O turismo no Tibet pode parecer meio complicado já que é bastante controlado pelo governo chinês, mas eu garanto que dá para montar um roteiro de viagem incrível por lá tanto para conhecer a história, arquitetura e natureza típicas quanto para saber mais sobre o budismo tibetano, que é bem lindo.
Eu já contei aqui nesse post que para visitar o Tibet é necessário tirar o visto para a China e ainda uma permissão especial para entrar no Tibet, que só é possível por meio de uma agência. Turismo independente infelizmente não rola. Dá uma olhadinha lá que recomendo uma agência tibetana maravilhosa e dou todo o beabá dessa parte meio burocrática.
Nesse post vou contar como foi nosso roteiro, nosso amor por Lhasa, a capital do Tibet, e ainda dar umas outras sugestões de roteiro. Vem junto!
1- Como montar um roteiro de viagem pelo Tibet
O Tibet é uma região cuja história tem mais de 2000 anos, é o berço do budismo tibetano, já foi independente e hoje é uma província anexada pela China. É gigante, tem mais de 1mi de km2s de extensão e fica bem no centro da Ásia. É conhecido como “teto do mundo” porque fica quase todo acima de 4000 metros de altitude.
Por essas características, o turismo no Tibet é baseado em 3 fatores: religião, história/cultura local e natureza, já que o plateau tibetano tem paisagens de tirar o fôlego e algumas das montanhas mais lindas e altas do mundo. Se você decidir ir para lá, precisa ter interesse nisso e, se um desses fatores te interessar mais do que outro, escolher que lugares visitar para deixar sua estada mais interessante, considerando ainda o tempo que você terá disponível.
Independentemente da quantidade de dias e dos lugares que vai visitar, considero que a capital do Tibet, Lhasa, é uma parada obrigatória por no mínimo 2 dias inteiros. Ali você já consegue ter uma boa ideia de como é a vida dos tibetanos, também vai conhecer a história política e ter uma forte impressão, além, claro, de muitas explicações sobre o budismo tibetano. É o centro de tudo, onde você encontrará tibetanos das mais variadas regiões e etnias e vai ver a força da fé, que é MUITO incrível. Muito mesmo. Lhasa é apaixonante.
Para qualquer roteiro de viagem, o ideal é ficar em Lhasa 4 dias, considerando um para chegar e descansar um pouco, afinal a altitude pode causar mal estar e muito cansaço (e provavelmente você terá viajado muitas horas), 2 dias para passear e o dia de retorno, já que quase todos os vôos são pela manhã ou começo da tarde.
2- Roteiro Cultural e Budismo Tibetano
Se você se interessa mais pela parte cultural e religiosa, além dos dias na capital do Tibet, pode continuar seu roteiro indo de Lhasa para Shigatse, passando por lagos, glaciares e visitando monastérios gigantes encravados nas montanhas que são um verdadeiro espetáculo. Não tem como desassociar a religião da história e cultura uma vez que até a ocupação chinesa em 1949 o líder religioso – Dalai Lama – era o líder político da região e assim muitos tibetanos acreditam que deveria ser até hoje. Está tudo junto e misturado e assim sempre será.
Esse foi o roteiro de viagem que nós escolhemos. Nosso estilo de viagem sempre prioriza mergulhos na cultua local, em questões sociológicas e antropológicas, e tínhamos muito interesse em saber mais sobre o budismo tibetano e em como ele afeta a vida das pessoas que moram nessa região. Apesar de amarmos natureza e trekking, tínhamos acabado de voltar do Everest Base Camp pelo lado nepalês (clique aqui e saiba tudo sobre esse trekking!) e estávamos honestamente ainda um pouco cansados, então optamos por economizar um pouco e deixar as montanhas para outra ocasião, que certamente virá!
Nosso roteiro de 7 dias no Tibet incluía:
Dia 1: Chegada e tarde livre para andar por Lhasa e aclimatar aos mais de 3000m de altitude;
Dia 2: Em Lhasa com visita aos palácios de inverno e verão;
Dia 3: Em Lhasa visitando monastérios;
Dia 4: Ida para Shigatse passando pelo lago sagrado e glaciares e pernoite em Shigatse;
Dia 5: Visita aos templos de Gyantse e retorno para Lhasa;
Dia 6: Dia no leste de Lhasa, visitando monastérios nas monatnhas;
Dia 7: Manhã livre e partida.
Como vocês podem imaginar, a gente ouviu sobre budismo tibetano até não poder mais. Apesar das conversas dentro dos monastérios serem um “pouco restritas” e do fluxo de informações ser um pouco comprometido pelas orientações do governo, dá para sair de lá com muita bagagem e, principalmente, com muita coisa para pensar (e também com muitas repetições, confesso). Nós aproveitamos para observar o povo, os costumes budistas e, enfim, conhecer novos pontos de vista e ideias.
