Você conhece o Butão? Já ouviu falar que o Butão é o país da felicidade? Já pensou em fazer uma viagem para o Butão? Não? Nem sabe onde fica?
Pois é, eu sabia pouco sobre o Butão quando resolvi visitá-lo. O pouco que eu sabia era que o país era um tanto fechado, predominante budista e que ao invés de basear o sucesso ou progresso do país pelo PIB (produto interno bruto), como todo o resto do mundo, no Butão o que era medido era o GNH, o gross national happiness ou “índice de felicidade nacional”. Apesar de já ter ouvido falar que o Butão era o país da felicidade, eu honestamente não fazia ideia do que isso significava na prática e queria muito entender. Para mim era óbvio que não se tratava apenas de saber se o povo andava rindo à toa pelas ruas.
Só isso era suficiente a me motivar à ir até lá, mas tinha muito mais a descobrir. Durante minha pesquisa antes de viajar e da minha vivência depois da viagem cheguei à conclusão que o Butão é um lugar tão único e especial que costumo dizer que parecia que tínhamos saído do planeta Terra.
Foi tudo tão surpreendente, leve e maravilhoso que eu recomendo a todos uma visita. E vou trazer aqui umas informações básicas que serão necessárias para organizar a viagem para o Butão, mas não se preocupe, vou tentar não estragar as surpresas para que você também tenha uma experiência de outro mundo! Vem comigo?
Conheça as opções de roteiros para o Butão.
Por que o Butão é considerado o País da Felicidade?
Começando pela questão mais conhecida do país. Embora seja conhecido como país da felicidade, nos levando a crer que é um lugar onde as pessoas são especialmente felizes (o que pode ou não ser verdade também), como eu já disse, no Butão o governo usa o “índice de felicidade nacional” como um medidor do sucesso e progresso do país e foi assim que surgiu o “apelido”.
Como a maioria das pessoas, eu nem sabia o que era o tal do índice, mas já tinha uma certa crítica. Na verdade ao mesmo tempo que eu achava um conceito bonito e provavelmente necessário, simplesmente achava naive ou falso. Como é possível medir a felicidade nacional? Pesquisa? Será que eles andam pelas ruas perguntando: “Oi, quão feliz você está esse ano?”. E quantas pessoas responderiam algo assim com sinceridade? Como chegariam num número com dados como esses?
Um conselho? Não perca muito tempo com essas confabulações. Nada fará muito sentido até você chegar ao Butão. Esse índice só poderia ter surgido lá, naquele universo próprio do país. E vai muito além da felicidade como esse sentimento individual e efêmero de prazer, alegria e satisfação.
Veja aqui as 10 Atrações Imperdíveis do Butão.
E é isso que espero que você se lembre. Se você quer conhecer o Butão, a primeira coisa que deve ter em mente é que lá o coletivo ainda é muito mais forte que o individual. Predominam relações mais solidárias e humanas, de convívio e de responsabilidades compartilhadas.
O conceito do GNH é baseado justamente nos sentimentos de integração, compaixão e da vontade de manter essa essência mesmo quando o país se desenvolver, passar aos usos tecnológicos e ao contato com o restante da civilização. Convenhamos que nosso mundo é uma grande bagunça, né? Então, eles perceberam isso e resolveram fazer algo diferente, de modo que eles não sejam solapados pelos costumes do mundo exterior. Admiro.
Eu não me tornei nenhuma especialista no assunto, então vou apenas resumir o que aprendi para que você possa ir além. O GNH considera a felicidade como algo multidimensional baseado em 4 pilares: desenvolvimento sustentável e equilibrado; conservação ambiental; preservação e promoção da cultura e boa governança. Captou o espírito da coisa? Depois de alguns estudos e pesquisas esses pilares se desdobraram em 9 áreas: bem estar psicológico, diversidade cultural, manutenção do meio ambiente, padrão de vida, saúde, educação e boa governança. E dentro dessas áreas, foram criadas métricas e questionários com perguntas que vão desde escolaridade à meditação, uso de medicinas alternativas, conhecimento dos métodos de prevenção ao HIV, conhecimento de lendas folclóricas e da constituição, preocupação com animais selvagens e poluição, quantas horas as pessoas dormem e quantas elas trabalham, inclusive sem remuneração, como cuidando dos filhos, por exemplo. Juro. Com base nas respostas são programadas ações com o objetivo único de aumentar a “felicidade” geral.
Basicamente eles buscaram uma forma holística de desenvolvimento (e essas palavras não parecem descombinadas?!), algo que vá além da satisfação material, guiando o planejamento sócio-econômico e prioridades governamentais. Mais do que um índice, é um estudo profundo da história do país e seu povo ao longo do tempo. Um modelo único. (você pode saber mais sobre o GNH no centro de estudos butanês).
