Uma das negociações mais difíceis que fiz na vida foi a compra de “Cuba por Korda” na Plaza Mayor, em Havana.
Confesso que não sei pechinchar. Esse negócio de ficar chorando desconto sempre me parece um grande teatro que eu tenho preguiça de bancar. Gosto de perguntar quanto custa e, dependendo do preço, comprar ou sair andando.
Foi o que fiz quando vi o livro numa prateleira escondida na bucólica feirinha da praça. Preço pedido, preço dado. Não posso pagar: beijinho beijinho, tchau tchau. Mas nesse caso o “tchau tchau” foi meio desconsolado.
Para quem não leu os posts de Cuba (vai, dá uma lidinha =D), não há muito o que comprar por lá, exceto artesanato que nunca combina em casa, charuto que vai virar cinza ou rum que vai virar ressaca. Ter um livro destes, usadinho e cheio de história, comprado ali onde tudo aconteceu… tinha um quê a mais que pesou no meu coração.
Fiz uma cara tão triste que o vovozinho veio atrás de mim para saber quanto eu podia pagar. Recordando todas as técnicas de negociação que aprendi em anos de observação do meu namarido – mestre na arte -, iniciei a dança do bazar turco. O vovozinho, com muitos anos de experiência prática à minha frente, me fez suar durante meia hora e me vendeu o livro 10 CUCs (mais ou menos 10 euros) mais baratos.
Parece um sucesso e foi quase. O livro é um xodózinho, mas custou caro mesmo com o desconto!
Enfim, eu passei aqui para contar que o livro é um dos meus preferidos no quesito fotografia. Alberto Korda pode ser conhecido por ser o fotógrafo que fez a mais famosa foto de Che Guevara de todos os tempos e que infelizmente foi tão usada que até perdeu a graça, mas quando você abre o livro descobre porque ele foi muito mais do que isso.
Nascido em 1928 em Havana, Korda começou como quase todo jovem fotógrafo: batismos, bodas e festinhas até conseguir abrir um pequeno estúdio de fotos para publicidade e moda com o claro intuito de ficar famoso, conhecer mulheres bonitas e se dar bem.
Um belo dia, ele acordou para a vida e decidiu que queria um mundo melhor (acho que foi assim…) e começou a trabalhar no jornal Revolución, que acompanhava a batalha de Fidel Castro, Camilo Cienfuegos, Che Guevara e Cia. Ltda.
Nessa brincadeira, Fidel um dia perguntou se ele já tinha escrito para jornais porque precisava de um fotógrafo-jornalista para cobrir a sua primeira expedição internacional e, mesmo sem nunca ter escrito um artigo na vida, Korda contou aquela mentirinha básica e foi convidado, tornando-se o fotógrafo não-oficial da Revolução.
Ele se considerava amigo de Fidel e nunca teve um cargo de fotógrafo ou ganhou salário para acompanhá-lo, declarou por ai que o fazia por prazer e admiração pela personalidade de Fidel. E foi assim que ele conseguiu as fotos mais clássicas da turminha de Los Barbudos!
Além do Che galã (foto pela qual dizem que ele não cobrava direitos autorais), Korda é autor dessa foto inclassificável do discurso de Fidel para os camponeses na Plaza de la Revolución:
Dessa inacreditável foto de Fidel na neve:
Da felicidade de uma pescaria qualquer:
E, sem esquecer seu tempo entre as delícias da moda e da beleza:
O que eu aprendi com Korda?
Que Cuba é linda em todas as cores, mas em preto e branco é realmente incrível! E que se um dia eu estiver por perto de uns revolucionários esquisitões, devo colar neles e não desgrudar até ter uma relíquia como esse livro!;D
Bom, você deveria ir até Cuba procurar um para você, mas se não der… descobri que o livro está à venda no Brasil em diversas livrarias por cerca de R$ 90,00 e vale a pena folhear mil vezes!
Aproveite para pesquisar mais, a obra dele é imensa e precisa cavucar no Google para achar mais do que Che com olhar enigmático!
Essas fotos do post reproduzi do site http://alidaanderson.com/Artists/Korda/Korda.html, depois de pedir permissão mental para o próprio Korda! Lá tem mais!
Hasta la victoria!