Nós amamos e só mudaríamos alguma coisa se fosse viável acampar em alguma das lindas paisagens pelas quais passamos (muito complicado) ou ir para outras cidades longíquas (muito caro para nós na época). Esses períodos livres em Lhasa foram bem legais para nossas habituais caminhadas para conhecer melhor a cidade, não deixe muito apertado o roteiro!
Se você não se interessa tanto pelo budismo tibetano, ou se te irrita ouvir umas 100 vezes sobre a White Tara, as escolas do budismo tibetano e, enfim, esse tipo de coisa, pode optar por mais natureza ou diminuir um dia em Lhasa ou trocar a visita a alguns monastérios por mais tempo na região das montanhas. Só não esqueça de decidir isso antes de ir, pois você precisa de autorização para ir de uma região para outra e o guia vai ter que parar e mostrar todos os documentos nos check points, então é meio difícil mudar de ideia no meio do caminho. Todo o seu roteiro vai estar especificado na permissão de entrada.
Dificilmente você vai conseguir uma imersão no budismo de um jeito mais intenso. Os monastérios são bastante controlados, não aceitam hóspedes, os monges não podem ficar muito de papo nem te chamar para uma conversa franca e obviamente eles não estão abertos para cursos ou algo do gênero. Se você quer esse tipo de vivência, infelizmente terá que ir para a Índia.
Se, por outro lado, você quiser conhecer outros monastérios ou outras comunidades tibetanas – como eu disse, o Tibet é enorme e cada pedaço tem um povo, uma paisagem e costumes, certamente poderá contratar outras opções com a sua agência. Acho que o roteiro básico e as variações que as agências oferecem facilitam a obtenção da permissão de entrada, mas a agência vai te ajudar tudo e dar as melhores opções fora do comum, mas veja tudo com a máxima antecedência possível. Não se esqueça de escolher uma boa agência, pontual, com guias que falem bem inglês, tenham bons carros e parcerias com hotéis legais. Como já disse no post anterior, o ideal é contratar uma agência tibetana, que além de contratar guias tibetanos, te leva para hotéis de tibetanos, restaurantes de tibetanos, lojas de tibetanos e no fim é para isso que você atravessou o mundo, certo? Eu recomendo a Tibetan Guide, com a qual fomos, de olhos fechados. Algumas opções são Shannan e Ningchi. Pergunte ao seu guia e ele certamente terá outras sugestões além dessas. Só lembre-se que as distâncias são bem grandes e que podem haver dificuldades fora das cidades maiores de Lhasa e Shigatse. Digo isso pensando nas condições dos banheiros nos locais públicos do Tibet que eram, para dizer o mínimo, difíceis.
Por fim, o Tibet tem vários festivais durante o ano. O mais famoso e movimentado é o Saga Dawa, que acontece em junho. Nós estivemos lá pouco antes e o movimento de peregrinos já era intenso. Não ficamos para o festival, mas um amigo que participou dos 14 dias de festas, disse que foi um espetáculo de fé. Só que nesse período as coisas ficam com preços bem mais salgados, como era de se esperar mesmo.
3) Roteiro de Natureza e Aventura no Tibet
Além dos lugares que já indiquei, você pode seguir para Gyantse e fazer trekkings, chegar ao base camp do Everest ou do Mont Kailash.
Como é possível chegar ao Everest Base Camp tibetano de carro, essa aventura é bem viável até para quem não quer caminhar. Tenha em mente que nem sempre é possível ver o Everest, que passa boa parte do tempo encoberto e que lá no meio do nada da montanha as condições de hospedagem/banho e comida podem ficar mais roots. Aventura, né? Veja aqui como foi a ida da Renata do Notícias do Mundo de Lá.
Existem roteiros de 8 dias que vão até o Everest e não são caros, embora sejam meio corridos. A Alessandra, do Tô Pensando em Viajar tem outro ótimo relato sobre esse roteiro aqui. E ainda roteiros entre 10 e 16 dias que vão ao Everest e ao Mont Kailash. Gente, tenham claro que estou falando da base e não do topo das montanhas, ok? Para subir (ao Everest), você precisará se juntar a uma expedição, algo bem mais complexo e que exige preparo.
Também existe a opção de fazer a kora no Kailash, uma caminhada de 3 dias acima de 5000m de altitude. A kora é a volta em sentido horário que os budistas dão em torno de templos e lugares sagrados por acreditarem ser um sinal de que segue os ensinamentos de Buda (e não o próprio Buda).
