois é onde ficam as estupas com os restos mortais de vários Panchen Lama, uma figura muito importante no budismo tibetano. Também foi um dos menos destruídos pelos chineses e tem várias pinturas e esculturas bem bonitos, além de ser um dos monastérios mais habitados.

Também foi nesse monastério que fomos apresentados ao sistema funerário tibetano. Nem sei porque esse assunto surgiu, mas descobrimos que no Tibet os corpos são levados aos topo das montanhas e deixados lá para que sirvam de alimento de uns pássaros gigantes que são um misto de falcão e urubu. Além de evitar a dificuldade de enterrar em solo pedregoso e de cremar em pleno inverno, a ideia do budismo tibetano é de que nenhuma morte seja em vão, portanto o corpo segue seu fluxo, alimentando os animais que dele precisam e voltando à terra. Eu não vou entrar em outros detalhes que nos deram, mas confesso que achei meio chocante. Tipo mais chocante do que as cremações na Índia e no Nepal e olha que tenho “detalhes curiosos” para contar sobre esses lugares. Mas cada lugar tem sua cultura e a nós só cabe a benção do conhecimento. Só te aconselho a NÃO digitar “sky burial” no google. Se você fizer, será por sua conta e risco, não me venha reclamar.

Tashilumpo Monastery em Shigatse.

Interior do Tashilumpo Manostery em Shigatse.

Peregrinas no Tashilumpo Monastery, em Shigatse.

Nós no Tashilumpo Monastery num dia lindo de sol!

Ganden Monastery e Drak Yerpa Caves

Esse monastério na verdade não é em Shigatse, mas é no interior, mais próximo de Lhasa e também vale a visita.

O Ganden é um dos monastérios mais antigos do Tibet, lá dos idos dos anos 1400 e sua construção é bem impressionante, no alto de um morro, é bem gigante!

Você vai ver alguns altares e vai fazer a kora pela montanha com uma vista linda de morrer! Uma caminhada fácil e maravilhosa.

Nós durante a kora pela montanha no Ganden Monastery.

Gabriel quase engolido pelas bandeiras de orações na kora pelas montanhas!

Paisagem da kora pelo Ganden Monastery.

O “pequeno”Ganden Monastery, no alto da montanha.

As Drak Yerpa ou Yerpa Caves são cavernas de meditação, hoje cercadas de templos. É um lugar diferente do Ganden, mas a visita é feita uma seguida da outra. São lugares cheios de histórias e peregrinos, com uma energia incrível e só de pensar em como encontraram aqueles lugares e construíram tudo aquilo ali já tira o fôlego.

Gente, pode ir, o Tibet é demais, tem vários lugares para visitar, coisas para aprender e, como eu já disse várias vezes, o povo é surreal de fofo!

Um dos templos em Drak Yerpa, construído ao redor das cavernas de meditação.

Montanha fumegante em Drak Yerpa. Belezas da natureza tibetana.

Para fechar, queria apenas deixar uma observação. Não sei se você já ouviu falar do “problema do banheiro na China“. Essa é uma reclamação constante dos viajantes pela China, a de que os banheiros são  sujos e sem portas e como se não bastasse, quase sempre são apenas aquele modelo asiático, com o buraco no chão. Honestamente, eu não achei tão problemático. Vai ver que as coisas mudaram um pouco, mas pelo menos porta tinha na maioria dos lugares.

Porém, aqui no interior do Tibet eu achei é pouco o tanto que reclamaram e não sou das mais fresconas, sou das que passam carnaval de rua no Rio desde 2005, quando a prefeitura nem cogitava colocar banheiro químico! Mas os banheiros nesses locais de visitação, sejam os monastérios ou os naturais, eram simplesmente inutilizáveis. Eu tinha vontade de tomar banho de ácool em gel depois de passar por eles. Cheguei a pagar para usar um e voltar da porta, sem coragem de entrar, bizarro. Fiquei com a nítida impressão de que é algo proposital. As portas, por exemplo, estavam lá, mas arrancadas do lugar. As torneiras nunca tinham água. E assim vai.

To contando isso não para você se desencorajar, tudo tem solução! Mas se puder: evite tomar muito líquido, vá no banheiro o máximo que puder antes de sair do hotel, ande sempre com lencinhos umedecidos e uma garrafinha de água, segure para ir no banheiro onde parar para almoçar e vá sempre que o guia disser que o banheiro é melhor. Se for ruim, imagine o pior… E em último caso, se liberte e vá embaixo da ponte no meio da estrada. Pelo menos o ar será puro!

Não aguento e vou ter que deixar mais umas fotos aqui…

Dentro do Gyantse Monastery, em Shigatse. O budismo tibetano é encantador!

Yak todo arrumadinho para foto a beira do lago Yamdrok no caminho entre Lhasa e Tibet. Turismo no interior do Tibet é uma viagem pela natureza e pelo budismo tibetano.

Porta de um dos templos em Drak Yerpa, no interior do Tibet.

Se animou? Vai pro Tibet que será lindo demais!!!

Não esqueça de dar uma olhada nos nossos outros posts sobre o Tibet, que vão te ajudar em todo o planejamento de viagem:

Como ir para o Tibet – Passo a Passo

Turismo no Tibet – Roteiros de viagem pelo Budismo Tibetano

O que Fazer em Lhasa

Culinária Tibetana e Onde Comer em Lhasa

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