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O que fazer em Lhasa, a Capital do Tibet

Lhasa, a capital do Tibet e do budismo tibetano, é parada obrigatória para qualquer pessoa que visite a região. Costuma ser o ponto de partida dos tours pelo Tibet por praticidade e para aclimatação aos 3500m de altitude. Mais do que tudo, Lhasa é uma cidade tão vibrante e com uma energia tão especial que só essa visita já vale cruzar o mundo até o Tibet.

Já contei como ir para o Tibet nesse post e expliquei que não é possível fazer turismo independente, apenas com agências pré-contratadas e dei ideias de roteiros pelo Tibet nesse outro post, para te ajudar a decidir sobre sua viagem.

Agora vem conhecer um pouco das atrações e da história da Capital do Tibet!

Praça e frente do Jokhang Temple, o lugar mais especial de Lhasa, a capital do Tibet.

Arquitetura Tibetana, única e linda.

O que fazer em Lhasa, a Capital do Tibet

Em Lhasa estão concentrados alguns dos lugares mais importantes para o budismo tibetano e você deve visita-los todos, ainda que pareça meio repetitivo em algum momento. Vou contar um pouco de cada abaixo.

1- Descobrir o Bairro Antigo de Lhasa (Ou o Verdadeiro Bairro Tibetano)

Desde a ocupação do Tibet pela China, em 1950, Lhasa passou por muitas mudanças físicas. Uma parte dessas mudanças ocorreram graças a tentativas de declarar a independência do Tibet e pelas reações para frustrar essas tentativas.

Outras mudanças vieram com a própria modernização chinesa dos últimos anos e, sendo bem sincera, boa parte da destruição aconteceu por causa da revolução cultural chinesa realizada por Mao.

Em outras palavras, muitos prédios históricos foram destruídos, alguns foram reconstruídos e em muitos lugares simplesmente foram construídas edificações novas.

Acontece que o Tibet tem uma arquitetura muito singular. As casas e prédios tradicionais da região são construídas em pedra, com janelas e portas em formato retangular com base mais alargada e teto em madeira. Tudo muito trabalhado e cheio de detalhes. Lindíssimo.

Esse modelo das edificações tibetanas serve para manter as casas quentes durante o inverno rigoroso e de pé em casos de terremotos, frequentes na região.

Já as ruas das vilas e cidades tibetanas costumam ser pequenas, com as casas muito juntas, já que os tibetanos são muito unidos e as famílias se ajudam e colaboram entre si.

Todas essas características foram mantidas no bairro antigo de Lhasa, onde mora a maioria dos tibetanos originais.

Já no restante da cidade, com exceção dos prédios históricos mantidos ou reconstruídos e de umas imitações da arquitetura tibetana, a cidade parece como qualquer outra cidade chinesa, com ruas largas, prédios cinzas e sem nada de especial muitas vezes bem feios mesmo.

Já sabe onde você deve ficar hospedado, certo? É no bairro antigo sem a menor sombra de dúvida. ;)

Exemplo da arquitetura típica tibetana.

Lhasa, a capital do Tibet: peregrina em frente ao Jokhang Temple, num dos poucos momentos vazio.

Pelas ruas do bairro antigo de Lhasa, a capital do Tibet.

É importante ter em mente numa viagem ao Tibet que aquela imagem de Lhasa como uma cidade misteriosa, envolta na magia do budismo tibetano e fechada para o mundo exterior até poucas décadas atrás vem sendo sistematicamente destruída pela China.

A principal tática dos chineses para tanto foi incentivar que milhares de migrantes de outras regiões do país fossem para lá. Eles pouco se relacionam com a população local e abrem negócios que foram praticamente uma divisão entre “Old Lhasa” e o resto da cidade.

Mas ali, no bairro antigo, as almas permanecem e eu te garanto que é isso o que você quer e deve conhecer na capital do Tibet.

Além disso, é no bairro antigo que fica o Jokhang Temple, um dos lugares que mais me impressionou na viagem pelo Tibet. Meu hotel era coladinho nele e fiquei sentada lá na frente pelo menos um pouquinho todos os dias.

É também no bairro antigo que você vai encontrar a maioria dos restaurantes tipicamente tibetanos e, mais importante, as casas de chá, lugares para passar a vida observando o estilo delicioso dos tibetanos: o do dolce far niente com chá preto e manteiga de yak (sim, numa mesma caneca), esperando a vida girar, como ela sempre faz.

