O que fazer na Namíbia é uma escolha difícil, especialmente para quem tem pouco tempo. Nem sempre o Caprivi entra no roteiro, mas é um destino que pode te surpreender com sua natureza exuberante.
O Caprivi é uma faixa estreita de 30Kms que sai lá do norte da Namíbia para o leste da África, sendo um pedaço de terra entre Angola, Botswana, Zambia e Zimbabwe com 450kms de extensão e divisa com 3 importantes rios da região. Por ali você pode atravessar algumas fronteiras e chegar tanto no maravilhoso Botswana com seu Chobe Park, Delta do Okavango e outras belezas, como na deslumbrante Victoria Falls.
Parece um estreito estranho praticamente fora do país, e é. Foi anexado durante a ocupação alemã porque eles achavam que, em razão dos volumosos rios, ali pra direita já devia ser o Oceano Índico e eles teriam uma bela rota a explorar. Só que no caminho tinha uma pequena cachoeira conhecida como Victoria Falls… Bom, mas hoje a região é conhecida mesmo pelo ecoturismo.
A viagem até lá é longa, mas vale as muitas horas no carro, garanto!
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O que fazer na Namíbia – o estreito de Caprivi
Cercada pelos extensos, famosos e caudalosos rios Kavango ou Okavango, Chobe e Zambezi, a região do Caprivi tem uma paisagem completamente diversa do restante da Namíbia. Aqui, ao contrário dos desertos e da aridez, você vai encontrar muita flora, florestas e toda uma vida animal ligada à esse ambiente e pode fazer safáris terrestres ou aquáticos.
Portanto, é um lugar perfeito para curtir a natureza ao longo dos rios. É o reino dos crocodilos, hipopótamos e milhares de pássaros únicos. Sua visita vai mais ou menos girar em torno de ver esses animais e fazer lindos passeios de barco.
Na região eles tem um barco típico, o mokoro, que é uma espécie de canoa para 3 pessoas. São oferecidos passeios com um guia, mas como logo na chegada vi a fragilidade das tais canoas (o causo conto melhor abaixo), vou te dizer que acho arriscado, mesmo com toda a experiência dos guias.
Eu só fiz passeio em barco grande (não tão grande, mas maior que um hipopótamo). No dia em que fizemos o passeio de barco fomos com uma família que contou que viu um acidente de canoa anos antes, na Zambia. Um casal navegava tranquilo com o guia quando uma mamãe hipo veio à tona com um baby hipo. Assustada com a visita, a mãe foi pra cima e mordeu a canoa! Por sorte tudo acabou bem, mas podia ter acabado muito mal… Olha, do barco vi um hipo me encarando e tive a certeza de que não queria correr risco com um bicho que tem a segunda mordida mais forte do mundo, pesa milhares de quilos e ainda por cima nada e corre a mais de 50kms/h.
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Onde ficar no Caprivi
O Caprivi tem 3 cidades com mais estrutura turística: Rundu, Divundu e Katima Mulilo. A primeira é a mais próxima do restante da Namíbia e a última é colada na divisa com Botswana, sendo mais uma parada para quem segue viagem para lá ou para Victoria Falls.
Já Divundu é o lugar onde te aconselho de coração fazer uma parada de pelo menos 2 dias! É lá que fica o camping Ngepi, o mais curioso e diferentão da Namíbia!
Camping Ngepi em Divundu
O camping Ngepi é praticamente no meio da floresta, na beira do rio, todo pensado e decorado de forma divertida e natural. Tem banheiros sem teto e às vezes sem paredes para você curtir o visual do rio enquanto faz número 1 ou número 2, luz solar, um bar bem servido, um restaurante delicioso, uma piscina-jaula para você nadar ao lado dos hipos e crocos se tiver coragem e guias experientes tanto para birdwatching quanto para navegar pelo rio. Se nada disso te convenceu de que é um lugar interessante, fique com as fotos!
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A estrada até lá já é diferente, com muita vegetação, gado e, como sempre, diversos animais na pista, além de vilas de casas de palha e moradores bem parecidos com a vizinha Angola, mas bem diferentes do restante da Namíbia, inclusive você vai encontrar muitos falantes de português por aqui. Indico o Caprivi quando me perguntam o que fazer na Namíbia porque é a oportunidade de conhecer um outro mundo dentro do mesmo país.
Minha experiência no camping foi assim: já na estrada de terra que leva ao camping assustamos com a possibilidade de atolar porque nosso carro não era 4×4 e estava uma lama só. O camping estava uma zona. Tinha galhos e folhas por todo lado, inclusive nos banheiros, que eram meio abertos e cujas portas não encontramos no escuro, o que gerou grande tensão. Rá-rá. A primeira impressão foi péssima, achamos sujo e bagunçado e decidimos seguir viagem no dia seguinte cedo.
