Um fim de semana em Belo Horizonte
Belo Horizonte é daquelas cidades em que vale a pena passar um fim semana ou um feriado. Para um fim de semana não falta programação e estando pertinho do mágico Inhotim e de encantadoras cidades mineiras para todos os gostos, é uma viagem deliciosa para uma esticada.
No nosso caso, fomos num sábado, aproveitamos o fim de semana em BH, passamos a segunda-feira em Ouro Preto (100km de BH – saiba mais sobre esse dia delicioso aqui) e gastamos a sola do sapato na terça e quarta em Inhotim (60km de BH – saiba tudo sobre esse passeio incrível aqui)
A gente queria mesmo era conhecer Inhotim e claro que era só para dar uma passada por Ouro Preto, mas quem não gosta de cidades históricas? Algum maluco da cabeça ou doente do pé…
Beagá tem aquela fama de ter a maior concentração de botecos do Brasil e todos eles cheios de quitutes mineiros o que, óbvio, teve papel decisivo sobre a nossa decisão de passar o fim de semana lá e não em Inhotim. Mas além disso, fato é que parques, jardins botânicos e exposições de arte sempre são mais tranquilos durante a semana e Inhotim é tudo isso ao mesmo tempo.
De carro desde Confins e por Belo Horizonte
Com esse roteiro, decidimos abandonar o táxi e o ônibus e alugar um carro. Fizemos tudo pela internet e eu garanto que isso fará seu din din se multiplicar, pois sai bem mais caro alugar lá no aeroporto de Belo Horizonte. Com toooodos os gastos, inclusive gasolina, – considere aqui muitas voltas perdidos – estacionamento, 5 diárias e uma lavadinha antes da devolução, gastamos R$ 520,00 (em 2012, mas agora em 2016 as diárias continuam em torno de R$ 80,00 e não há pedágios, portanto haveria alguma diferença somente na gasolina). Valeu a pena cada centavo, pois acho que não teríamos visto tanta coisa sem ele e se você tiver em mais pessoas fica uma pechincha que pode ser incrementada por um GPS e ar condicionado (abrimos a mão, mas nem tanto…). Bem, também seria possível ir de carro até BH e Inhotim, mas são longos 600kms de São Paulo que requerem mais tempo para a viagem.
No aeroporto de Confins, há um posto de informações que vale muito a pena ser visitado. Além de um mapa com as principais regiões de visita de Beagá, eles tinham um excelente guia das rotas da estrada real que podem ser muito úteis em outras ocasiões e que trazia muitos dados de Ouro Preto. O rapaz que nos atendeu era super simpático e até pintou no mapa nosso caminho!! Sensacional!
1ª Parada: Brasilinha ou Cidade Administrativa de Belo Horizonte
Seguindo a rota fluorescente que tínhamos em mãos, demos de cara com a novíssima Cidade Administrativa ou Brasilinha, como é conhecida por alguns. Vale a pena a parada para todos que descem em Confins, pois fica mesmo no caminho até Belo Horizonte. Não há visitas monitoradas, ou seja, você não entra nos prédios nem recebe explicações, e o guarda até ficou surpreso e com aquela felicidade orgulhosa quando dissemos que queríamos visitar! Além de nós, não havia mais ninguém por lá.
É mais uma obra de Oscar Niemeyer e cada prédio parece com algum lugar que você já viu, seja Brasília, o Memorial da América Latina ou o Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
Mesmo assim é linda, com toda aquela branquidão, formas incríveis e um céu azulzinho refletido nas janelas. É lá que fica o Palácio Tiradentes, com seus dois prédios, o Minas e o Gerais, que é uma das maiores construções de concreto suspenso do mundo.
Da estrada fica a vista mais bonita da Cidade Administrativa. Pare o carro assim que a vir, pois a estrada está um pouco acima do nível da construção e aquele conjunto de prédios e palmeirinhas fica em um belo contraste com o morro natural e agreste que fica logo atrás. Infelizmente, não conseguimos parar ali para umas fotos, mas eu aconselho.
Hospedagem
Ficamos no apartamento da nossa amiga Jeanne (obrigadíssima!!!), que nos cedeu com a maior gentileza um quarto, mas o lugar que mais visitamos foi o bairro de Lourdes. É lá a maior concentração de bares, botecos e restaurantes e, no fim, sempre acabávamos ali.
Se você ficar por lá não vai precisar se preocupar com a lei seca, nem com lugar para estacionar, nem com as mil voltas que teve que dar depois de cair em alguma praça e sair pelo lado errado.