Toda a natureza é sagrada no Tibet e os budistas tibetanos praticam vários rituais relacionados aos rios, lagos e, claro, às montanhas. A coisa é tão séria, especialmente no Kailash, que fica na fronteira com a Índia e o Nepal e é muito reverenciado como centro do mundo tanto pelos budistas, quanto pelos hinduistas e jainistas, que alguns peregrinos tibetanos fazem a kora em prostração, ou seja, se agachando e deitando com pés, joelhos, peito, braços, queixo, nariz e testa no chão, seguido de levantar, andar até a altura onde a cabeça deitou e começar de novo. Já pensou? Nesse roteiro você vai encontrar muitos grupos de indianos prestando suas homenagens. Deixo aqui esse texto super curioso relacionando a kora com a nossa política, que achei um belo relato de viagem e como elas mexem com a nossa forma de ver o mundo para sempre.
Existem várias lendas envolvendo essas montanhas tão misteriosas para nós humanos. Uma delas é de que os peregrinos deveriam dar 108 voltas em torno do Kailash para alcançar uma espécie de sorte ou carma positivo. Enfim, como eu já sai muito do tema do post, que é o turismo no Tibet, vou deixar para você pesquisar sobre o significa do 108 que aparece tanto no budismo e como burlar a regra. É, tem isso também, rá-rá. Mas vou deixar aqui esse ótimo relato do Arthur Veríssimo na Trip para você se animar e descobrir mais umas coisas.
Outras opções: Trekking de 4 dias entre o lindo Ganden Monastery e Samy; trekking de 3 dias entre Tsurphu e Yangachen e por último, mas não menos emocionante, ir de Lhasa à Kathmandu pela Rodovia da Amizade, se você for desses, de moto. Veja aqui um relato dessa viagem. Quando estivemos lá em 2017, a estrada estava fechada supostamente por danos causados pelo terremoto em 2015 e, do Nepal para lá é subida, muito mais complexa.
4) Opções de roteiro pelo Tibet e hotéis
Resumindo tudo, algumas opções de roteiro são as seguintes:
4 dias: somente em Lhasa
5/7 dias: Lhasa e Shigatse
8/10 dias: Lhasa, Shigatse e trekking de Ganden para Samye ou pernoite no Namtso Lake ou visita ao Everest Base Camp
15 dias: mesma opção de 10 dias + Mount Kailash
16 dias: mesma opção de 10 dias + Saga Dawa em junho
20 dias: qualquer das opções acima + outros trekkings ou outras regiões do Tibet
Com isso você já consegue ter uma boa ideia para montar seu roteiro e discutir as opções com a sua agência. Em geral, os custos de um tour pelo Tibet vão ficar em torno de USD 100 por dia por pessoa e não incluem refeições nem os custos com visto (veja o post sobre o visto e permissão). É um pouco alto, mas vale cada centavo só pela experiência, sem falar que todo o tour inclui bons hotéis, guias e carros para te levar para todo lado. A gente que estava no meio de um mochilão super muquirana, se sentiu muito rico e mimado, passeando de motorista e ficando nuns hotéis lindos e com café da manhã super farto!
Para te ajudar a escolher entre as opções das agências, em Lhasa nós ficamos no Shambala Palace Hotel, uma construção milenar típica tibetana transformada num hotel super charmoso, confortável, com boa comida, funcionários simpáticos e no miolinho do bairro antigo. Em outras palavras, uma experiência realmente tibetana, amamos!
Em Shigatse ficamos no Gesar Hotel que era bem maior que o Shambala, com mais cara de hotelzão, como a maioria em Shigatse. Embora não tivesse aquela carinha de casa tibetana que o hotel de Lhasa tinha, o hotel era ótimo, super confortável, bem localizado e com um restaurante delícia.
5) Melhor época para visitar o Tibet
Melhor época para mim é aquela que tem a ver com você. Uns gostam mais de calor, outros mais de frio, uns querem cidade, outros montanha…
Mas resumindo, julho e agosto são os meses chuvosos e suas visitas, muitas vezes em locais a céu aberto, podem ficar comprometidas. Já o inverno, entre novembro e fevereiro, é bastante rigoroso e algumas regiões podem ficar inacessíveis. Não se engane com o sol no Tibet, é super forte e queima muito. Filtro solar o tempo todo! No verão as temperaturas chegam a quase 40 graus, mas durante a noite caem bastante.
Em geral, a época de céu azul e temperaturas agradáveis é entre abril e maio e setembro e outubro e também é a época mais fácil de fazer os trekkings e encarar as montanhas.
Acho que você já tem tudo para montar seu roteiro, certo? Não esqueça de que o turismo independente não é permitido no Tibet e que você precisará de um guia. Aproveite essa viagem linda!
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Está empolgado para conhecer o Tibet? Então comece a planejar seu roteiro de viagem e não esqueça nossas dicas!