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Pegamos uma cerveja e fomos dar uma olhada no deque quando começa uma gritaria, uma confusão e a gente vê todas as canoas voando, um cenário de guerra. Descobrimos que estava tendo uma briga de hipopótamos ali, há pouqísusimos metros de distância.
Desde que assisti Fantasia quando era criança (sim, sou meio velha, mas Madagascar também pode te deixar com a mesma impressão) sempre achei os hipopótamos uns bichos muito fofinhos e só recentemente é que soube que eles são perigosíssimos e altamente agressivos com quem invade seu território. Ficamos num misto de admiração e terror porque nosso local de camping realmente era do lado da treta e não estávamos convencidos de ser seguro (mas era).
Mas assim, o hipopótamo é um animal de boa, nem carnívoro ele é, só não gosta que invadam o espaço dele. Essa briga que contei, por exemplo, era entre 2 machos disputando espaço. Já o ser humano é um animal curioso, quer colar focinho com os hipopótamos, e é ai que eles atacam. Mantenha uma distância segura e está tudo certo! Ah, e tem um barranco entre rio e camping protegida, por isso eles não sobem mesmo para as barracas.
Também achamos o bar e o restaurante mais caros, mas admito que o jantar em estilo buffet cozido no fogão a lenha no meio do camping foi uma das melhores comidas da viagem e o café da manhã e almoço eram também gostosos e muito bem servidos (tem café gratuito o dia todo). Como o jantar tem horário marcado, também é uma ótima oportunidade de integração com as outras pessoas.
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Aquela noite foi um caos. Os hipopótamos tretaram a noite toda e eles berram muito alto! Provavelmente incentivados pela algazarra na água, um grupo de gringos resolveu nadar na piscina-jaula a madrugada toda e um, muito bêbado, se perdeu e foi parar na nossa barraca onde, depois de cair e ser xingado por nós, passou uns 10 minutos xingando de volta e tentando se achar num breu total.
Antes que você pense porque raios eu to indicando esse lugar, conto que, na manhã seguinte, acordamos com um nascer do sol deslumbrante sobre o rio e descobrimos o camping impecável, super limpo e arrumado. Só no café é que nos contaram que tinha caído uma tempestade fortíssima antes de chegarmos e que eles demoraram horas para conseguir por tudo no lugar. E também descobrimos que havia um caminho na entrada mais fácil e sem risco de atolamento (preste atenção nas placas).
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Decidimos tomar café no deck, de onde víamos uma família imensa de hipopótamos, agora em perfeita harmonia, provavelmente dormindo depois de se esguelarem a noite toda. Achamos que dava para ficar mais um dia e dali não levantamos mais. Do deck, que fica de frente para o rio e para o Bwabwata Reserve no Mahango National Park, um parque pequeno mas com uma vida animal imensa, tinhamos a sensação de estarmos assistindo discovery channel, só que ao vivo!!! Vimos os hipopótamos andando na terra (raro durante o dia porque a pele deles é sensível ao sol), búfalos, veados e uma manada gi-gan-tes-ca de elefantes que veio beber água e dar show para nós. Ficamos ali, embasbacados, maravilhados….
Nadamos na piscina-jaula mesmo com medo, fizemos um passeio de barco e além do visual lindo ficamos a pouquíssimos metros dos hipos, (ainda mais perto que no camping) e vimos os mais malucos bichos. Como os banheiros são meio abertos e a “porta”, descobrimos depois, era uma correntinha que tinha que ser pindurada, de vez em quando dava a sensação de que alguém estava nos observando e eis que eu dava mesmo com um par de olhos: uma hora era um lagarto, em outro uma coruja, um pássaro azul celeste e uma aranha gigante da qual até fiquei amiga. Rá-rá. Resumindo, você tem que estar aberto a novas experiências, mas se estiver, vai ser incrível!
E não esqueça de visitar todos os banheiros do camping!
O Camping tem umas tendas mais arrumadas e uns chalés com banheiro privativo e vista para o rio. Porém, devo dizer que preferi nossa barraquinha que, uma vez fechada, não recebe nenhum bicho, enquanto o esquema integrado na natureza deles pode render uns sustos…
Recomendo 2 noites porque é longe de tudo e é um dia para ficar lá de bobeira e outro para um safári pelo parque ou de barco. Menos que isso só se for um dia inteiro.
Se você preferir um lugar menos maluco, mais confortável e ainda assim, na beira do rio para curtir a natureza, tem o Shametu River Lodge. Tem piscina de verdade, um deck grandão, chalés arrumadinhos e um ótimo restaurante.
Camping Caprivi House Boat em Katima Mulilo
Se você parar em Divundu não precisa parar em Katima Mulilo porque é tudo bem parecido. Essa parada vai ser útil para quem estiver indo ou vindo do Botswana ou de Victoria Falls, porque fica a 120kms da fronteira.
