Mal de altitude e outras doenças no trekking para o Everest Base Camp
Se você está se programando para fazer o trekking para o Everest Base Camp precisa se preocupar em evitar o mal de altitude e outras doenças que podem te acometer por lá. Parece meio assustador. Bom, é um trekking de 12 dias certamente desafiador, mas com o devido cuidado e atenção à sua saúde, será tranquilo. Vou te explicar os cuidados com a saúde que você precisa tomar.
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O que é Mal de Altitude
O mal de altitude é um conjunto de sintomas que a gente sente enquanto o corpo se adapta à baixa pressão atmosférica em altas atitudes. É bem complicadinho porque os sintomas não são muito claros, variam de pessoa para pessoa e, embora sejam mais frequentes acima de 2400 metros de altitude, há pessoas que sentem logo, outras que não, para alguns é mais forte, para outros mais fraco, ou seja, é uma zona nebulosa. Os sintomas costumam ser passageiros e passam conforme o corpo se adapta ou quando a pessoa desce para menos de 2000 metros de altitude, mas em casos graves pode evoluir para um edema pulmonar ou para um edema cerebral e até causar a morte.
Sintomas do Mal de Altitude
Os sintomas mais comuns são dor de cabeça que não passa mesmo com a ajuda de analgésicos, falta ou distúrbios de sono e do apetite, tontura, ânsia de vômito, taquicardia, falta de ar, fraqueza e mal estar. Ainda podem ocorrer inchaço das extremidades do corpo, diarréia, desidratação, aumento do número de vezes quem que se urina, hemorragia nasal. Nos casos graves, ou seja, quando o quadro já está evoluindo para um edema pulmonar a pessoa sente falta de ar mesmo em total repouso, como uma bronquite, e febre. No caso do edema cerebral, a dor de cabeça é intensa e a pessoa vai perdendo a consciência, sendo o sinal mais claro quando a pessoa começa a falar coisas sem nexo.
Como no trekking para o Everest Base Camp chegamos a mais de 5000 metros de altitude é praticamente impossível não sentir pelo menos um pouco do mal de altitude. A falta de apetite, de sono, cansaço e dor de cabeça são os mais comuns. Na verdade não conheci ninguém que não sentiu, com exceção dos guia e carregadores sherpas, que já tem o corpo adaptado à vida na montanha. Para todas as outras pessoas o que variou foi a intensidade (e a forma de lidar com isso).
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Como evitar o mal de altitude
Não há um método preciso para evitar o mal de altitude e, embora os sherpas sejam muuuito similares aos povos andinos, ao contrário desses, não encontraram uma plantinha para mascar ou fazer um chá que ajude a tratar os efeitos.
No Everest é você, seu corpo e o ar. E seja o que Deus quiser.
O que sabidamente facilita a adaptação é a subida gradual. É por isso que o trekking é tão longo, com muitos dias de subida e uma descida rápida, para ajudar o corpo a se livrar dos sintomas. A cada dia subimos apenas entre 200 e 400m de altitude para o corpo ir se adaptando e quando subimos mais de 400m precisamos ficar um dia nessa parada para aclimatar, deixando o corpo se acostumar aos feitos. Na aclimatação o ideal é subir até um ponto mais alto, em geral na altura do ponto que será alcançado na próxima subida no dia seguinte, descer e dormir no ponto mais baixo. É tipo um “oi corpitcho, olha o que te aguarda amanhã, se segura!”.
Durante toda a subida você não deve forçar. Ande no seu ritmo, sem ficar com a respiração ofegante, senão já bate a dor de cabeça e começa a ferrar tudo. Claro que nas subidas é mais difícil, mas vá sem pressa, parando quando precisar, e dentro dos seus limites, vai dar tempo tranquilo!
Nas paradas, descanse e evite beber álcool. O corpo vai perdendo água conforme o ar vai ficando mais rarefeito e é preciso beber muita água para evitar desidratação. Álcool obviamente não ajuda em nada nesse contexto.
Nada disso, porém, garante que você não sofra com a altitude e ai você pode precisar de um help.
Uma ajuda no mal de altitude
Apesar de ser um processo natural de adaptação, 2 coisas podem ajudar a melhorar ou evitar os sintomas do mal de altitude: oxigênio e medicação.
O oxigênio é engarrafado e é só respirar quando necessário. Lá no trekking não tem oxigênio no tubinho para vender como tem nos andes e em cidades de altitude. Quem tem oxigênio leva por conta própria ou a agência leva, mas é pesado e caro. Somente em Gorakshep, ou seja, na última parada antes do Everest Base Camp, já acima dos 5000m, vimos vendendo nos Lodges e uma baforada custava apenas USD 50. Facada! Talvez tenha em outras paradas e a gente não tenha visto, mas não conte com isso.