Por favor, não passe pela capital do Tibet sem visitar pelo menos uma casa de chá tibetana de verdade!

Sabendo que não é tão simples encontrar os restaurantes e sabores realmente tibetanos (ou não chineses),  aqui nesse outro post conto em detalhes como é a Culinária Tibetana e Onde Comer em Lhasa. 

Entrada de um restaurante no bairro antigo de Lhasa, a capital do Tibet

Ficar andando sem rumo no bairro antigo, sentir os cheiros de manteiga de yak (meio fedido) e incenso (meio forte), ver as cores vibrantes das bandeirinhas e mantras, fazer a kora (explico abaixo) no Jokhang com os tibetanos, parar, conversar com as pessoas que são pura simpatia. Esse foi meu maior prazer em Lhasa, aproveite!

Aqui nesse post com o roteiros pelo Tibet contei que me hospedei em Lhasa no Shambala Palace Hotel. Se tiver oportunidade, fique lá.

É muito charmosinho,  mega confortável e todos foram uns querido. A gente se sente numa verdadeira casa tibetana. Se não der, passe lá para jantar. A comida é boa, o preço é justo e você consegue sentir o clima especial que o hotel tem.

Jokhang Temple – O Principal Templo do Tibet

O Jokhang Temple é o lugar mais incrível do Tibet e de Lhasa na minha opinião. O prédio nem é espetacular, na verdade foi todo destruído e reconstruído, mas a energia desse templo (da fé das pessoas em torno dele) é algo sen-sa-cio-nal.

Sensacional de verdade. Eu chorei. Eu queria abraçar todo mundo. Eu andei na kora com eles. Eu tirei mil fotos. Eu fiquei com o olho todo seco de taaaaanta fumaça de incenso. Eu tossi sufocada. Eu amei.

Como disse, fui lá todos os dias. Simples assim.

A frente do Jokhang Temple em Lhasa, a capital do Tibet, cedinho.

O Jokhang Temple é oficialmente o lugar mais sagrado do budismo tibetano. Foi construído no século 7 pelo primeiro rei budista do Tibet, numa posição misticamente indicada por um estudo geomântico e tem uma história muito louca.

Mas antes de contar essa história eu preciso confessar que eu achava que o Dalai Lama era tipo o papa do budismo.  Para mim, todos os budistas do mundo eram liderados por ele.

Na verdade o budismo tem várias escolas e o Dalai Lama é o líder de uma dessas escolas que é específica do budismo tibetano. A gente se engana porque o homem é um fenômeno, mas mesmo no Tibet e nos países vizinhos, o budismo se dividiu em vertentes que são semelhantes entre si, mas com algumas filosofias diferentes.

Embora o Dalai Lama seja muito respeitado por todas, ele não é o líder supremo da maioria das demais escolas e somente no Tibet em algum momento do passado a monarquia e o budismo se uniram numa coisa só, sendo o Dalai Lama o rei e líder religioso ao mesmo tempo.

Mas antes das divisões em vertentes filosóficas, o budismo na região dos himalaias teve uma lenda super interessante, a de uma demônia gigantesca que vivia na região.

Tudo isso é fumaça de incenso em frente ao Jokhang Temple. Apenas uma pequena demonstração da fé no budismo tibetano! Cenas de Lhasa, a capital do Tibet.

Vista da praça de dentro do Jokhang Temple, em Lhasa a capital do Tibet.

De acordo com essa lenda, os budistas conseguiram subjugar essa demônia e a prenderam debaixo da terra com 108 selos. Esses selos são, na superfície, templos, sendo que cada um está relacionado à uma parte do corpo deste demônio.

Desses 108 templos, 2 foram construídos no Butão (onde hoje o budismo é desvinculado da escola do Dalai Lama, apesar de ambos serem respeitadíssimos por lá). Os dois templos no Butão são o Kyichu, que fica em Paro e o outro é o Jambay Lhakhang que fica em Bumthang.

Os outros 106 estão (ou estavam, porque as edificações foram sucessivamente destruídos pelos chineses) no Tibet. O Jokhang é o templo que prende o coração do demônio, o mais importante.

