Como já contei nos posts anteriores, compramos um pacote e emendamos mais 4 noites na casa de uma família cubana, entre as que tem permissão do governo para alugar os quartos.
Pesquisei com pessoas que já tinham ido e optei pela casa da Dona Clara porque ficava na mesma rua do Tryp Habana Libre. Assim ficou fácil: quando acabou a nossa diária no hotel, arrumamos a mala e descemos 2 quadras; e no dia de voltarmos ao Brasil arrumamos a mala e subimos novamente para o hotel, onde um transfer do pacote nos pegou.
O apê da Dona Clara é surpreendentemente ajeitadinho, super seguro e limpinho, com cozinha bem equipada, um computador com internet (discada e paga por hora) e com 3 quartos: 2 que dividem um banheiro e são alugadas e um onde vive a Dona Clara, uma senhorinha muito alegre e boníssima. Reservamos por esse e-mail: donaclararent@gmail.com.
Quando estivemos lá havia um casal que nunca vimos no outro quarto e a Dona Clara passou 1 dia conosco (para se atualizar sobre a novela, claro) e viajou nos outros dias, deixando seu filho Esteban cuidando de nós. O Esteban é uma figuraça e vinha da casa dele todo dia de manhã para preparar um gostoso café da manhã para nós e papear.
Contou toda a sua vida: seus 2 casamentos, seus 6 filhos que estavam espalhados por Cuba e países vizinhos, os 6 filhos da segunda mulher, como eram chamados de malosangre os cubanos que fugiam para os EUA, como foi o pós revolução, como o governo tratava as pessoas, como funcionavam as cotas, como os jovens de Havana estavam desmotivados com relação ao trabalho, onde comer, onde beber, onde comprar café e etc, etc, etc, etc, etc, assim mesmo, sem fim.
Nossas conversas com ele e com os vizinhos valeram ouro e entendemos muito mais da dinâmica da sociedade cubana, como por exemplo o fato dos casamentos e separações serem comuns, já que não há bens para dividir e as famílias não se preocuparem muito com planejamento familiar, já que não pagavam escolas nem plano de saúde e tinham um bom serviço público gratuito. Também entendemos que sim, há classes em Cuba, e que quem está ligado ao turismo tem muito mais oportunidade de prosperar, mas isso é outra história, você vai até lá e vai conhecer sozinho.
São, de qualquer forma, pontos de vista que só descobrimos quando nos aproximamos das pessoas reais do prédio e nos distanciamos um pouco do circuito puramente turístico. Custou 33 CUCs por dia com café e recomendo muito, muito mesmo.
Algumas questões sobre o socialismo vão também, invariavelmente, passar pela sua cabeça. Afinal, valeu a pena ou não? Tem gente que volta com a certeza de que o capitalismo rocks. Tem gente que não acredita que o socialismo faliu sozinho e certamente você não vai ver apenas pobreza e sofrimento se não quiser, mas não vai encontrar um tapete de flores.
E para comer?
Também são comuns em Havana os “Paladares”, que nada mais são do que mesas na casa de uma pessoa que tem autorização para servir comida aos turistas. Alguns já se transformaram em grandes negócios e tome cuidado quando alguém quiser te levar para não cair em cilada, mas alguns são verdadeiras pérolas. O grande lance é chegar cedo. Almoço bom em Havana é entre 12hs e 13hs. Depois já acabaram os melhores peixes e a comida já está mais fria. Parece bobagem mas não é.
Eu particularmente não comi maravilhosamente bem em Cuba porque os pratos eram muito baseados em coisas do mar que eu não gosto: camarões, lagostas, peixes estranhos. Eu seguia firme nos filés de peixe e nos frangos, que vinham sempre com arroz, legumes e às vezes feijão.
Os pratos eram tão fartos que eu quase nunca conseguia terminar. Até recebi uma proposta de casamento de um garçom que me disse que comendo assim eu seria uma noiva muito econômica!
Por isso só vou recomendar 3 lugares: o El Patio, um restaurante meio famoso do lado da Catedral. Peça uma mesa na varanda e coma bem com a vista linda da praça; o Café Paris (Calle Obispo com San Ignacio), com o beabá caprichado e o La Moneda (Calle O’Reilly com San Ignacio).
O La Moneda é um paladar com pouquíssimas mesas onde me realizei. Tudo, tudo, tudo estava perfeito: bananas fritinhas, um peixe derretendo de tão bom e, milagre dos milagres, um doce tão delicioso e tão difícil de encontrar que pedi 2.
Nos outros lugares comemos ao acaso e sem muito para contar, mas conhecer um lugar como Cuba é isso, uma experiência mais doida que a outra mesmo.
Se joga!
Para saber mais sobre Cuba:
Havana – Bares, Drinks, Música Muito Boa
Havana – Conhecendo a cidade e evitando golpes