Turismo acessível para pessoas com mobilidade reduzida era um pouco desconhecidos para mim, até há alguns dias, quando uma amiga me pediu dicas de agências de viagens especializadas em turismo adaptado. A ideia dela era procurar novos destinos e novas formas de viajar para a mãe, que tem uma dificuldade motora. Depois de 2 recentes viagens em família, minha amiga percebeu que as dificuldades da mãe se intensificaram com o passar do tempo e enquanto o tempo passava, ninguém percebeu que era hora de se adaptar.
Eu, que recentemente rompi um ligamento do pé e percebi que minha própria casa era um obstáculo e tanto, consegui, talvez pela primeira vez, enxergar um pouco as dificuldades e fiquei tocada com a preocupação da minha amiga. Supondo que aquela não fosse uma condição temporária para mim, eu deixaria de viajar? Nunca! E é assim que tem que ser, viajar é para todos!!! Quando envelhecemos ou se por alguma razão nossa condição física muda, não temos que “parar”. Temos apenas que encontrar novos caminhos. E obviamente quem sempre teve problemas de mobilidade não deve jamais ser limitadas a ficar em casa!
Eu já tinha ouvido falar de 2 agências estrangeiras focadas em turismo acessível, mas sei que os custos são altos e que a vida é curta, então decidi ir mais a fundo no tema e procurar quem entenda de acessibilidade para viajantes independentes. Num primeiro momento encontrei um monte de reportagens indicando lugares de turismo adaptado. Legal, já tinha uma boa lista de ideias para minha amiga, mas eu queria mesmo era encontrar relatos reais de pessoas que tem mobilidade reduzida e anda por ai explorando esse mundão. E achei!
Quis compartilhar aqui. Minha ideia é trazer reflexões principalmente para pessoas que começam agora a se deparar com limitações que o corpo muitas vezes impõe à nós ou àqueles ao nosso redor. Mas também quis mostrar que há opções para todo tipo de pessoa com mobilidade reduzida, com conforto e autonomia.
Não sou expert no tema, quero apenas compartilhar alguns aprendizados que tive nessa busca e os links das pessoas maravilhosas que estão por ai dividindo suas experiências e nos ensinando que o mundo é para todos!
Turismo acessível: o mundo é para todos, inclusive para pessoas com mobilidade reduzida!
Dificuldades de Pessoas com Mobilidade Reduzida
Quais as dificuldades enfrentadas por quem não está plenamente capaz de andar? A resposta é simples: todas.
Vou começar pelo meu próprio exemplo. Nos primeiros dias após romper o ligamento, eu sentia uma dor horrível quanto o pé tocava o chão. Como moro num sobrado, era necessário descer e subir as escadas para comer e dormir. Escadas de madeira que pela primeira vez me pareceram absurdamente escorregadias. Nunca agradeci tanto aos antigos moradores por terem instalado corrimãos em tudo.
Nessas horas, a Lei de Murphy se aplica: os tacos da sala começaram a soltar e virar lombadas na minha caminhada, o carteiro veio fazer uma entrega num dia de chuva e por ai vai até eu começar a fisioterapia. O consultório era a 2 quadras de casa, mas o trajeto foi infinitamente mais difícil que todo o trekking para chegar ao campo base do Everest. Eu dava pouca atenção ao estado das calçadas e ruas, mas agora com o pé machucado toda leve inclinação era um suplício e não havia um único meio metro na rua que fosse plano. Me sentia numa montanha russa, desequilibrada, suando do esforço. Decidi sair da calçada e ir pela rua, que estava em melhor estado, mas tinha que desviar dos carros estacionados e alguns carros não faziam qualquer esforço para desviar de mim no trânsito. Cheguei lá 25 minutos depois, já acabada. E assim foi por vários dias.
Você já imaginou como é para uma pessoa idosa andar na minha rua? Para alguém de muletas, de bengala? Para alguém com dores crônicas? Para um deficiente visual? Para um cadeirante? Até um carrinho de bebê tem que ser adaptado para essa selva de pedra!
Turismo acessível para pessoas com mobilidade reduzida.
Durante o carnaval uma amiga estava machucada e foi de cadeira de rodas para um bloco. Estávamos em quatro e percebemos, consternados, a dificuldade que é. Dale degrau no meio da calçada, rampa com inclinação mortal, buraco, raiz de planta, cocô de cachorro, lixo que escorrega. O mundo terrestre é um mar de obstáculos! E o mundo humano também, porque as pessoas simplesmente não veem o cadeirante. Tivemos que fazer um esforço conjunto para abrir caminho e simplesmente andar para frente.
