Eu sempre sonhei em fazer um trekking para o Everest. Andar cheia de roupas coloridas naquela montanha coberta de neve…. Só que não.
O Everest era um lugar tão longe: no mapa, no mundo e nos obstáculos (que eu nem sabia quais eram, mas só de imaginar o tanto que tinha que subir já me sentia cansada), que nunca cogitei dar um pulinho lá.
Só que a gente foi viajando e chegando mais perto dele. Fomos conhecendo pessoas que estiveram lá e, de repente, pareceu tão fácil que quando chegamos no Nepal já estávamos decididos a fazer o trekking para o Everest Base Camp, que dura 12 dias.
Ok que a gente fala em Everest e as pessoas imaginam a gente lá em cima chacoalhando a bandeirinha do Brasil, mas isso é para poucos e certamente não é para molengas. Aqui eu falo só do trekking para o Base Camp que, embora não seja o topo, é longe pra dedéu e fica a 5134m de altitude!
Saiba mais sobre o roteiro do trekking para o Everest Base Camp aqui.
E o resumo é o seguinte: se eu cheguei lá, qualquer ser vivo que não esteja machucado ou doente e não seja 100% sedentário consegue. Eu realmente achava que a pessoa tinha que ter um super preparo físico, milhões de dólares em equipamentos e tudo o mais, mas a maioria era como eu, pessoas que nunca tinham feito um trekking tão longo e que compraram a parafernália – boa parte fake – lá em Kathmandu mesmo.
Ta certo que algumas pessoas acham que o excesso de turismo deu uma estragada nesse trekking para o Everest Base Camp e até nas expedições para o topo no sentido de que ficou meio lotado e meio caro, mas como diz um amigo meu: só você quer conhecer os lugares? Tem que conviver. Em geral as pessoas que curtem trekking são bem tranquilas, querem mesmo é curtir a natureza, sentir vento na cara, então comparado à outros “pontos turísticos”, é bem fácil de levar.
Saiba mais sobre quais roupas e equipamentos levar para o trekking do Everest Base Camp aqui.
E tinha de tudo nesse trekking. Crianças, uma família de indianos com pessoas entre 15 e 71 anos (e a grandmamma chegou lá, viu?), um japonês de 84 anos com grupo de cinegrafistas e tudo, gente de toda idade e tipo físico. Confesso que quando eu via os gordinhos e o pessoal acima dos 40 pensava logo “ihhh, não vão conseguir”. E não me leve a mal, não era exatamente preconceito, é que eu tomava por base a Bruna.
Sim, essa mesma que vos fala e que é meio molenga, não é muito chegada em esportes, que NUNCA utilizou os serviços de uma academia de ginástica, que pratica yoga com frequência duvidosa e que realmente não tinha muita certeza se ia chegar lá no EBC (Everest Base Camp para os íntimos ou preguiçosos).
Acontece que a montanha chama. Eu adoro andar no mato, ficar lá pensando na vida enquanto tomo um ar puro e vejo lindas paisagens e honestamente eu estava muito preparada mentalmente para a possibilidade de eu ter que parar antes de chegar no EBC e começar a voltar. E tudo bem, porque o que eu mais queria era curtir o caminho, andar pelos himalaias, ver montanhas pintadinhas de neve. Eu só não podia comentar muito isso, porque aparentemente eu era a única pessoa que não estava 100% determinada a chegar ao EBC e eu não queria ficar falada na boca pequena.
Eu até tinha feito mentalmente um post contando como era o trekking para o Everest e ele era assim: dia 1 – quase morri, dia 2 – quase morri, dia 3 – quase morri… e quase morri até o fim, que poderia ou não ser no 12o dia. Só que foi muito mais fácil! Muito! A realidade foi assim:
Dia 1 – De boa, sussa. (tirando o vôo para Lukla, que foi o mais assustador da minha existência)
Dia 2 – De boa. (por dentro: Uhu, sou foda, vou comer ovo todo dia e subir até o cume, que moleza!)
Dia 3 – Cansativo, mas de boa.
Dia 4 – Cansativo, mas de boa.
Dia 5 – De boa.
Dia 6 – Só descansei, de boa (já não tava me achando foda e tinha desistido de integrar uma expedição para o cume).
Dia 7 – Quase morri.
Dia 8 – Morri, mas de alguma forma retornei do além e ainda por cima cheguei no EBC.
Dia 9 – Quase morri.
Dia 10 – Quase morri.
Dia 11 – Cansativo, molhado, quase morri.
Dia 12 – Sussa, até o o vôo de volta foi moleza.
Viu? Só quase morri metade do tempo….Rá-Rá. Sério, é acessível a qualquer um!
Nos dia 7, 8 e 9 foi muito duro por causa da altitude e nos dias 10 e 11 por causa da distância, já que descendo andamos praticamente o dobro de cada dia de subida, mas esses 2 últimos são quase de boa. Tudo bem que depois que voltamos o cara mais bonzinho do meu grupo disse que um dia ele me deu bom dia e eu respondi grrrr. Nem me lembro e pedi desculpas, mas achei bem positivo que eu só tenha sido ogra em uma manhã, já que eu não costumo acordar cantando. Rá-rá.
Saiba como evitar o mal de altitude e se cuidar no trekking para o Everest Base Camp aqui.
