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Coimbra Universitária

Portugal Coimbra Tradição Acadêmica

Minha amiga Ana Luisa ama Coimbra e não admite que ninguém sinta menos que o mesmo. Depois de um ano de doutrinação, ela me convidou para um delicioso e animado almoço com a família dela (obrigada e abraços carinhosos a todos!) e depois me mostrou a cidade.

Acompanhar a guia Ana não é fácil. Ela me fez subir, descer, correr, bater centenas de fotos, tudo com sua característica e aparentemente infindável energia. Esforço compensado pela caixa de ovinhos de páscoa de sabores diversos presenteada pelo pai dela e que quase me fez chorar quando acabou, de tão boa!

A Ana ama Coimbra porque estudou na tradicionalíssima Universidade de Coimbra  (um monte de brasileiros ilustres estudaram lá também!) e foi lá no núcleo principal a nossa primeira parada. Primeiro passo foi conhecer as bolas de Dom Dinis. Reza a lenda que no dia em que uma aluna sair virgem da Universidade as bolas cairão, mas até o momento elas continuam firmes e fortes. Por ai dá para entender a alma da cidade: loucura total.

As bolas de Dom Dinis

Dom Dinis guardando a entrada da Universidade!

Como qualquer universitário, os de Coimbra precisam aproveitar ao máximo a vida e entre uma estudadinha e outra, promovem dezenas de festas, outras festas, bebem como loucos, provavelmente fazem sexo, e ainda cuidam das tradições. Em resumo, são felizes e fazem este maravilhoso período ser inesquecível.

Como a Universidade tem quase o mesmo tempo que o Estado Português, ou seja, mais de 500 anos, o Paço das Escolas ocupa o que era o Paço Real, que tem toques muçulmanos e foi berço do nascimento de vários reis portugueses. É um arraso. O acesso é diário, com mudanças de horários, mas em geral entre 10hs e 16h30. A entrada custa entre 5,50 e 10 euros.

Você vai entrar pela Porta Férrea, poderá visitar uma parte das salas de aula, a Faculdade de Direito, a Capela de São Miguel, a escadaria de Minerva, a Sala dos Capelos (onde ocorrem as defesas de doutorado, acredite se quiser), o cárcere acadêmico (!!), a Torre cujos sinos ainda regem os horários acadêmicos (mais conhecida como Cabra), a via Latina e a Biblioteca Joanina, uma obra-prima barroca onde a conservação dos livros antigos, inclusive o manuscrito de Os Lusíadas, é feita por morceguinhos amigos!

A Porta Férrea

Bela Vista do Paço das Escolas!

Olha a Cabra ali e a Via Latina!

Como se não bastasse, terá uma bonita vista da cidade e poderá iniciar sua incursão pelas ruelas cheias de histórias e segredos, uma delícia.

Mas para entender o espírito da cidade, antes de tudo você deve compreender o que é “tradição acadêmica”. Confesso que tomei um susto quando vi pela primeira vez uma loja de capas pretas. Foi no Porto e me pareceu mais uma loja para cultuadores da wicka, vodu, magia negra, sei lá: capas negras, caldeirões, cartolas e outros objetos esquisitos são vendidos ali. A Ana me explicou tim tim por tim tim que isso é exatamente a tradição acadêmica que, segundo ela, é originária de Coimbra e foi copiada pelo resto do país.

Os estudantes, ao entrarem na Universidade, passam pela Praxe, ou são praxados, o que é uma espécie de trote, só que dura muito mais tempo. Eles andam de pinicos na cabeça, ensaiam musiquinhas, fazem coisas bizarras como beijar uma cabeça de porco e sei lá mais o quê.. Ai, arrumam uns padrinhos e adquirem suas capas negras, que vão acompanhá-los durante todo o período na universidade e que eles utilizam em algumas ocasiões especiais definidas no códigos de praxe (!!) de cada universidade, como por exemplo quando saem pelas ruas cantando ou vendendo umas prendas para juntar dinheiro para a formatura.

E na loja de “cenas acadêmicas”… emblemas, pins, pás…

…capas, trajes, cartolas…

…lembrancinhas…??!!

Repare bem e em todo Portugal você verá alguém todo de preto, com as longas capas que obrigatoriamente devem tocar o chão. Você ainda não chegou à Hogwarts, mas pode ter certeza que muito do mundo de Harry Potter saiu daqui.

Essas capas pretas podem ter emblemas e pins presenteados e comprados e, no último ano do curso, quando os alunos são finalistas, são acrescidas de cartolas, casacos, e fitas das cores do curso. Tem até uma espécie de polícia das tradições acadêmicas!

Em geral, o começo do ano acadêmico é marcado pela Latada, uma espécie de festa de boas vindas. O fim do ano acontece em maio com a Queima das Fitas, uma festona de uma semana para os alunos sairem às ruas queimando as fitas nos caldeirões de vodu, quer dizer, nos caldeirõezinhos simpáticos, encherem a cara, rasgarem as capas com os parentes, amigos e amantes de acordo com a tradição e, em Coimbra, eventualmente acabarem pelados…

Mas não é só! O fado de Coimbra  também é tradicionalmente diferente e altamente ligado à vida universitária e, sendo Portugal o que é, ao invés de um bota fora com micareta, a Queima das Fitas começa com a Serenata Monumental em que os estudantes, todinhos de preto dos pés a cabeça se reúnem na escadaria da Sé para chorar o fim do período mágico tocando um fado bem triste. É de cortar o coração, mas não deixa de ser bonito, veja um videozinho… Curiosamente, há quem diga que o fado de Coimbra se diferenciou graças a alguns estudantes brasileiros do século XIX que se meteram nas melodias, será?

Olha ai na Porta da Biblioteca Joanina!

Não é meio sinistro?

E eles saem pelas ruas cantando…

Como você pode ver, uma loucura total. Se quiser participar, basta agendar a data. Se quiser pegar mais leve, apenas circule pela cidade durante uma semana e sinta a agitação que impregna tudo, até o time da cidade conhecido por… Acadêmica e em que a torcida vai toda de… preto. Fui num jogo deles e simpatizei. A Mancha Negra é uma torcida mais animada que o normal (alguns acho que ainda estavam bêbados do dia anterior) e cantam uma musiquinha simpática: “deixei a casa, mulher deixei, minha briosa, sempre te amarei….”

Além de perambular pelas ruelas, alguns lugares que podem complementar sua tradicional visita acadêmica: Teatro Acadêmico Gil Vicente – Praça da República – , loja de “cenas acadêmicas” A Toga  – Av. Sá Bandeira, 46 -, a casa de fado (aqui as bandas chamam-se tunas) Fado ao Centro – Rua Quebra Costas, 7- (adoro a descrição: “todos os músicos que actuam são actuais ou antigos estudantes da Universidade de Coimbra, e actuam envergando as suas capas originais”), o Bar da Associação Acadêmica de Coimbra – Av. Padre Antonio Vieira com Praça da República.

Se a sua estadia será ao estilo estudantil, opções de hospedagem são: Serenata Hostel Coimbra, no Largo da Sé, 21-23 e o Guesthouse Casa Pombal, na Rua das Flores, 18, ambos no centro das repúblicas estudantis e dos agistos noturnos. Já para comer você pode ir sem medo nas cantinas universitárias e para badalar, além do BAAC já citado, pode visitar o Quebra, na Rua Quebra Costas, 45-49.

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