Algumas sugestões de ótimos hotéis entre Lourdes e Savassi: Royal Savassi Boutique Hotel (diárias em torno de R$ 250,00), Belo Horizonte Plaza (diárias em torno de R$200,00), Radisson Blu (diárias em torno de R$ 160,00), Ibis Afonso Pena (diárias em torno de R$ 130,00) e dois hostels: o Adrena Sports (diárias em torno de R$ 100,00 em quarto individual ou duplo e em torno de R$ 50,00 em quarto coletivo) e o Itapoã Hostel Pampulha, que sai da rota Lourdes-Savassi, mas é uma gracinha (diárias em torno de R$ 100,00 em quarto individual ou duplo).
Programação para um Sábado em Belo Horizonte
Depois da parada na Cidade Administrativa e “check in” seguimos para a diversão do sábado em BH, o Mercado Central, que fica bem próximo da Praça Raul Soares, na Avenida Augusto de Lima, 744, é só seguir as placas e entrar direto no estacionamento (caríssimo, diga-se). Reze por todo o caminho para que tenha vaga. Na rua é impossível.
O lugar é super concorrido no sabadão e claro que não pode ter frescura e entrar em pânico se te espremerem de pé num cercadinho do boteco ou se tiver que segurar a porção ao mesmo tempo que come e toma uma cervejinha. Se você não pode com isso, sinto muito, mas vai perder uma experiência e tanto.
Depois de rodar na esperança vã de achar algum lugar menos lotado e tentar uma mesa no único restaurante em que todos ficam sentados, mas que tem enorme fila, as garçonetes simpatissíssimas e milagrosas de um dos botecos nos arrumaram uma mesinha e pedimos nossa cervejinha e um espeto de linguiça.
Continuei olhando o cardápio, pois além das opções serem tantas e tão apetitosas que dificultava a escolha, a fome era grande e um espeto obviamente não seria suficiente. Graças a Deus não pedi mais nada antes de chegar a comida! A porção era imensa e vinha com batata frita, mandioca frita, queijo derretido, pimenta biquinho e um molho de alho que me dá água na boca só de lembrar!!!! Não comi nem o jiló, nem o torresmo e nem a carninha que também já tinham aberto o apetite, mas era simplesmente impossível comer mais alguma coisa.
Algumas bancas do Mercado são mais famosas que outras como o Bar da Lora, que ganhou o Comida di Buteco 2010, mas todos tem coisas deliciosas com milhões de calorias e tudo aquilo que você vai à Minas só para comer. Nussssssss!!!
O Mercado fecha aos domingo e feriados por volta das 15hs. Todo mundo quer um descansimmmm!
Depois de toda a comilança, voltamos às voltas, literalmente, já que o mercado tem mais ou menos o formato de uma cebola. Passamos pelo setor de animais, de cestas, de produtos de decoração e pelas dezenas de bancas de comida. Queijos de todo o tipo, pimentas de todo tipo, temperos de todo o tipo…. Vá preparado, você vai gastar!!! Não deixe de comprar doces. Além de serem bem mais baratos do que aqueles vendidos nas lojinhas para turista, esses doces estão ali, fresquinhos, lembrando a infância ou as férias em algum lugar do interior quando escorrem leitosos da concha…hummm
Saindo de lá, nos perdemos mais uma vez para chegar até à Praça Israel Pinheiro, que é mais conhecida como Praça do Papa em razão de uma famosa visita do Papa João Paulo II à cidade, no bairro de Mangabeiras. É linda e tem uma vista sensacional da cidade ou, como disse o próprio Papa, “um belo horizonte…”. Perfeito para uma água de côco e um fim de tarde namorando, andando de skate, patins ou simplesmente deixando as crianças correrem…
A Praça do Papa contrasta com a Serra do Curral e o Parque das Mangabeiras ao fundo. Não tivemos tempo, mas o Parque vale um visita mais longa para conhecer a Praça das Águas e fazer uma trilha. Demos apenas uma passada no Mirante, atrás do Palácio das Mangabeiras, com sua vista sensacional do pôr-do-sol sobre a cidade.
Não resistimos à curiosidade e paramos na ladeira do Amendoim (Rua Prof. Otávio Coelho Magalhães), que na verdade é só um trechinho da rua, o que nos causou certa confusão. Existe uma lenda de que os carros sobem a ladeira mesmo desligados ou algo assim (fale com o oráculo), mas conosco nada aconteceu…
Á noite: Lourdes. É difícil escolher um lugar para parar, tantas opções de bares e restaurantes, com e sem mesinhas nas ruas, ar descolado, ar chique. Escolhemos a chopperia Maria de Lourdes na Rua Bárbara Heliodora, 141, que não decepcionou. Pedimos nossos chopp e um Brasato e saboreamos uma carne macia mergulhada em molho e uma farofinha fantástica com pãezinhos. Tudo sempre em conta e de sobra. Bão de mais, sô!