Se você chegou aqui pensando “que groselha é essa?”, então o Tibet não é para você, já vou avisando. Agora se você chegou aqui imaginando a demônia escapando da prisão, destruindo o mundo e esse tipo de maravilha imaginária (ou não), então o Tibet será seu paraíso.

São lendas e mais lendas, histórias e mais histórias.

Peregrino estiloso girando o “negocim” de mantras no Jokhang Temple em Lhasa, a capital do Tibet.

Peregrina e peregrininha fazendo a kora em frente ao Jokhang Temple. Reparou que todo mundo usa chapéu? Além do charme, protege do sol fortíssimo dos Himalaias.

Peregrinos fazendo a kora no Jokhang Temple em Lhasa, a capital do Tibet.

Senhoras mais simpáticas que conhecemos em Lhasa, na kora do Jokhang Temple. Essa vovó é um docinho que fez questão de me mostrar seu cabelo!

Independentemente disso, o Jokhang é o principal local de peregrinação dos budistas tibetanos, então não importa se você passa por lá às 7hs da manhã ou às 11h da noite, você vai ver uma multidão fazendo a kora ou as prostrações por ali.

Não sabe o que é kora ou prostração? Explico.

Fazer a kora é dar a volta em sentido horário em volta de um templo/monastério/local sagrado. Buda não sugeriu que as pessoas o seguissem ou o endeusassem, na verdade ele sugeriu que as pessoas seguissem seu caminho para a iluminação, então essa caminhada simboliza “seguir o caminho de Buda”.

Durante a volta as pessoas vão recitando mantras com ou sem os colares de contas ou girando um negocim que não sei o nome e que tem um mantra encravado. Girá-lo seria como multiplicar os mantras. Resumindo, a kora é uma espécie de meditação em movimento.

Já a prostração é uma ação repleta de significados. Simboliza tanto respeito à tríade budista (Buda, o iluminado,  Dharma, o caminho da iluminação e Sangha, o conjunto de pessoas que busca a iluminação), como a purificação da mente de elementos nocivos, especialmente o ego, além de ser efetivamente um preparo físico.

Alguns acreditam que traz bom carma e que seriam necessárias entre 108 e 100.000 prostrações para dar um upgrade na sua próxima vida (?!!).

Funciona assim: de pé, as pessoas mentalizam os ensinamentos de Buda e depois tocam as mãos em mudra (juntas como em oração nesse caso) no coração, garganta e cabeça (corpo, fala e mente, conforme Buda ensinou que devemos cuidar), e se abaixar encostando os pés, joelhos, peito, testa e mãos no chão. Ou seja, elas precisam deitar no chão com o corpo todo e não apenas se ajoelhar.

Algumas pessoas fazem as prostrações parados em frente aos templos/monastérios/lugares sagrados, outras fazem a kora com prostrações, ou seja, elas dão a volta toda caminhando, abaixando e deitando no chão. Veja no vídeo abaixo.

É bem impressionante! Tenta fazer ai 10 prostrações e você vai entender a canseira que dá! (outra hora conto de um templo em que nos hospedamos no Nepal e em que todos os dias às 6h30 da manhã tínhamos fazer as 108 prostrações…. Rá-Rá… foi uma loucura).

Ali no Jhokang vimos pessoas que são como “prostradores oficiais” mais ou menos como os pagadores de promessa. Eles são bem respeitados e costumam viver da caridade geral, mais ou menos como os Sadhus do hinduísmo.

Também vimos muitos idosos fazendo seguidas prostrações e a gente com essa preguiça de abaixar para amarrar os sapatos. Enfim,  é uma demonstração de fé fortíssima no budismo tibetano.

Essa galera toda está fazendo a kora no Jokhang Temple às 11h30 da noite. Alguns, como se vê, estão em prostração completa, deitando no chão.

Peregrinos durante o dia:

Peregrinos durante a noite:

Ao redor do Jokhang existem 2 rotas de kora, uma menor, mais próxima do templo e uma maior, que vai mais além no bairro antigo de Lhasa. As 2 são lotadas e acompanhá-las é um espetáculo.

Simplesmente entre no ritmo e faça sua meditação ou prece. A gente quase consegue ver a energia criada com aquele movimento circular. Se você não acredita, vá lá pra ver.

A fé ali tem uma força tão avassaladora que você visualiza como é que a cultura e o budismo tibetano não apenas não sucumbiram à dominação chinesa como ainda conquistaram o mundo!

