Escritores nordestinos brilham demais. Enriquecem tanto a literatura brasileira, que podemos até dizer que os autores nordestinos criaram uma categoria própria, a da literatura nordestina. Não estou generalizando, até porque estamos falando dos mais variados estilos e nuances literários e de um espaço físico grande e diverso. Falo aqui no sentido de ressaltar o ponto de vista de onde as histórias partem e exaltar a criatividade, o talento e a riqueza que esses livros sobre o nordeste brasileiro trazem, nos permitindo conhecer um pouquinho, pelas suas histórias, de toda esse maravilhoso balaio cultural.
Desde os maiores autores da nossa literatura como Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Castro Alves, Jorge Amado e João Cabral de Melo Neto, entre tantos outros, abundam do Nordeste clássicos da literatura e nem cabe tudo num único post.
Mas eu queria falar neste post dos autores contemporâneos. Uma turma que está trazendo toda uma nova leva de livros incríveis e que tem tudo para serem os novos clássicos. Quer conhecer? Vem junto!
6 – Dicas de Escritores Nordestinos e seus Livros Sobre o Nordeste Brasileiro
Essa listinha aqui é de livros maravilhosos que li e amei. É claro que existem muitos outros autores nordestinos e um sem número de livros sobre o Nordeste brasileiro, essa aqui é apenas uma pequena curadoria minha, ta? Inclusive, se tiver outras dicas, deixa aqui nos comentários que vou amar conhecer mais!
Deixei os links para encontrar os livros na Amazon. Comprando pelos links aqui desse texto, você dá uma ajuda para manter o blog no ar e eu agradeço muitão!
1- Itamar Vieira Junior – Torto Arado
Começando por esse, que aparentemente já se consumou como um novo clássico. Praticamente todo mundo pelo menos já ouviu falar de Torto Arado, o livro do baiano Itamar Vieira Junior, vencedor de prêmios e sucesso absoluto de público e crítica.
Foi hit instantâneo porque o livro é bom demais mesmo. Itamar, que é doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA com uma dissertação sobre comunidades quilombolas, conta em Torto Arado a história de 2 irmãs que vivem numa fazenda no sertão da Chapada Diamantina.
Acompanhando a vida das irmãs desde a infância, vemos não apenas a transformação das meninas, mas da própria fazenda e do Brasil ao longo dos anos, misturando as cores da Bahia com política, sociologia e religião num enredo forte, envolvente e muito, muito bonito.
Itamar conseguiu transformar em trama a história dos quilombolas e nos faz refletir sobre escravidão (antiga e contemporânea) e sobre todo o período pós abolição. É possível que você veja muitas coisas com outros olhos depois dessa leitura. E tem um toque místico para completar com chave de ouro.
Itamar escreveu outros livros, entre eles o também já fenômeno de vendas “Doramar ou a Odisseia” e acho que devemos seguir acompanhando suas histórias!
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2- Jarid Arraes – Redemoinho em Dia Quente
A Jarid é uma cordelista, poetisa e escritora da região do Cariri no Ceará. Apesar de super jovem, Jarid foi finalista do Jabuti, ganhou vários prêmios e é uma potência impressionante. Para mim, uma das melhores autoras da literatura nordestina atual.
Os livros dela são todos bárbaros, com um olhar bem feminino e regional. São eles: Um Buraco Com Meu Nome, As Lendas de Dandara e Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis. Mas é Redemoinho em Dia Quente o livro que me deixou apaixonada por essa autora.
Neste livro de contos, vamos navegando pela história de várias mulheres comuns que vivem no interior do Ceará (mas poderiam estar em qualquer lugar do país) e que de alguma forma fogem dos padrões. É um puro suco de Brasil.
São histórias atuais de pessoas que poderiam estar contando um pouco da minha vida ou da sua, com um retrato dos dilemas e problemas atuais que estão ali em várias camadas que precisam mais do que o curto tempo de leitura dos contos para absorção.