Imagine ainda as dificuldades de uma pessoa com mobilidade reduzida com as mãos ocupadas, sob chuva, diante de portas minúsculas, mesas baixas demais ou altas demais, ruas sem lugar para estacionar, sem calçada adaptada, prédios sem elevador, prateleiras de supermercado muita acima dos braços…
Estou falando de São Paulo, mas sei que a situação é a mesma na maior parte do Brasil e do mundo. Mas não vale a pena desanimar, existem cidades bem melhor preparadas, como Barcelona, que se transformou para as Olimpíadas de 92. O Turismo acessível está cada dia mais mostrando sua importância e se desenvolvendo para melhorar a vida das pessoas com mobilidade reduzida.
Opções de Turismo Acessível para Pessoas com Mobilidade Reduzida
Algumas cidades são mundialmente reconhecidas pelo turismo acessível, facilitando a vida das pessoas com mobilidade reduzida. Esse texto da CI, por exemplo, aponta Seatle, Las Vegas, Londres e Montreal como as cidades com melhor estrutura, além de levar para o relato de uma viajante cadeirante que foi fazer um curso de línguas em Boston. Legal, né?
Já este texto do site Turismo Adaptado aponta as cidades européias premiadas pela acessibilidade e são muitas! Há várias opções para planejar a próxima viagem, como por exemplo Berlim e Milão!
Uma agência que vem fazendo um trabalho impressionante é a Wheel the World. Eles tem montado vários pacotes de viagem para cadeirantes, mas sem deixar de lado destinos naturais e de aventura. O destaque deles é o que leva à íngreme e cheia de escadas Machu Picchu, um sucesso absoluto!
Turismo acessível pela Wheel te World.
Foto: divulgação.
Aqui no Brasil, alguns destinos se destacam no turismo acessível, como Socorro, que é conhecida pelo turismo de aventura, mas já tem quase todas as suas atividades adaptadas para pessoas com mobilidade reduzida. O Hotel Fazenda Parque dos Sonhos e o Parque Monjolinho são referências na cidade! Veja ainda esse post com trilhas acessíveis aqui em São Paulo!
Outro lugar que vem se destacando em turismo acessível é Foz do Iguaçu, que possui alguns roteiros adaptados. A existência de roteiro adaptado, aliás, é a razão para que muitas cidades sejam apontadas com acessibilidade de qualidade, como Salvador e São Paulo, mas eu tenho minhas dúvidas. Claro que a minha experiência nem é comparável à de qualquer cadeirante ou de uma pessoa com mobilidade reduzida permanente, mas vou partir dela, justamente por ser tão insignificante, para dizer que na minha opinião não há como incluir São Paulo num rol de cidades acessíveis. Eu entendo que há roteiros, que há acessibilidade em ônibus e metrôs, mas andar nas ruas é uma tarefa hercúlea, quase desumana.
Mas como eu já disse acima, não sou expert no assunto e nem acho que listas e prêmios são suficientes para garantir um planejamento de viagem seguro, então vou deixar a indicação desses blogs que trazem relatos de viagens reais sobre o tema, contando como é a acessibilidade dos destinos na prática:
- Cadeira Voadora – Esse ótimo Blog da Laura traz relatos de viagem, dicas práticas de viagem e muitas reflexões. Vale a pena conhecer a história de vida dela e também seguir seus passos viajantes!
- O viajante especial – Esse guia para o cadeirante escrito pela Adriana, que foi a primeira cadeirante a visitar Fernando de Noronha, tem uma extensa lista de destinos testados.
- Destinos Acessíveis – A Amanda dá dicas pra viajar e pra vida e mostra como é a acessibilidade em diversos cantos do Brasil e do Mundo. Mais um ótimo blog de referência.
- Ossos de Pássaro – A Thais é portadora de uma doença delicada e segue desfrutando a vida intensamente, como mostra no seu Instagram. Sigam lá!
- Turismo Adaptado – O blog desse site traz várias notícias, dicas e relatos do mundo todo e é super útil para planejar viagens!
1 – Planeje, Planeje, Planeje
Planejar evita muita dor de cabeça em qualquer viagem, embora seja impossível controlar o universo e algo sempre possa dar errado. Se você tem mobilidade reduzida, ou vai viajar com alguém que tenha, planeje com antecedência (entre 6 e 3 meses) para facilitar a vida e evitar dificuldades que podem ser evitadas como atrasos, hotéis lotados, transporte não adaptado. O turismo acessível ainda está se desenvolvendo, portanto exige um cuidado extra.
Mais do que isso, ter um conhecimento prévio do destino e uma certa organização fazem com que a viagem seja mais segura e com que você tenha bem menos medo que, acredite, é comum até em viajantes experientes quando chegam num lugar novo.
Pense para onde quer ir, pesquise quanto vai custar e se será uma viagem viável para suas necessidades (ou de quem estiver com você), inclusive quanto às estações do ano. Dê aquela revisada na saúde, veja se tem roupas adequadas e uma boa mala com rodinhas de 360 graus para facilitar o deslocamento.