Se você não acredita nem quer acreditar, ainda vale a pena ficar lá só para observar as pessoas com olhar antropológico, porque o Jokhang é considerado um lugar sagrado por várias vertentes do budismo e até pelos seguidores da fé indígena tibetana, conhecida como Bon-Po.

Tem desde estudantes prostrando para passar nas provas e outros pagadores de promessas, mas principalmente monges e tibetanos de todo o platô e todo tipo de fé peregrinando ali e você pode gastar uma vida olhando as diferentes roupas e cabelos de cada região. Eu fiquei maravilhada. Eles são muito estilosos!!!

Além disso, os tibetanos tem uma forma bonita de se relacionar. Assista as famílias dedicando um tempo para conviver em harmonia. Estão sempre sorrindo, brincando juntos. E basta você sorrir para alguém que recebe o mesmo sorrisão de volta.

Adoram tirar fotos, ficam felizes quando vêem que você admira as roupas típicas, os cabelos trabalhados e a fé. Sem falar que muitos tibetanos falam inglês, e muito bem, então você tem ótimas oportunidades para conversar e será sempre muito bem recebido. É muito amor, gente.

Atenção porque é extremamente mal visto andar no sentido contrário da kora, viu? A praça onde fica o Jokhang e o miolo do bairro são relativamente pequenos, mas um dia nos perdemos por lá de noite e andamos um pedaço na direção contrária para tentar encontrar nossa rua, porque já estávamos exaustos e já tínhamos dado umas dez voltas.

Não apenas não encontramos a saída, como tivemos que pedir milhares de desculpas e ainda fomos parar no bairro muçulmano. Rá! Garanto que você não sabia que também tem um bairro muçulmano em plena capital do Tibet! Mas tem, com mesquita e tudo e vale a pena dar uma voltinha por lá também.

Ta vendo ali atrás a mesquita? Em plena Lhasa, a capital do Tibet!

O interior do Jokhang é legalzinho, tem algumas relíquias, mas você só precisa entrar uma vez, depois fica rodando lá na frente mesmo.

Do alto do templo tem uma vista super bonita da praça e das montanhas ao fundo. A visita interna ao templo dura 1h mais ou menos, mas ai o tempo que você vai ficar do lado de fora é com você. No mínimo mais 1h.

A praça onde fica o Jokhang é o lugar mais “bem protegido” que fomos em toda a China. Para entrar na praça tem que passar por detector de metais e tem muita polícia na praça, no entorno e em todo o bairro antigo.

Isso porque, com tamanha fé energizando todo mundo,  claro que ali foi o palco de muitas manifestações tibetanas, tanto pela reconstrução do templo, quanto pela independência e etc.

Vou dizer que esse excesso de vigilância é um pouco desagradável, para não entrar em maiores detalhes. Só vou acrescentar que em nenhum outro lugar da China vi policiais na rua, apesar de que em todo metrô, estação de trem e aeroporto tem milhares de detectores de metais e ainda te fazem beber sua água pra provar que não vai matar ninguém com aquilo (!?).

Resumindo, a meu ver o Jokhang é o Tibet e se você não passar um tempo lá no templo, nem diga que o conheceu.

Pátio interno do Jokhang Temple em Lhasa, a capital do Tibet.

Potala Palace – O Palácio de Inverno do Dalai Lama

O Potala Palace é uma construção impressionante bem no meio de Lhasa e é o símbolo da capital do Tibet. Foi o centro político-religioso e a residência oficial do Dalai Lama ou o “palácio de inverno” durante séculos, até a ocupação chinesa e o consequente exílio do atual Dalai Lama e sua família na Índia, em 1959.

O prédio é enorme, com dois palácios, o Branco e o Vermelho e tantos quartos, aposentos e alas que nem dá para entender direito, mas de qualquer forma você só vai visitar algumas coisas.

Já teve parte destruída e reconstruída. A entrada é paga (normalmente incluído no tour) e o passeio demora mais ou menos umas 3hs, podendo ser mais se você quiser ficar por lá vendo a kora e os peregrinos no entorno.

As visitas só acontecem com hora marcada e número limitado de visitantes ao mesmo tempo.

Potala Palace, um símbolo de Lhasa, antigo centro político e religioso e palácio de inverno do Dalai Lama.