Para ler e reler, amar e amar mais.
Você encontra Redemoinho em Dia Quente, As Lendas de Dandara, Um Buraco Com Meu Nome e Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis clicando aqui.
3 – Lorena Portela – Primeiro Eu Tive que Morrer
Conterrânea da Jarid, Lorena, que é de Fortaleza, escreveu esse livro que se alastrou por todos os meus grupos de amigas como se seguissem um rastilho de pólvora. No boca a boca, já que a publicação foi 100% independente, o PETQM, como é carinhosamente chamado, se espalhou e ganhou fama.
Justo. O livro, com um toque autobiográfico, conta a história de uma publicitária esgotada que vai passar umas férias no Ceará, sua terra natal, e desembarca em Jericoacoara, onde uma série de acontecimentos a levem à uma profunda transformação.
Sim, você leu certo. A trama toda se passa entre as dunas, lagoas e pores do sol laranja e rosa de Jericoacoara e, embora não seja especificamente um livro sobre o Nordeste brasileiro, ninguém pode negar que é uma ode à este paraíso.
É quase impossível não se identificar um pouco com a personagem principal, uma mulher jovem vivendo todas as delícias e os perrengues de ser uma mulher jovem nesse mundo louco onde o trabalho nos suga, os relacionamentos são rasos, as doenças físicas e mentais se aproximam sorrateiramente e os sonhos parecem ser apenas um lugar distante e enevoado. Boa parte do sucesso do livro se deve à esta identificação, claramente mais forte no público feminino, embora o livro seja uma ótima leitura para toda e qualquer pessoa.
Mas muito mais do que isso, é impossível ler o livro e não sentir uma vontade quase insuportável de embarcar imediatamente para Jeri. Desde a capa, uma ilustração lindíssima da artista Carol Burgo, seguindo página por página, parece que sentimos o vento nos cabelos, o sol na pele, a areia nos pés, o arrastar do forró…
Coisa mais linda botar Jericoacora assim, nos anais da literatura nordestina e brasileira. Eu confesso que posso ter escrito esse post inteiro só para contar pro mundo que tem um livro com Jeri como cenário. Rá-Rá!
Por enquanto o Primeiro Eu Tive Que Morrer só está na Amazon em e-book, veja aqui. Se quiser o livro físico tem que procurar nas livrarias pequenas, o que também é uma delícia, né? Ou diretamente na página da Lorena no Instagram (@portelori).
4- Eury Donavio – Fiados na Esquina do Céu com o Inferno
O Eury é um cara muito simpático que encontrei e bati um papo uma vez por conta de um curso de escrita. Ele falou assim, modesto, como se não fosse nada demais, que estava terminando um livro. E ai me aparece com essa maravilhosidade.
O Fiados é daqueles livros que você lê e fala, peraí, tem alguma lembrança aqui…. seria Graciliano Ramos? Seria Ariano Suassuna? Seria Jorge Amado? Mas não é nenhum deles, é o Eury mesmo, que tem um estilo que pode até nos trazer um cheiro de grandes clássicos de outros autores nordestinos, mas é com uma linguagem e uma narrativa só dele. Talvez isso indique que Fiados já nasceu para ser clássico também… veremos!
Na história, um matador é procurado por um tipo de ser celestial para ajudá-lo a caçar um demônio que está causando a seca no sertão pernambucano. O matador topa, mas sente que a tarefa é ingrata e pode acabar mal. Por isso, ele resolve cobrar uns “fiados” que ele tem por ai antes de sair atrás do demo. E nós vamos com ele.
Rancoroso, bruto, um bocado bêbado e um tiquinho amoroso, o personagem é cativante e o caminho até o desfecho é cheio de aventura e misticismo. Pode pegar sua cachacinha para acompanhar as conversas irresistíveis que acontecem na Bodega da Esquina do Céu com o Inferno.