O trekking é um desafio ao corpo e o ideal é tentar se adaptar sem oxigênio extra, mas isso é de cada um e, principalmente, em casos de sintomas graves do mal, vale tudo! Vale pagar USD 300 na baforada. Se você for mais idoso ou estiver num grupo de pessoas com mais idade ou crianças acho que vale a pena ir com as agências que levam oxigênio, pois os efeitos podem ser mais fortes e mais rápidos. Atenção que eu estou falando do trekking ao Base Camp e não da escalada ao cume que, por chegar a mais de 8000m exige muitas outras providências, equipamentos e certamente oxigênio extra!
Algumas agências e lodges tem um saco de Gamow, um equipamento que simula a pressão atmosférica em baixas altitudes, mas ele só é usado para tratar casos graves enquanto aguarda o resgate.
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O outro subterfúgio são os medicamentos. Pelo menos ibuprofeno para dor de cabeça e algo para enjôos são normais.
Além disso, tem o famoso Diamox ou Zolamide ou acetazolamida, um medicamente em geral utilizado para tratamento do glaucoma que é diurético e ajuda a diminuir a pressão intravenal (assim me disseram). De um modo geral ele evita os sintomas ou ajuda a reduzi-los, portanto pode ser tomado preventivamente desde o começo do trekking, ou para tratar os sintomas.
Muita gente critica quem toma preventivamente, considerando um tipo de dopping. Essas pessoas acham meio sem sentido que alguém se disponha a fazer um trekking em que deveria se superar, se desafiar, já medicado. Eu particularmente não gosto de tomar remédio, ainda mais sem nem ter sentido nada, então prefiro não tomar preventivamente. Além disso, tem alguns efeitos colaterais como formigamentos nas extremidades, perda de apetite, mudança no sabor dos alimentos e às vezes, vômitos e dor de estômago.
Em qualquer hipótese, consulte um médico e entenda direitinho como tomar, não se arrisque.
Minha experiência com a mal de altitude no trekking para o Everest Base Camp
Fui bem nos 5 primeiros dias. Lá pelo terceiro dia, todos começam a sentir a falta de ar e o cansaço, mas como a subida é lenta e com aclimatação, nem eu nem ninguém do meu grupo estava sentido nenhum efeito. Eu andava devagar, parava quando achava que tinha que parar, tomei 800 litros de água e dormi sempre 8hs.
Mas não resisti e tomei o Diamox quando chegamos à 4800m de altitude, na chegada de Lobuche. Quando faltavam uns 300 metros para chegar no lodge senti uma fadiga extrema, um cansaço muito desproporcional ao esforço e que surgiu de repente. Quando sentei no lodge, achei que não seria mais capaz de levantar, estava com um pouco de tontura, pupilas dilatadas, dificuldade para respirar e dor de cabeça. Almocei e fui me deitar. No jantar eu estava bem melhor, mas ainda com dor de cabeça e muito cansaço. Decidi tomar o remédio para ver como acordava. Como tenho enxaqueca, estava especialmente preocupada com a dor de cabeça.
Tive uma noite horrível, acordava toda hora, super preocupada em ter um edema cerebral, com dor de cabeça e uma quantidade de xixi sem fim. Fui ao banheiro umas 7 vezes no maior frio e sem luz. Ficava pensando num monte de coisas para ter certeza de que estava em plena consciência. Enfim, paranóia. E não fui a única. Lá em Lobuche todo o meu grupo sentiu muita dor de cabeça, mas acho que só eu tive outros sintomas enchendo o saco. Mas de fato acordei melhor na manhã seguinte e continuei o trekking, com o guia sempre acompanhando e a postos para chamar o helicóptero se eu piorasse. E continuei tomando o remédio até a primeira noite depois do Base Camp porque os sintomas não sumiram completamente.
Durante esses 2 dias, eu não tinha fome e tudo que eu comia tinha gosto de nada. Tomei uma coca que parecia um remédio estragado! E ficava bem enjoada. No dia da chegada ao Base Camp eu fui com muito esforço, mas na volta tinha que parar a cada 10 passos, muito enjoada. Eu tenho a maior classe para vomitar, sabe? Quem tem enxaqueca desenvolve métodos… mas tinha um grupo de senhores indianos que cismou em fazer indianices comigo. Cada vez que eu parava toda discreta atrás de uma pedra, eles vinham e sentavam todos em volta no melhor estilo juntinho indiano. Eu já estava prestes a jogar um deles morro abaixo, o guia, coitado, não aguentava mais me esperar, mas deu tudo certo no final. Demorei tanto para voltar que a nevasca passou, o céu abriu e pelo menos eu e o Gabriel conseguimos ver o Everest, que estava encoberto em quase todo o dia.