Eu, na escadaria do maravilhoso Potala Palace em Lhasa, a capital do Tibet.

Como sempre, tem história relativa à sua construção! Dizem que o Potala não possui fundações (da uma olhada no tamanho e altura) e que vive “flutuando” na fé. Parece loucura?

Bom, não sei avaliar se a lenda é ou foi algum dia verdadeira, mas fato é que por alguma razão desconhecida o palácio foi construído sobre uma caverna no alto da montanha, onde, diz-se, meditava um importante Bodhisattva (um ser que alcançou a iluminação mas preferiu permanecer no mundo ajudando aos outros). Existiria, assim, um “vácuo” entre a construção e o solo.

Eu não estou dizendo que não há fundações, apenas que a escolha do endereço foi pouco usual. Considerando que a região é bastante pedregosa e que as próprias construções são de pedra, isso parece meio estranho, né?

É por isso que o número de visitantes é controlado, de modo que o prédio não receba peso excessivo (e também para não virar bagunça, claro!).

E também tem todo o mistério da meditação tântrica tibetana que, dizem, seria capaz realizações em diferentes dimensões espaciais, inclusive construções… Ta bom, ta bom, vou parar e deixar o resto por conta da sua imaginação.

Uma das faces do White Palace, dentro do Potala Palace.

Peregrina fazendo a Kora ao redor do Potala Palace em Lhasa, a capital do Tibet.

Lá dentro visitamos alguns aposentos como o quarto e sala de estudos do Dalai Lama onde ele recebeu toda a sua formação. Para quem não sabe, o Dalai Lama era apenas uma criança de 4 anos de uma comunidade totalmente rural quando foi identificado como o XIV Dalai Lama, o Da Gratidão.

Absolutamente toda a educação “formal” e espiritual que ele recebeu foi ali, incluindo os 7 anos que passou sendo ensinado por Heinrich Harrer, um alpinista austríaco que foi interpretado por Brad Pitt no famoso filme “7 Anos no Tibet”.

Além disso, o Potala era o centro político do Tibet enquanto esse era um país independente. Ali eram realizadas as deliberações e tomadas inúmeras decisões governamentais e religiosas.

É outra visita indispensável em Lhasa, tanto pela beleza quanto pela importância histórica.

Um dos prédios do Potala Palace, em Lhasa, a capital do Tibet.

De cima do palácio a vista era lindíssima, com boa parte da cidade espalhada aos seus pés e as montanhas ao fundo. Porém, o governo chinês destruiu o prédio da faculdade de medicina tibetana que ficava numa pequena montanha à frente do palácio e nunca o reconstruiu, construindo, ao contrário, uma horrorosa antena no local e abaixo, uma praça tipicamente chinesa bem em frente ao Palácio.

Para dizer o mínimo, não ornou, para dizer a verdade, é uma afronta ao legado histórico. Mas segue a vida, né?

Esse passeio não é recomendado para o primeiro dia em Lhasa porque você precisa subir bastante escada e a cidade fica a 3500m de altitude, então convém tentar aclimatar um pouco antes de ir!

Norbulingka Palace ou Palácio de Verão do Dalai Lama

Esse outro palácio fica a apenas 3kms do anterior, ainda em Lhasa, a capital do Tibet, mas admito que a atmosfera é completamente diferente.

O Norbulingka fica num imenso jardim, uma área fresquinha e bem colorida, cheia de flores. É um lugar bem gostoso de visitar, fazer um piquenique ou sentar e ficar refletindo sobre a vida ou qualquer outra coisa que você goste.

Nos jardins de vez em quando rolam espetáculos e tem sempre pessoas alugando e outras vestindo roupas típicas bem teatrais para fotos.

São vários prédios, pois o primeiro foi construído em 1755 pelo sétimo Dalai Lama e cada um dos seguintes foi incluindo anexos e edificações.

Eu não fui apresentada à nenhuma história fantástica relativa à construção deste palácio, mas por outro lado, posso garantir que fatos históricos passados ali são muitos.

Num versão bem sucinta dos meus parcos conhecimentos, o momento mais importante do Norbulingka foi a fuga do Dalai Lama para a Índia.