2- Transporte para pessoas com mobilidade reduzida
Transporte Individual: pense em como você vai viajar, se precisará de acompanhante (consulte sempre se há descontos para este) ou de cadeira de rodas, e em caso positivo, se levará uma cadeira manual, elétrica ou scooter. Essas duas últimas não desmontam facilmente, podem se danificar no avião e nem todo destino tem transporte adaptado ou banheiros suficientemente grandes para que caibam.
Transporte coletivo: sempre informe a companhia aérea/rodoviária/ferroviária das suas necessidades com antecedência, para que eles garantam o apoio. Planeje seu transporte sempre com uma boa margem de tempo para que o embarque e o desembarque sejam tranquilos. Mesmo que não seja cadeirante você pode pedir uma cadeira nos aeroportos e estações de trem ou rodoviárias para o transporte até o embarque. Se você for cadeirante, tenha em mente que é padrão que seja o último a desembarcar, portanto você precisa ter esse tempo antes de conexões ou mudança de transportes. Vou deixar aqui esse ótimo post da Laura com dicas para a viagem aérea que eu nunca nem tinha pensado como era para cadeirantes, sendo bem honesta.
Transporte local: em geral, as cidades têm ônibus e metrôs adaptados. Algumas cidades são até bem conhecidas pela excelência deles, então pesquise como funciona para onde está indo. Os aeroportos costumam ter alguma opção de táxi adaptado, mas nem sempre, especialmente na madrugada. Você também pode solicitar um Uber, onde houver, e procurar as categorias de carros com porta malas maiores para a cadeira, como o Select, o Black, o Bag e o Black Bag. Em alguns lugares do mundo existe o Uber Assist, uma categoria pensada em pessoas que precisam de assistência e, portanto, tem motoristas treinados, o que não existe nas demais. Aqui no Brasil ainda não temos essa categoria.
3- Hotéis Adaptados para Pessoas com Mobilidade Reduzida
Atualmente há uma série de ferramentas para reservas de hotéis que facilitam o planejamento da viagem no turismo acessível e a busca por hotéis adaptados.
O Booking.com, por exemplo, tem vários filtros que permitem escolher um hotel mais adequado, como por exemplo: acesso para cadeira de rodas, banheiros com barras de apoio, chuveiro com cadeira adaptada, banheira adaptada, entre outros. Fiquei chocada com o fato de que esses filtros sempre estiveram ali e eu que faço sempre reservas pelo Booking nunca tinha reparado neles. São super importantes!
Reservar vai requerer um certo esforço, porque será necessário solicitar o quarto específico, além de dar uma checada na localização e na avaliação dos hóspedes também, mas há saída e é isso que mais importa. Usemos as ferramentas e busquemos hotéis adaptados e certamente as opções vão aumentar com a procura.
Além disso, o Booking tem milhares de opções com cancelamento gratuito, o que garante que você faça uma reserva para não perder o quarto e, caso após contatos com o hotel perceba que não atende suas necessidades, cancele. Só não perca o prazo de cancelamento!
As opções de filtro do Booking específicas para pessoas com mobilidade reduzida.
4- Programação de Turismo Acessível
Se você quer otimizar sua viagem, tente fazer uma programação dia a dia, considerando os lugares que quer visitar ou o que quer fazer, o tempo gasto com deslocamento e para a visita, restaurantes que quer conhecer considerando que se trata de turismo acessível. Coloque tudo no Google Maps, essa ferramenta maravilhosa que nos ajuda a programar de acordo com a proximidade e até calcular quanto vai custar o transporte.
Compre ingressos com antecedência pela internet, evitando filas e desgastes, faça reservas nos lugares concorridos, se houver algum que queira conhecer.
E sempre, sempre, sempre deixa folgas para imprevistos, para um café vendo a vida passar, para mudar os planos, para aceitar um convite inesperado e descansar se assim seu corpo pedir!
5- Seguro para Pessoas com Mobilidade Reduzida
Não viaje sem seguro! Tudo pode acontecer e estar preparado é um alívio, como já expliquei aqui neste post Seguro Viagem Cobre Doenças, Acidentes e Imprevistos. Leia e veja as dicas para escolher o seguro.
Confira direitinho tudo o que está coberto. Se tiver qualquer dúvida, escreva para a seguradora e pergunte as coberturas, deixando claras suas necessidades.
Não esqueça que seguro viagem não é como um plano de saúde. Ele serve para emergências, mas caso você tenha uma doença crônica ou precise de um tratamento prolongado, pode não haver cobertura ou ser necessário o retorno ao Brasil.
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É isso, espero colaborar um pouco para que mais viajantes saiam pelo mundo e para que tenhamos mais olhares para as pessoas ao nosso redor. <3
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