Porto – Primeiras impressões e o transporte
Dificílimo falar desta cidade. Última parada da minha aventura atlântica, a cidade Invicta (ou Imbicta, como se diz por lá) que nunca foi destruída e deu nome à Portugal, pela qual é impossível não se apaixonar.
Confesso que minha primeira impressão da cidade, se não foi ruim, também não foi nada demais. Acho que isso teve relação com o meu próprio momento pessoal, que não era dos melhores, mas também com nossa localização.
Nosso lar naqueles 3 meses foi o Hotel Premium, hotel muito bom, com excelente custo-benefício, pessoal mais do que atencioso (salve Andreia, Jorge, Angela!) e um bar agradável.
O hotel fica super bem localizado, a alguns minutos andando da Rotunda da Boa Vista, da Praça dos Aliados, da Estação São Bento, das estações Lapa, Marques e Trindade do metrô, mas numa ruazinha pequenina, a Travessa Antero de Quental, suuuper tranquila nos finais de semana, quando chegamos, o que deu aquela sensação de que a cidade seria uma eterna calmaria, beirando à chatice. Mais do que isso, saindo do verão de janeiro no Brasil, fomos parar naquele frio, chovendo, todo mundo encarapitado em suas casas….
Além disso, há uma forte rivalidade entre o norte e o sul de Portugal e o Porto é cantado como chuvodo, enevoado, de pessoas brutas e mal humoradas. Até na escala em Lisboa me disseram que se eu ia estudar no norte, era para aprender palavrões…
Iniciada a semana, a coisa não foi muito diferente. A segunda maior cidade do país não tinha movimento! Íamos tranquilamente de ônibus para a Universidade Católica, que estava meio parada também, ainda sem aulas na graduação, e tínhamos nossas aulas no lindo prédio da Business School…sozinhos.
Aqui cabe um parêntese. O sistema de transporte público da cidade é ótimo . O metrô (lá se diz métro) é novinho, vai para todo lado, está sempre confortável, um sonho para qualquer paulistano. Em todos os pontos de ônibus (lá se diz autocarro) tem os horários e itinerários, facílimo e muito pontual (e também pode ser visto na net). O único problema é comprar o passe, uma operação muito delicada.
Primeiro você deve saber que existem 3 tipos de passe, chamado de Andante e que parece um pouco com o Bilhete único e serve para ônibus e metrô. O azul ou ocasional, para você carregar quando e quanto quiser, o tour de 24 ou 72 hs e o mensal ou Gold. Você compra o cartão azul nas estações, nas máquinas, nos Payshop que se encontra em qualquer lojinha e até em caixas eletrônicos, mas o mensal só em algumas estações que possuem Loja Andante, com passaporte. Fica pronto na hora, mas só interessa para quem vai ficar bastante tempo.
O de 24hs custa 7 euros, o de 72hs custa 15 euros, ambos para viagens livres. O ocasional custa 0,50 centavos e o gold, 5 euros e só precisam ser comprados uma vez.
No azul, cada 10 viagens da mesma zona carregadas de uma vez, dá direito à mais uma, gratuita. Mas ai é que está.
Porto está dividida em zonas de N (norte do eixo IC24, que é uma estrada), C (tudo entre a IC24 e o Douro) e S (sul do Douro) e cada uma vai de 1 a 10. Uma Z indica que você pode andar por todas aquela zona onde está e mais naquelas que fazem fronteira. Você deve saber ANTES de embarcar aonde está e para onde vai e comprar o título corretamente, sob pena de pagar uma salgada multa. Os preços das viagens variam de acordo com a zona e, nos casos dos ônibus, são muito mais caras se pagas diretamente para o motorista, sem cartão.
Se você tiver um andante ocasional carregado para uma zona e for para outra, deve carregar um título extra. Tome cuidado, pois se apenas adicionar, você acaba carregando para a mesma zona que já está carregado e corre o risco de multa.
Assim, por exemplo, Vila Nova de Gaia está na zona S2; Casa da Música, Trindade, Bolhão, Marquês, o centro em geral, o funicular, Estádio do Dragão e Estação Campanhã (para trens para Lisboa, norte e Espanha) zona C1; a Foz e Sete Bicas (Norte Shopping) estão na C2; Matosinhos está na C3; o aeroporto na C4 e o Vila do Conde (outlet) na N3.
Nem nos ônibus nem nos metrôs há catracas e em muitas estações não há nem ninguém e cabe à você validar seu cartão. Não seja bobo querendo ser esperto, SEMPRE há fiscalização.
Portugal, como já disse antes, pode ser visitado todinho de carro. As estradas são boas e vão para toda parte e é uma boa pedida para quem vem de Lisboa, assim como os trens, cujas estações de chegada, Camapanhã e São Bento são peto de tudo e tem metro, assim como o aeroporto. Se quiser ir direto do Brasil, algumas empresas operam voos diretos, mas apenas em alguns dias da semana, nos demais é preciso fazer escala em Lisboa, muito simples.
Voltando aos dias tristes, as árvores estavam meio peladas, todo mundo andava cheio de roupas pesadas e escuras e eu, definitivamente, não tinha o menor pique para estudar. Começava a acreditar no que todos os portugueses do sul costumam dizer sobre o norte, que a cidade era cinza, triste.
Passei a primeira semana inteira sem tirar uma única foto, sem qualquer animação e sentindo que os meses que vinham pela frente iam se arrastar.
Não bastasse tudo isso, logo nos primeiros dias passei super mal, não conseguia comer nada e mal saia do quarto. Nessas horas é que damos valor ao seguro viagem, essencial no mínimo para termos certeza de que não temos nada grave e tomarmos um sorinho para recuperar a energia. Eu nunca viajo sem, embora nunca tenha usado antes. Vale. Sem ele teria gasto mais de 300 euros em médico numa única tarde. A diversão é que conheci lá na emergência uma brasileira simpaticíssima que me deu várias dicas sobre a cidade e sobre Portugal.
Um belo dia resolvi conhecer os arredores da universidade. Tudo mudou e comecei a me perguntar por quê esta cidade estava fora de tantos roteiros. Além de linda e barata, a comida é maravilhosa e o povo é atencioso, conversadeiro. Nunca vou cansar de recomendar a visita. Tenho tanto a dizer que seguirei em pílulas.
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