No dia seguinte ao Base Camp, tinha a subida ao Kala Pathar. Eu estava doida para ir porque de lá se tem uma vista maravilhosa, bem de frente para o Everest ao amanhecer (ou entardecer), mas eu definitivamente não tinha mais forças. Só uma pessoa do meu grupo aguentou ir. Vou ter que voltar um dia.
Saiba como até uma molenga conseguiu fazer o trekking para o Everest Base Camp!
Riscos assumidos no trekking para o Everest Base Camp
Enfim, o uso do Diamox deve ser feito com muito cuidado.Teve gente que não tomou, mas tomou 4, 5 analgésicos em 2hs. Acho muito mais perigoso, mas as pessoas ficam obcecadas para chegar ao Everest, é meio doido e muito, muito arriscado não dar a devida atenção ao mal de altitude. O recomendado é descer para altitudes mais baixas nos primeiros sintomas, mas a verdade é que ninguém faz isso. A maioria das pessoas planejou fazer esse trekking por meses, às vezes anos, e elas querem ir até o final, ainda que corram riscos de perder a vida!
Conhecemos um senhor venezuelano que passou mal no quarto dia e precisou voltar. Ele planejou a viagem com os amigos durante 2 anos e estava muito chateado, fazendo tours em Kathmandu e esperando os amigos voltarem. Morri de pena, mas ele mesmo disse que pelo menos estava bem e isso que importava.
Uma questão que ficava toda hora brotando na minha mente era se estava na hora de eu descer. Porque todo mundo ao meu redor estava passando mal. Gente, o lodge de Gorakshep parece um hospital. É gente tossindo, vomitando, sem dormir, sem comer… uma doideira piorada pelo aspecto espartano dos prédios, mas todos estavam tentando controlar os sintomas com algum remédio. É difícil saber a hora de parar, principalmente porque o mal de altitude não é igual em todos e nem evolui de forma regular. De um minuto para o outro, você pode sair de uma dor de cabeça para um edema cerebral, de uma tosse para um edema pulmonar. Sempre dá para voltar e fazer o trekking de novo, gente, não é a única oportunidade da sua vida, então, se achar que deve, desça e garanta seu bem estar.
Tem que ter muito cuidado, muita atenção e bons guias e agências, que sejam experientes e firmes para te ajudar quando precisar. Mais uma vez recomendo que você não faça o trekking totalmente sozinho ainda que seja muito experiente, pois numa hora de apuro sua companhia precisará tomar as providências para um eventual resgate.
Outras doenças no trekking para o Everest Base Camp
Além do mal de altitude, no trekking é comum que as pessoas tenham dor de garganta e gripe porque venta bastante e tem mudanças bruscas no tempo. Levar camisetas dry fit, que secam rápido, ajuda bastante, mas em geral tenha cuidado quando estiver muito suado e o tempo fechar ou estiver ventando muito e sempre agilize o banho ou as toalhinhas umedecidas e troque de roupa assim que chegar no lodge. Andar com o buff no pescoço e usar até para dormir ajuda bastante também.
Diarréias podem acontecer, mas em geral a comida dos lodges é bem feitinha e a água é sempre mega fervente. Se for coletar água nas cachoeiras e rios, não esqueça das pastilhas para esterelizar. Sinceramente nós desistimos de coletar porque a água ficava com bastante resíduo e gosto de cloro. Compramos água mineral, mas enfim, também não dá para ter 100% de confiança porque no Nepal, assim como na Índia, é comum a “reciclagem” da garrafa (sempre amasse a sua depois de usar).
Se você tem outras doenças como diabetes, problemas cardíacos, enxaqueca ou sei lá mais o que, consulte um médico antes de ir e veja se suas condições são adequadas para o trekking e quais medicamentos e medidas específicas você precisa tomar. Avise o guia e/ou a agência com antecedência de qualquer condição especial, alergias a medicamentos e contatos de emergência.
Se tiver medo, vá com medo mesmo
É quase impossível ir sem nada de medo. Mas o medo faz bem, protege e nos faz ter cuidado.
