Eu cheguei à Machu Picchu cheia de expectativas.
Metade das pessoas com as quais falei antes de viajar disse que tinha sentido uma coisa mágica ao pisar na cidade perdida: muitas tinham sentido vontade de chorar, algumas achavam que reviveram momentos de outra vida e outras tantas apenas não sabiam explicar o que tinham sentido, só sabiam que não era normal.
A outra metade disse que adorou conhecer Machu Picchu, mas não sentiu nada especial e não entendia nada daquela baboseira.
E eu, ia sentir o quê?
Confesso que eu queria muito fazer parte da primeira metade das pessoas, mas tinha quase certeza que seria obrigada a entrar no segundo grupo, principalmente porque já estava muito influenciada pelos milhares de relatos que já tinha ouvido e de fotos que já tinha visto. Estava duvidando da capacidade de Machu Picchu me surpreender.
Minha tensão estava no fato de que já tinha na cabeça uma imagem da cidade de pedra que nunca foi encontrada pelos espanhóis, uma ideia bem Indiana Jones, sabe como é? Grudada com essa imagem estava a de milhares de turistas caminhando entre as pedras e tirando fotos de lhama. Eu estava preparada para admirar, mas também para eventual frustração, até porque ao optar por não ir pela trilha inca, estava me sentindo menos Indiana Jones e mais turista de excursão.
Acontece que a grande delícia de viajar é que não tem como voltar da mesma maneira que fomos e não dá para prever que pedaço de nós será atingido pelos mistérios desse mundão.
A primeira coisa que começou a encher meu coração de alegria foi o amanhecer no trem a caminho de Machu Picchu. Entre os primeiros raios de sol da manhã, com aquela luz que só nos diz que o dia será encantado, começaram a surgir as montanhas e plantações do Vale Sagrado, seguidas pelas pedras e curvas do rio Urubamba até começarmos a entrar numa verdadeira floresta. Todos os tons de verde, todos as alturas de montanhas, toda a força das águas pelo caminho.
Pronto. Eu não esperava aquela natureza tão exuberante e descobri uma nova e absurdamente mais forte vontade de estar ali.
Você pode ver quantas fotos quiser: só vai entender a energia natural do lugar onde Machu Picchu está construída quando chegar lá depois de todas as curvas da estradinha e de todos os degraus da entrada.
Já com uma imagem linda só minha para carregar para sempre, caminhei com os turistas e lhamas, ouvi as sempre surpreendentes explicações da nossa fofíssima guia e, tcharan, tcharan: nada. Nada de lágrimas, nada de imagens de vida passada, nada de revelações. Eu estava oficialmente no segundo grupo de pessoas.
Perguntamos para nossa guia se ela via muitas pessoas emocionadas e ela disse que realmente muitas pessoas choravam e se sentiam tocadas, mas os peruanos não entendiam o por quê. Achavam que era porque as pessoas passavam muito tempo sonhando em conhecer Machu Picchu e eram umas “mantequilas derretidas“.
Sem nenhuma outra explicação espiritual, emocional ou esotérica, ela nos sugeriu que caminhássemos até a Porta do Sol, por onde o pessoal da trilha inca chegava e que é uma parte da própria trilha, o que nos daria um gostinho de como seria chegar à cidade andando.
Chegamos na Porta do Sol já no fim da tarde, com o sol se pondo e enchendo a natureza toda e toda a cidade perdida daquela outra luz única e incrivelmente mágica que só o pôr-do-sol tem. Sentamos já cansados e percebi que não queria ir embora. Estava lá tentando entender o que estava sentido e chega uma galera que vinha pela trilha inca.
De todos, os primeiros a ultrapassar a Porta do Sol foi um casal de uns 70 anos, e junto com eles eu ultrapassei a barreira que me separava do primeiro para o segundo grupo de pessoas que visita Machu Picchu.
Naquele momento, liberei as lágrimas que vieram de sabe-se lá onde. Nem sei dizer se foi Machu Pcchu, mas ali senti uma gratidão profunda pela minha vida que com todos os altos e baixos é cheia de luz, de amor e mais do que tudo, de possibilidades.
De possibilidade de viajar, de me enfiar nos confins das florestas, dos oceanos, das cidades, de conhecer gente alta, baixa, branca, negra, nova, de 70 anos fazendo uma trilha de 4 dias que eu não tive coragem de fazer!
Me enchi de gratidão por poder viver cada dia aprendendo minhas lições, evoluindo e trilhando os passos que me fazem chegar numa cidade inca encravada no alto de uma montanha cercada de floresta e sentar para tomar uma saraivada de raios de pôr-do-sol na cabeça.
Fui embora de alma lavada e com a certeza de que Machu Picchu tinha me dado tudo de si. Só que no dia seguinte fomos ver o nascer do sol lá e já no ônibus percebi que estava na mesma ansiedade do dia anterior, que passou pela mesma surpreendente animação ao chegar na cidade, desta vez vazia, e se transformou em outra deliciosa admiração ao subirmos Wayna Pichu. Mais uma vez, só podia me sentir grata por estar ali! Por existir aquele lugar. Por estar viva. Por estar com quem amo. Por ser eu mesma, sempre.
Namastê Machu Picchu!
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