O Caprivi Houseboat é um ótimo camping também. Tem lugares bem privativos para a barraca, alguns quartos e tendas e os melhores chuveiros da Namíbia. Fica igualmente na beira do rio. Tem um “honest bar” (onde você se serve, marca num papel o que consumiu e paga no final) com uma vista maravilhosa. Mas não tem restaurante.
Aqui também é cheio de bichos e eles tem uns barcos muito legais para passeios e até para safáris aquáticos! Recomendo. Sem falar que todos são simpáticos, até os cachorros. Logo nos avisaram que era época de cobras, mas que se vissemos alguma não precisava desesperar, era só gritar que alguém do camping vinha tirar. Ficamos super tranquilos, viu? Rá-rá. Deu medo, mas eles sabiam mesmo o que estavam fazendo.
Katima Mulilo, é uma cidade com mercado grande, um restaurante português gostoso, o Passione, e um pequeno mercado de artesanato onde você pode comprar lembrancinhas autênticas. Como fui da Namíbia até Victoria Falls, na ida fui de Divundu direto até Kasane, em Botswana e voltei direto de Livingstone para Katima Mulilo. Parar nesse camping foi ótimo para descansarmos um pouco depois de dias intensos!
Se prepare para o calor! E cuidado com a malária, repelente o tempo todo.
Rundu e Grootfontein – Paradas no caminho entre o Caprivi e Windhoek
Como eu já disse, o Caprivi fica lá longe e uma viagem para lá vai envolver algumas paradas.
Como o Caprivi é uma faixa estreita entre vários países, aqui tem muito mais policiamento e controle. Fomos parados várias vezes, sempre despertando surpresas por sermos brasileiros, mas foi tudo bem tranquilo e a conversa acabava em futebol. Nos disseram várias vezes que estávamos sem um selo necessário para cruzar fronteiras, mas quando explicávamos que ninguém tinha dito nada para nós, simplesmente nos deixavam passar. Fica a dica para perguntar sobre isso quando alugar o carro!
Você pode fazer de diversas formas para andar por ali, inclusive pode ir até Botswana para fazer safári no Chobe ou conhecer o Delta do Okavango por Shawake, é bem perto e simples cruzar as fronteiras (conto melhor em outro post). No meu caso, sai do camping Namutoni no Etosha direto até Divundu. Depois de Divundu fui até Kasane no Botswana e de Botswana para Victoria Falls. Depois voltei de Victoria Falls para Katima Mulilo. Dormi em Divundu novamente e segui até Grootfontein já sentido Windhoek, mas parei para comer em Rundu.
Rundu basicamente é igual a Divundu (mas sem o Ngepi camping). Nós não dormimos lá, mas paramos para comer no Tambuti Lodge que tem um restaurante de comida regional MUITO BOM. A comida demora um pouquinho, mas você pode provar coisas que não vai ver em nenhum outro lugar como suco de hibisco com menta (geladinho, super refrescante), peixes trazidos ali do rio ao lado, legumes da região que eles fazem cozidos ou como quiches. É diferente, gostoso e barato. O hotel também achei bom.
Já Grootfontein é uma cidade meio grandinha até, que tem bons mercados, restaurantes e uma ou outra coisinha para ser vista. Não é exatamente uma cidade turística, mas se você precisar parar ali para descansar da estrada, tem acomodações legais.
Fomos até o Hoba Meteorite, que fica cerca de 15kms do centro de Grootfontein, sendo uns 8kms por estrada de terra boa. Esse é o maior meteorito maciço de ferro que já foi encontrado na Terra e pesa cerca de 60 toneladas! Fica dentro da fazenda Hoba West e está lá a aproximadamente 80000 anos.
A fazenda cobra USD 2 a entrada, tem um mini museu e uma lojinha. O meteorito é impressionante pelo tamanho e tal, mas não é algo imperdível… Lá do lado fica o Hoba Camping, onde dormimos. O camping foi um dos melhores que ficamos em termos de estrutura, todos os pontos tinham sombra, tomada, mesinha, churrasqueira e tinha uma área de cozinha coletiva, piscina grande e banheiros ótimos e impecavelmente limpos.
Outras opções mais confortáveis são a Farm Wendelstein e a Dornuegel Guest Farm.
Melhor época para visitar o Caprivi
O ano todo é tranquilo para visitar o Caprivi, mas durante os meses chuvosos – dezembro a fevereiro – além de ser beeem quente, os safáris podem ficar prejudicados, porque as estradas de terra viram um lamaçal e com o mato crescido os animais ficam mais escondidos. Mas honestamente, fui em janeiro e não tive nenhum problema.
Os meses mais recomendados são entre junho e setembro, mas também é altíssima temporada.
Com isso você já consegue viajar tranquilo pelo Caprivi!
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