O Eury, como outros escritores nordestinos, traz aquele cenário árido do sertão. Mas aqui ele está carregado de aspectos culturais desse país chamado Pernambuco que ocupa uma parte do Brasil. É maravilhoso como a seca do cenário e até do matador é preenchida por essa abundância de regionalismos e dos mistérios do céu e do inferno num enredo que deixa saudades quando o livro acaba.
Você encontra o Fiados na Esquina do Céu clicando aqui.
5- Socorro Aciolli – A cabeça do Santo
O povo lá do Ceará bebe uma água diferente que deixa todo mundo cheio de ideias, viu? Tá ai mais um livro para provar! A Socorro, só para dar uma ideia, foi a única brasileira convidada para participar de uma oficina de contos de ninguém mais ninguém menos que Gabriel Garcia Marques.
Nesse livro, Samuel cumpre uma promessa que a mãe o obriga a fazer antes de morrer: encontrar o pai e a avó que ele nunca conheceu. Na sua jornada em busca da família entre Juazeiro e Candeia, no sertão do Ceará, Samuel se abriga na cabeça de uma grande estátua de Santo Antônio que ele encontra pelo caminho e lá começa a ouvir as rezas das mulheres que querem casar, afinal, você sabe, esse é o santo casamenteiro.
A partir daí a via de Samuel dá uma guinada e a da cidade, também. É uma história mergulhada em crenças e tradições bem nossas, um livro sobre o Nordeste brasileiro para ninguém botar defeito.
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6- Marília Arnaud – O Pássaro Secreto
Marília é uma autora de Campina Grande que já tem oito livros publicados e é outro destaque entre os novos escritores nordestinos. Ao ganhar o prêmio Kindle com O Pássaro Secreto, ganhou projeção e levou mais uma vez o nordeste para os holofotes literários já que, concorrendo com milhares (literalmente) de obras, essa foi a primeira vez que um autor nordestino foi vencedor dessa premiação.
O livro é um drama beeeem drama mesmo, aflitivo e até triste, mas muito bonito. Um mulher revive a infância e adolescência atormentada por sentimentos de solidão, inferioridade, ciúmes e raiva que a levam cada vez mais para dentro até a fronteira com a tragédia. O que a princípio parece comum das besteiras doloridas da adolescência vai se transformando em algo diferente e crescendo com o avançar da leitura.
Maldade ou doença, pais relapsos ou situação extrema e como lidar com o descontrole são apenas algumas das questões que se apresentam. É um emaranhado familiar complexo e perturbador, com muitas referências literárias lindas, já que a personagem se desliga da realidade mergulhando em livros e nos mundos imaginários.
Apesar da história um bocado pesada, é super bem escrito e arrebatador.
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Mais Literatura Nordestina e Outros Papos
Deixo por fim a dica de de um livro que pode te apresentar não apenas uma, mas várias autoras do Nordeste. É a Antologia de Escritoras Nordestinas, organizada pela Jeane Tertuliano, uma militante feminista e antirracista, outro fenômeno que vale a pena conhecer. O livro é lindo e além de fortalecer as autoras da região, seus vários contos nos levam por uma verdadeira viagem!
Além disso, a antologia faz juz à memória de Úrsula, o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, a Maria Firmina dos Reis, que era maranhense. Este livro sobre o Nordeste brasileiro faz uma forte crítica antiescravagista. Foi o primeiro livro com viés abolicionista do país, humanizando os escravos que tem voz própria na trama, algo totalmente inédito em 1859, quando foi lançado.
Nunca ouviu falar da Maria Firmina ou de Úrsula? Pois é, ainda bem que esse apagamento está sendo revertido pelo esforço de várias outras mulheres e da editora Antofágica, que fez uma nova edição que é de cair o queixo. Daquelas obras da literatura nordestina que dão orgulho de ter na estante. Pensando bem, acho que vou fazer outro post só para falar dela!
Quer ver outras dicas literárias? Tem várias curadorias com títulos selecionados aqui no blog: Livros Sobre Pandemia, Literatura Japonesa e outros! Dê uma passeada!
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