Os butaneses conhecem o GNH e se orgulham dele. Se orgulham das ações resultantes. De ter uma escola e um centro médico em todas as vilas ou em uma distância razoável. De usar as roupas tradicionais e ter uma escola de artes típica. Nosso guia nos falou com orgulho que um dos objetivos do pilar “conservação ambiental” era recuperar e manter 60% do território do país com áreas de vegetação nativa e que numa mobilização nacional foram plantadas mais de 2000 árvores tornando esse percentual já viável. Acredite, o lugar é de outro planeta!
Claro que há críticas (não muito abertas, mas com jeitinho sempre dá para ter interessantes conversas), claro que há dificuldades e que como todo ser humano no mundo, os butaneses tem dias felizes e outros nem por isso, mas o balanço geral é mais positivo do que negativo.
Saiba o que fazer para Conhecer o Butão.
Eu achei que além de país da felicidade o Butão também poderia ser chamado de país da coragem ou da inovação. Senti que eles estão um passo além de nós, mesmo que pareça o contrário, por ser ainda bastante rural e simples. A verdade é que eles já entenderam que o modelo de vida que criamos e espalhamos para o mundo todo simplesmente não é viável e estão buscando um novo caminho que inclui desenvolvimento e economia, mas sem abrir mão de qualidade de vida, de ver os homens como um conjunto de sentimentos e necessidades e não apenas como números. Eu não sei se o que eles fazem é o caminho certo e só o tempo dirá, mas eu, sem trocadilhos, me senti feliz em conhecer um lugar que tem a coragem de perseguir a felicidade abertamente e que quer sim, que seu povo sorria à toa.
Butão – Monarquia Constitucional Livre
O país da felicidade é uma monarquia constitucional, ou seja, existe um rei hereditário, mas também um primeiro ministro, poder legislativo e múltiplos partidos que disputam eleições de acordo com a constituição de 2008. O rei é conhecido como “Dragon King“, por isso a bandeira do país tem esse símbolo.
Outra curiosidade é que o budismo é a religião oficial do país, representada na figura do rei. A escola dominante e também “oficial” é a red hat, uma vertente do budismo tibetano. Eu já comentei em um post sobre o Tibet que nem todos os budistas seguem o Dalai Lama, mas no Butão, pela proximidade das escolas, ele é muito querido e o budismo tibetano é bastante respeitado.
Saiba como é Domir uma Noite num Monastério Budista no Butão.
O povo ama o rei. Muito. Tanto o aposentado quanto o em exercício. O em exercício é considerado justo, simples e tradicional, merecedor do reinado. Confesso que achei eles simpáticos e comecei a seguir o rei no Instagram (influenciada por uma amiga que também segue, embora nunca tenha estado lá). Ele não posta muita coisa interessante, mas a família real é bonitinha mesmo. Fique atento porque falar mal da família real pode ser considerado um crime e também uma blasfemia. Pelo sim, pelo não, evite pelo menos para não deixar os butaneses desconfortáveis.
Achei interessante pisar num país em que o governo é considerado bom. O povo aprova o governo, não apenas venera uma família real ou acompanha as fofocas vindas de um palácio que mais parece uma linda casa de campo. Mais uma vez, há críticas, claro, mas em geral a balança é positiva. E achei mais interessante ainda o fato do Butão nunca ter sido colonizado, por isso o Livre ali de cima, por minha conta mesmo. Olhe no mapa: divisa com a Índia e China. Como ficou ali, intacto? Perguntei inúmeras vezes sobre a relação do Butão com esses países e a maioria das pessoas respondiam simplesmente que os vizinhos não tinham interesses ali. Amigo, a China tem interesse em toda parte (aproveito para indicar de novo a leitura do China’s Silent Army, que já indiquei nesse outro post) e a Índia tem gente para habitar dois territórios daquele! Mas lá está o Butão, com sua língua, terras e tradições intocadas.
Últimas Curiosidades do Butão (desse post)
A língua oficial do Butão é o butanês os Dzonghka, mas existem dialetos em diferentes regiões. É uma língua similar ao tibetano e nas cerimônias religiosas eles usam um dialeto comum. Encontramos, além dos nossos guia e motorista e do pessoal dos hotéis, algumas pessoas que falavam inglês, mas não é tão comum.
Assim como no Tibet, a expressão Tashi Delek é amplamente utilizada para dar oi, desejar coisas boas, iniciar emails e onde mais couber. Aprendi mais umas palavras que eram uma sopa de letrinhas difíceis de guardar, então vou deixar aqui somente mais uma, realmente útil: Kaadinchhey La ou obrigada.
