Sim, Elvas. Não é Elvis nem Évora, é Elvas.
Nunca pensei em passar por essa cidade, mas o destino é uma coisa engraçada. O plano era seguir do Porto com meu papi e namorido de carro por Portugal até a Espanha, mas na hora H descobrimos que para deixar o carro na Espanha pagaríamos mais gordos 500 euros. Como as passagens já estavam compradas, não dava para voltar para Portugal para deixar o carro e como com os mesmos 500 euros nos divertiríamos muito ainda, abandonamos o plano (fica a dica preciosa).
Mas eu fiquei encafifada e lembrei que quando fui à Évora peguei um ônibus cuja parada final era Elvas, uma cidade que vim a saber ficava na divisa com a Espanha. Fui pesquisar e descobri que Badajoz, a vizinha espanhola, ficava a menos de 10kms e era, ao contrário da cidade portuguesa, enorme.
Consultados os acompanhantes, resolvemos ir de ônibus até Elvas (há descontos para estudantes e idosos, mas a passagem integral não chega a 20 euros), de lá irmos de ônibus até Badajoz e pegarmos o carro para rodar pelas estradas espanholas. E foi assim que fomos parar em Elvas.
Só que o plano teve uma pequena reviravolta. De Lisboa a Elvas são cerca de 3hs de viagem, muito confortáveis, diga-se, já que as estradas são todas ótimas e a paisagem é digna de quadro. Pegamos o ônibus às 8h30 e chegamos lá pontualmente às 11h30. Já havíamos reservado o carro em Badajoz, mas tínhamos que buscá-lo até 1h (porque fecha para a sesta…) e o ônibus para lá só sairia às 12h30. Resolvemos pegar um táxi, mas o taxista cismou que não podia andar com malas no banco do passageiro e como não era muito espaçoso, não coube toda nossa bagagem no porta-malas. Papi teve que ficar esperando na rodoviária.
Alugar carro na Espanha foi beeem diferente de alugar em Portugal. Fizemos tudo por uma central telefônica (da rentalcars, dá para fazer pelo site também), ainda em Portugal. Só que nos passaram um endereço inexistente para pegar o carro e a nossa sorte foi que o taxista teve uma ideia brilhante e achou o lugar. Chegamos lá em cima da hora porque esquecemos o fuso horário (fica a outra dica…), fomos recepcionados com uma calorosa falta de atenção que culminou em surpresa quando pedimos um GPS (??!!?) e sequer inspecionaram o carro que estava parado lá longe. Nos deram as chaves, apontaram o carro e trancaram as portas para o almoço…
No fim deu tudo certo e em 5min estávamos de volta para pegar o papi. Como já estávamos confortáveis no nosso possante e já era hora do almoço, decidimos dar uma volta para ver a cidade e almoçar. Afinal, é Alentejo minha gente, a comida mais maravilhosa, sempre.
Foi ai que começou a parte mais deliciosa do dia. A cidade foi uma daquelas surpresas que se transformou num dos lugares preferidos da viagem para o meu pai. Lindinha, arrumadinha, cheia de lugares históricos, cercada de muralhas em forma de estrela das quais você tem uma vista estupenda dos arredores (depois vi uns azulejos em no Palácio do Marquês de Fronteira retratando o lugar e fiquei até emocionada).
Comece na Praça da República e vá andando para o Castelo, Portas de São Vicente, Igrejas, Torre Fernandina, Fonte da Misericórdia, ruas, ruinhas, ruelas, travessas, muralhas e pare lá pelos lados das portas de Olivença para ver o Forte Santa Luzia e os Fortins e terrenos sem fim do entorno.
Agora estupendo mesmo foi o almoço. Paramos no posto de turismo e pedimos umas indicações. Falei que gostaríamos de comida típica regional e eles indicaram 2 restaurantes: o A Coluna, na Rua do Cabrito e o Adega Regional, na Rua João de Casqueiros, 22B. Demos uma passada nos dois e tenho a mais absoluta certeza de que nenhum decpciona, mas optamos pelo segundo. Pedimos de entrada uma farinheira, uma recomendação da mãe do David que eu não podia voltar para o Brasil sem provar, mas que não é fácil de encontrar. Perfeita! Vinho da casa, perfeito! Prato principal migas de coentros com pataniscas, perfeitos. Tudo numa fartura sem igual que quase nos fez parar para dormir… Não é à toa que o restaurante estava cheio de espanhóis que despencam até lá para se deliciar!
Mesmo que você não queira se fartar de comer (o que deve ser pecado), vale a pena incluir essa cidadezita no seu roteiro ou no caminho para a Espanha para um passeio ou despedida tranquilos, sem legiões de turistas e, de quebra, comendo bem. Para mim, essa é a prova de que viagem boa é aquela em que alguma coisa dá errado para render muita história e lembranças ainda mais intensas do que muitas daquelas que antes achávamos tão importantes.
Aproveite!