Bucareste Literária – Conhecendo uma Autora Romena
Quando soube que minha viagem para a Romênia ia sair do papel fui logo em busca de livros de autores romenos ou sobre a Romênia para que eu pudesse começar a descobrir quem era esse país. Para mim, era um lugar bastante misterioso, relacionado em grande parte ao Drácula de Bram Stocker, que nunca sequer esteve lá.
Eu conhecia uma única autora romena e mesmo assim, só de nome. Herta Muller ganhou até um Nobel de Literatura, mas eu ainda não tinha tido tempo para ela. Sai em busca de seus livros e descobri que não era tão fácil assim de encontrar um exemplar no Brasil. Embarquei sem nada, mas cheguei lá disposta a descobrir alguma coisa.
Nos meus 4 dias em Bucareste, fui descobrindo um pouco desse lugar complexo, lindo, antigo, cheio de lendas, mistérios, histórias e descobri que a cidade é repleta de livrarias, como a Humanitás, a La Biblioteque e as Carturesti. A Carturesti é uma rede de livrarias que tem várias lojas na cidade. Algumas bem pequenas e intimistas e outras gloriosas e famosas, como a Carturesti Carusel, que fica num prédio restaurado que de tão lindo virou ponto turístico.
Fui à Carturesti Verona, a primeira da rede, menos famosa mas igualmente instalada num prédio restaurado maravilhoso e fui surpreendida por uma atendente simpática que me apresentou para alguns autores romenos, entre eles Ioana Pârvulescu. Minha nova amiga me contou que Ioana é uma professora super respeitada em Bucareste e tem uma capacidade incrível de imaginar e descrever a cidade como ela era há um século. Fiquei interessada.
Fui até o setor de “autores romenos em inglês” e achei este livrinho simpático que me serviu de companhia numa rápida visita ao Parlamento e numa tarde de café à beira rio: “Life Begin on Fridays”. Você encontra o livro e o ebook aqui na Amazon, mas infelizmente não achei traduzido, só em inglês.
Life Begin on Fridays – Ioana Pârvulescu
O livro começa com a descoberta de dois homens desacordados num parque de Bucareste em 1897. Um está baleado e inconsciente e o outro não se lembra de nada. A história se desenrola em torno desses personagens misteriosos e de uma investigação para descobrir quem são e o que aconteceu com eles. Tem detetives, tem segredos, tem tudo para ser um grande livro policial, mas não é.
Os 13 capítulos narram 13 dias entre a descoberta dos homens e a virada do ano em várias vozes. Várias mesmo. São tantos personagens contando versões do mesmo tempo que eu confesso que demorei para engrenar na leitura e entender o fluxo. O próprio tempo é um personagem do livro de certa forma. Por algumas páginas, achei que Ioana ia me decepcionar, não por ser o texto ruim, mas simplesmente por ser um pouco chato, talvez difícil mesmo para quem não está habituado com a vida na Romênia. Mas enquanto eu pensava isso, percebi que estava envolvida com os personagens.
O que aconteceria com Nicu, o menino que interliga os personagens? E com Iulia, a sonhadora garota que é um rascunho das mulheres modernas do século seguinte? E com o detetive Costache, tão solitário e determinado? E com o esquisito Dan, o homem que não lembra de nada?
Acima de tudo, eu estava apaixonada pela descrição da vida naquela época. Eu conseguia apagar as lojas modernas, carros e bicicletas das ruas históricas pelas quais eu tinha acabado de passar e imaginar os personagens em suas carruagens, espartilhos e chapéus caminhando por ali. Conseguia imaginar como era difícil o inverno numa cidade que pode ser tão gelada numa época em que eletricidade ainda era uma raridade e em que o gelo era trazido dos lagos. Eu podia ver as chaminés, sentir o cheiro de fuligem, ouvir os cascos de cavalos.
Os personagens flanam pela famosa Calea Victoriei, onde fiquei hospedada e cujos prédios de época me encantaram. Entram em igrejas pelas quais passei, falam dos parques pelos quais caminhei. É uma delícia, a própria Bucareste como um personagem, com detalhes do modo de ver e viver de outro século.
Os personagens falam da vida diária, de falta de dinheiro, das polêmicas da época na Europa, de doenças, de política e tudo vai se entrelaçando e te levando para outras passagens da cidade e do tempo. O enredo, no fim, é um mix de inúmeros pensamentos e vivências individuais que são por si só uma verdadeira viagem.
Vale a pena ler antes da sua visita à Bucareste se quiser transformar suas caminhadas pela cidade em uma verdadeira trilha de recordações e divagações. Mas também é um ótimo motivo para você visitar a Carturesti (além das fotos) ou qualquer outra livraria e trazer um pedacinho da cidade na sua mala, como eu fiz.
No final fiquei surpresa com o epílogo, em que a autora comenta os novos nomes das ruas citadas, os prédios que existem e os que foram demolidos (porque o povo adorava demolir por lá, uma das coisas para você aprender na sua viagem). Descobri que um dos cenários do livro, o antigo Teatro Nacional, foi destruído e deu lugar à um hotel, que hoje tem uma réplica do pórtico do que antes era o prédio mais bonito e importante de de Bucareste. O Novotel, onde me hospedei. Não é coincidência, não é mesmo?
Espero que você se divirta com esse livro tanto quanto eu!
Outros Autores Romenos e Livros Sobre a Romênia
E se quiser conhecer outros autores romenos e outros livros sobre a Romênia, aqui uma listinha bacana para te inspirar (pira no último livro, teria o autor se inspirado na nossa Cora Coralina?) :
- Herta Muller: O Compromisso, Já Então a Raposa era o Caçador, Tudo o que Tenho Levo Comigo
- Dora Pavel: Agata Muriendo
- Laura Erber: Esquilos de Pavlov
- Carmen Firan: The Farce
- Panait Istradi: Kyra Kyralina
Quer ver mais livros sobre lugares para viajar? Então visita essa página aqui que tem outras coisas legais!
Quer saber mais sobre a Romênia e sobre Bucareste? Então vem aqui que tenho muitos posts que podem te ajudar a conhecer um pouco desse país e também a montar um roteiro de viagem incrível por lá!
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