Os chineses invadiram e dominaram o Tibet com relativa parcimônia no começo, fazendo alguns acordos. O Dalai Lama é um grande admirador de Ghandi e acredita até hoje que a situação com a China deve ser resolvida pacificamente com concessões.

Só que os tibetanos foram percebendo que os chineses não estavam muito interessados nessa linha de pensamento e, acreditando que o Dalai Lama seria preso, foram em massa para o Norbulingka para evitar uma invasão chinesa ao palácio e proteger o Dalai Lama.

Muitos acreditavam que o único caminho era lutar e, prevendo um massacre tibetano, o Dalai Lama optou por aproveitar a muvuca para escapar disfarçado e pedir asilo político.

Depois disso, as coisas degringolaram até chegar aos dias de hoje em que falar em independência do Tibet ou no Dalai Lama é motivo de prisão e possível desaparecimento definitivo.

Se isso não for suficiente para te interessar a visitar, saiba que, juntamente com o Potala e o Jokhang, que falei acima, o Norbulingka foi declarado patrimônio cultural pela Unesco em 2001, razão pela qual os 3 prédios vem sendo restaurados e mantidos pelo governo chinês.

Detalhes do Norbulinkga Palace, em Lhasa, a capital do Tibet.

Um dos prédios do Norbulingka Palace em Lhasa, a capital do Tibet.

Sera Monastery – Universidade Budista

Para fechar a lista do que é imprescindível fazer em Lhasa, não saia da capital do Tibet sem visitar o Sera Monastery. Esse é um dos 3 maiores e mais importantes monastérios do Tibet, considerado uma universidade, com capacidade para 6000 monges.

Durante a invasão chinesa e, principalmente depois do exílio do Dalai Lama, esse monastério foi praticamente destruído, a maioria dos livros sagrados foram queimados e muitos monges foram mortos.

Os que sobreviveram, em sua grande maioria, foram atrás do Dalai Lama e buscaram asilo na Índia onde, determinados a não deixarem o budismo tibetano morrer, fundaram um novo Sera Monastery (em Mysore).

Lá, os monges começaram a reescrever os  livros sagrados queimados com o que cada um sabia de cor, montaram uma nova universidade e mantém a chama acesa com quase 3000 monges.

Já no Tibet, o governo chinês passou a controlar de pertinho os monastérios e hoje o Sera tem “vagas limitadas” a 600 monges que devem seguir suas atividades sem invencionices, sabe como é?

Mas todo mundo vai visitar o Sera para ver o debate. Durante algumas horas dos dias os monges praticam lógica em debates sincronizados que são um show para os curiosos de plantão.

Ninguém entende nada, porque eles estão falando em tibetano, claro, mas tem toda uma coreografia que é por si só interessantíssima.

Basicamente, eles discutem budismo tibetano. Um dos monges faz meio que o papel de desafiante, propondo perguntas que são pontuadas por um bater de palmas e pés e o outro ou outros monges fazem a retórica e podem propor outras perguntas.

Monges em debate no Sera Monastery, em Lhasa, a capital do Tibet.

Esse foi um momento bem legal da minha viagem, uma hora de reflexão mais profunda.

Nós já tínhamos visto esses debates na Índia e no Butão (onde eles curiosamente chamam o exercício de “fazer o Tibet”), mas ficamos sentados um pouco com o nosso guia assistindo e ele nos explicou que não apenas os monges faziam esses debates, mas as pessoas também faziam as vezes em suas casas.

Falei: “Sério? Mas vocês debatem o que?” E ele respondeu “Qualquer coisa. Não é uma competição para saber quem tem razão nem é apenas sobre o budismo. É um exercício de pensar“.

Fiquei com aquela cara de tacho enquanto pensava na completa falta de diálogo em que vivemos aqui no Brasil e, bom, em praticamente todo mundo. Talvez a gente devesse copiar o modelo…

Vou parar por aqui por quê já falei demaaaais, mas sei que com tudo o que contei sua visita a Lhasa, a capital do Tibet, já vai ser fantástica! =D

Não esqueça de dar uma olhada nos nossos outros posts sobre o Tibet, que vão te ajudar em todo o planejamento de viagem:

 

Como ir para o Tibet – Passo a Passo

Turismo no Tibet – Roteiros de viagem pelo Budismo Tibetano

Culinária Tibetana e Onde Comer em Lhasa

Turismo no Tibet além de Lhasa e do Everest

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