Então vá com consciência dos riscos e dos seus limites, converse sempre com as outras pessoas que estão com você ou que estão pelo caminho e entenda a gravidade dos seus sintomas, mas não deixe de ir por conta disso.
O trekking é lindo e a sensação de conquista e superação, além das memórias incríveis que ficam, valem muito a pena!
Siga o chamado da montanha!!!! =D
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Está empolgado para fazer o trekking para o Everest Base Camp no Nepal? Então comece a planejar e não esqueça das nossas dicas de como fazer, como contratar agência, guia ou fazer independente, tudo o que levar, onde comprar e como economizar, qual seguro contratar para o trekking para o Everest Base Camp e nossas dicas para evitar o mal da montanha e outras doenças. Tenho certeza de que vai ser sensacional!!!
Ah, e não deixe de pegar todas as dicas de Kathmandu, sua parada obrigatória no Nepal antes do trekking!
Oi Edmilson, tudo bem? Então, é sempre um pouco perigoso, mesmo para quem já subiu, porque a altitude mexe com o corpo de cada um de forma diferente. Se você pratica atividades físicas, vai te ajudar um pouco, mas o mais importante é se aclimatar. O ideal é que você deixe essa subida para os últimos dias da sua viagem, para que você tenha entre 2 e 4 dias subindo e descendo nas várias altitudes dos passeios do Atacama. Falando até por experiência própria, eu mesma passei um pouco mal no Atacama no passeio para o Salar de Tara porque a subida é muito rápido e eu fui logo no terceiro dia. Não foi muito grave, fiquei apenas enjoada e com tontura, mas acabou estragando um pouco o dia. Eu não subi ao Lascar, mas tenho certeza que é uma experiência incrível! (e aqui no blog tem várias outras dicas sobre o Atacama, clique aqui para dar uma olhada: https://expressinha.com/?s=atacama ). Um abraço, Bruna
Num pacote de viagem que estou analisando tem uma subida ao topo do vulcão Lascar em Atacama, Chile. Acha que pra quem nunca subiu 5.500 mt , é perigoso? Só li um pequeno comentário de (necessária prévia aclimatação à altitude). Faço cooper, ciclismo e caminhada para manter a forma.
Dá pra fazer tranquilo, Thaís! O Kilimanjaro é o próximo…
Tenho muuuuita vontade de fazer um trekking como esse (e também de subir o Kilimanjaro!), mas sempre fico morrendo de medo quando penso no mal de altitude… E também porque não sou assim a pessoa mais ativa do mundo ahahah bom saber que o trekking é relativamente tranquilo pra quem não é atleta!
Pois é Cynara, eu também achava que não era pra mim…rsrsrs e também já tinha sentido a altitude no Peru, mas o segredo é ir devagar e aclimatando. Olha que você ainda sobe lá, hein? Bjo
Menina, que doidera! Mas se você já tem uma familiaridade vai ficando mais fácil… Vai lá que é só subir devagar e aclimatando que dá tudo certo!
Camila, se você já teve boas experiências, pode ter certeza que dá para ir tranquilamente! Eu que tive más experiências antes sobrevivi pra contar história… O importante é ter informação e fazer a subida com calma e aclimatando! Vai lá que é lindo demais!
Giulia, eu também não tinha a menor coragem! Mas cada pessoa que tinha feito me encorajava, quando a gente tem mais informações descobre que não é tão difícil! Um beijo!
Eu não teria coragem de fazer uma aventura dessas. Só de ler os relatos eu já fico com medo. Mas adimiro quem faça. E esse post bem detalhado e útil para quem quer fazer trekking. Abraços.
Pelas experiências que eu já tive acima dos 4 mil metros eu posso dizer que meu corpo não reagiu mal à altitude, mas o Everest é outra coisa perto do resto, né?! De qualquer forma, ainda sonho em ir! Vamos ver o que me espera!
Eu já sou até íntima do mal de altitude! Já senti vários sintomas e de vários níveis, mas por sorte nunca senti os de nível grave, desses que a gente deve suspender a subida imediatamente. No Peru, minha menstruação adiantou em 10 dias pela altitude!
Sou doida pra fazer o Everest e as dicas e alertas são excelentes!
Eu não sou nada aventureira, acho lindas as fotos que vejo do Everest e admiro quem topa o desafio, mas não é pra mim. Fomos para a Colômbia e sentimos muito o mal da altitude, tive uma dor de cabeça insuportável na primeira noite que tirou meu sono literalmente, como você comentou, não há analgésico que passe, só melhorou no outro dia quando comecei a tomar chá de coca o tempo quase todo. No final da tarde não senti mais nada e seguimos a viagem.