Saiba como é Dormir numa Fazenda e visitar um Festival no Interior do Butão.
O esporte mais querido dos butaneses é o arco e flecha. Às vezes passávamos por áreas de treinamento e estava sempre lotado de praticantes com suas roupinhas curiosas. Me arrependi um pouco de não ter ido fazer uma aula. Não entendo muito do tema, mas li num livro do Pico Iyer que nas olímpiadas de Barcelona alguns jovens butaneses competiram pela primeira vez. A modalidade olímpica é bem diferente e eles ficaram com os últimos lugares, mesmo sendo muito bons. E foram atrações com suas vestes típicas. Mas eles não ligaram, porque era a primeira vez que aqueles jovens saiam do país, tudo era novidade, inclusive o mar, e eles estavam fascinados! Pense na diferença entre Barcelona e o Butão! Como eu disse, imagino que tenha sido como se os arqueiros tivessem viajado para outro planeta…
No Butão o uso das roupas tradicionais é obrigatória para os butaneses (turistas podem se vestir como quiserem, desde que sejam respeitosos nos locais sagrados) nas escolas, prédios governamentais e religiosos. É um esforço para manter as tradições, mas um pouquinho autoritário, eu diria. Eles se orgulham, mas sei lá se queriam estar assim o tempo todo. Durante o dia você vai ver quase todas as mulheres com saias longas, camisa de seda e kira, um tipo de casaquinho de mangas largas e os homens com uma roupinha muito esquisita. É o Gho, um tipo de roupão na altura do joelho que não pode ser estampado nem da cor da roupa dos monges. Eles usam com sapatos e meias e uma faixa. Nas cerimônias religiosas usam umas botas todas bordadas lindonas. Achei engraçado que eles guardam um monte de coisas dentro do Gho e do cinto e é meio estranho quando sai um smartphone dali de dentro do roupão…. Também pensei que a vida não devia ser fácil para os homens no inverno.
Mas difícil mesmo é a vida dos fumantes. Sim, meu caro, o país da felicidade também quer ser o primeiro país livre de cigarro da face da Terra e por isso não apenas é proibido fumar em locais fechados, em prédios públicos e religiosos, ou seja, quase toda parte, como não é permitida a venda de cigarro. Turistas podem levar 10 maços de cigarro ou 250g de tabaco, mas devem declarar na chegada e pagar uma taxa mais impostos que custam 200% do valor dos produtos.
Eu não estou dizendo que não tem cigarro porque como todo mundo sabe, tudo que é proibido existe escondido, mas como não fumo, não sei mais nada sobre isso e tenho que confessar que sem o fumacê comum na Ásia eu mais uma vez tive a certeza de que estava no país da felicidade…. Também não digo que ninguém fuma, mas tipo assim, a única pessoa que vi fumando durante os 8 dias em que estive lá foi um chinês que trabalhava numa obra. E ele estava escondido atrás de uma britadeira. Mesmo que você leve sua cota, pergunte antes de acender seu cigarrinho se está em local permitido para evitar problemas.
E para completar, fique bem atento ao seguinte: é comum ver a planta da cannabis crescendo em campos e beira da estrada. Assim como em parte da vizinha Índia, é considerada um matinho sem utilidade, mas nem por isso você pode pegar uma folhinha, ou cabinho ou plantinha inteira. Se você for pego portando a verdinha poderá amargar até 5 anos de cadeia, não importa se pegou so para tirar uma foto e um sarro ou se pretendia mesmo fazer algum uso. Obviamente, se você não pode nem acender um cigarro comum, não pode acender um baseado, ok?
E ai? Ficou curioso para fazer uma viagem para o Butão? Então continue acompanhando o blog porque vou contar tudo o que você precisa saber para conhecer esse país incrível sem dor de cabeça!
Mais um Help para você:
Apesar de ser um país super bacana e com estrutura médica, não viaje sem seguro! A gente nunca sabe o que pode acontecer e estar preparado é um alívio, como já expliquei aqui neste post Seguro Viagem Cobre Doenças, Acidentes e Imprevistos.
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Se você vai visitar o Butão em conjunto com outros países asiáticos, aproveite nossas outras dicas sobre Nepal, Tibet, Bali, Tailândia, Vietnã, Cingapura e Japão. A gente conta como fazer a trilha até o Base Camp do Everest, visitar lugares sagrados no Tibet, fazer um retiro de yoga na Tailândia, passar uma noite num templo no Japão e muito mais!
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