Claro que, se você fizer um pequeno preparo físico com antecedência vai facilitar muito sua vida. E quando digo isso quero dizer que se você, tipo assim, começar a subir e descer escadas com uma mochila nas costas uns 3 meses antes de ir, talvez não fique arfando no pelotão do pessoal mais devagar, como eu fiquei muitas vezes (embora eu continuasse achando que eles não iam chegar, a maioria dos meus companheiros do fundão completou o trekking).
Ai você me pergunta se ajuda começar desde já a subir para o trabalho de escada. Ajuda. Ajuda a chegar suado e fedido no trabalho. Mas esses 10 minutos de subida ai ajudarem a fazer 2 ou 3hs de subida lá na altitude? Nhémm. A não ser que você trabalhe no 40 andar, mas ai acho que você não estaria me fazendo essa pergunta.
Bom, como eu já disse, não entendo nada de preparo físico, então sugiro que você procure algum profissional da área para te torturar, digo, para te passar um treino, principalmente de cardio, se você quiser fazer um preparo mais sério. Mas ficar subindo e descendo escadas com uma mochila com uns 5kg dentro é o básico que qualquer um faz de graça e que ajuda. Eu ainda recomendo que você já compre a sua bota de caminhada e faça isso com ela, para amaciar.
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Aliás, quando decidimos nos juntar a um grupo, pensamos no custo-benefício, mas também em ter alguém para conversar porque são muitos dias e a gente já viaja sozinho. Eu visualizei um grupo misto, com esportistas e mochileiros molengas, mas na noite anterior ao voo para Lukla fomos conhecer os demais componentes e tcharam, eram 3 montanhas de músculos (trocadilho inevitável). Pensei: fodeu! E desculpem o palavreado, mas é que não dá para descrever de outra forma, porque fiquei com medo do grupo ficar me puxando, sabe como é? É tipo quando você nem consegue respirar, ta vermelha, com taquicardia e o povo nem sente nenhum esforço, continua andando, te fazendo seguir botando os bofes pra fora. Também conhecido como pesadelo por qualquer molenga.
Já fui avisando que eu andava devagar, mas eles eram mega de boa e faziam o tempo que queriam e eu o meu, que era sempre uns 20/30min depois, o que considero uma ótima marca, já que um deles era praticamente o coelhinho da Duracell (e puxava os outros 2, que no último dia sucumbiram e se juntaram ao meu pelotão de retardatários). O fato de termos um guia na dianteira e um guia assistente que sempre ficava comigo no fim da fila também foi fundamental para andarmos dessa forma.
E só para constar, apesar de ser molenga eu não estava zero preparada e por isso acreditei que podia fazer o trekking, o que realmente foi possível e menos doloroso do que pensei. Em 6 meses de viagem eu e o Ga evitamos ao máximo pegar transportes e fazemos tudo o que dá a pé. Andamos tranquilamente uns 12 kms por dia, carregamos nossas mochilas que atualmente tem uns 17/23kgs escada acima, escada abaixo, por morros e ruas alagadas, encaramos 4h30 de yoga diários (por uns dias, mas vale, né? E nem quase morri.).
Mas se eu soubesse antes que ia querer fazer o trekking, ia tentar fazer esse lance ai da escada, pelo menos 1h por dia, umas 4 vezes por semana para aguentar subir o Kala Patthar, que é outra história que fica para depois. Sinceramente eu duvido muito que eu não desistisse na primeira semana. Rá-rá! Vamos ser realistas, né? Eu não encaro nem uma esteira, imagine de onde que eu ia tirar determinação para isso. Mas conheço muita gente que aguentaria firme.
E o que quero mostrar é que é viável para todos.
Em termos de caminhada, a dificuldade é pequena. Não tem nenhuma escalada, nenhum grande obstáculo além da distância e algumas subidas e descidas mais íngremes. A maior dificuldade é a altitude, porque depois dos 4000 metros é osso! A segunda maior dificuldade é a dureza das condições gerais. Faz frio, os lodges não tem aquecedor, muitas vezes não tem chuveiro, às vezes a gente dorme mal, às vezes come mal, às vezes chove, às vezes neva, não tem eletricidade suficiente para carregar nossos hoje inseparáveis eletrônicos… Mas são todas dificuldades passageiras com as quais você deve estar preparado para lidar, mas que não são motivos para alguém deixar de fazer o trekking!
Tem hora que dá um medinho. Tipo: “Jesus, que que eu to fazendo aqui no fim do mundo? Ainda tenho que andar 4 dias para voltar e pegar um vôo que decola pra baixo!” Mas ai o sol aparece, o Everest também, você pega 1hr de caminhada plana e tudo vale a pena de novo.
Aqui no site da Extremos você encontra diversos outros depoimentos de quem já fez o trekking para te inspirar.
Contei como é o trekking em mais detalhes em outros posts, como se organizar e o que deve ser levado e você vai ver que realmente é possível. Eu até voltei pensando em fazer de novo, mas da próxima vez via Gokyo, uma região que tem um lago bem lindo.
Atenção: o trekking até pode ser feito durante as monções ou o inverno, mas a experiência vai ser muito mais difícil e provavelmente você nem vai ver o Everest ou qualquer montanha, que estarão encobertos. As melhores épocas para fazer o trekking são entre abril e maio e entre outubro e novembro. Então já viu, você tem tem tempo de se programar para a próxima temporada e o Everest está te chamando!
Vai que dá!
Ah, e não deixe de pegar todas as dicas de Kathmandu, sua parada obrigatória no Nepal antes do trekking!