No quesito balada, não exploramos já que nos divertimos mesmo é com os botecos, mas há dezenas de lugares como o Vinnil, o Café de La Musique etc… agito não falta!
Uma outra sugestão é conhecer o Balaio de Gato, um misto de bar e loja muito fofo, na Rua Piauí, 1052. Só fique esperto com horário, eles só abrem das 17h30 à 00h durante a semana e das 12hs às 23hs aos sábados.
Programação para um Domingo em Belo Horizonte
No domingo cedo o destino é a Rua Afonso Pena onde ocorre a Feira “Hippie”. Quanto mais tarde, imagine… mais gente! São milhares de barracas com todo tipo de coisa imaginável, apertadas, é verdade, mas organizadas de forma incrível, por cores e áreas de acordo com os produtos! Mais uma vez, vá preparado, você vai comprar. Os homens podem sofrer um pouco, mas é um bom local para lembrancinhas, tamanha a variedade de artesanato. Sem falar em bolsas, sapatos e bijus! Ainda tem petiscos… e você pode passear pelo parque Municipal para relaxar do vuco vuco.
Um “hyppie” nos disse que aquilo não era mais uma feira hyppie, e tive que concordar em partes. Mas as cidades são assim, tem camelôs que amamos e odiamos e o que vale é que uma feirinha é sempre legal.
Se o seu interesse for apenas um artesanato organizado, poderá visitar no mesmo ou em outro dia o Palácio das Artes e o Centro de Artesanato Mineiro, onde há uma lojinha muito linda. Bem mais cara, mas para alguns a paz não tem preço. Fica mais ou menos em frente ao setor de bolsas da feira.
Beagá também tem fama de ser um excelente centro de moda e realmente você vê todo mundo nos trinques pelas ruas. No entanto, eu não estava numa viagem para compras e sim para comer e conhecer, então não procurei saber muito sobre isso. Além dos artesanatos na Afonso Pena, queijos, doces e cachaças no Mercado Central você encontra um pouco dos clássicos vinis na loja Música Rara e na Galeria do Rock no centro, e roupas em dezenas de lojinhas fofas espalhadass por toda a cidade como a Amour na Rua Antônio de Albuquerque, 386, e a Merci, na Rua Paraíba, 1096. Além disso, a Amanda.Monteiro é sucesso absoluto com vestidos, mas a venda é online ou com agendamento no showroom.
Partimos em seguida para a Lagoa da Pampulha que não à toa é o grande cartão postal da cidade. Simplesmente lindo e com todos os pontos de interesse logo ali, sem trabalho nenhum para procurar.
Passamos pelo Mineirinho e pelo Mineirão e seguimos para a Igreja da Pampulha ou Igrejinha ou Igreja de São Francisco de Assis . A Igreja é exatamente aquilo que se espera: genial. Linda de morrer, seja pela arquitetura seja pelos painéis de Portinari, absolutamente moderna e revolucionária ainda hoje.
Bom, na verdade, todo o conjunto da Pampulha, idealizado por JK, dá início à uma nova era para Beagá e para a arquitetura no Brasil e teve a participação não apenas do Niemeyer e do Portinari, mas também do Burle Marx, Paulo Werneck e Joaquim Cardoso. Tanta modernidade foi motivo de estranhamento e o fabuloso painel de Portinari foi muito mal recebido pelos católicos que por este motivo só sagraram a igreja muitos anos depois.
Outra curiosidade é que dizem que na fachada frontal é possível ver as formas da foice e do martelo, símbolos do comunismo… acho meio viagem… Enfim, sem falar na importância histórica (que você pode conhecer um pouco melhor aqui se quiser), traz enorme satisfação à quem aprecia o belo.
Muita gente acha que a Igreja está fechada, mas a entrada fica ao lado. Para entrar você deve pagar R$ 2,00. Pague. Além de contribuir com esta quantia módica para a manutenção de tamanha obra de arte, você vai poder ver de perto as pinturas sensacionais. Ah, e faça o favor de não fotografar depois de ser devidamente avisado de que é proibido. Me irrita demais a falta de educação de quem faz isso não apenas porque se é proibido é por alguma razão, mas principalmente porque estas pessoas perdem a chance de ver com os próprios olhos enquanto tentam fazer a ilegalidade sem serem notados, o que aliás é impossível dado o diminuto tamanho da igreja.
De lá, fomos à Casa de Baile que hoje é um centro de arquitetura e urbanismo de visitação livre onde se pode ver um painel feito pelo próprio Niemeyer cheio de frases e desenhos.
Em seguida, fomos ao Museu de Arte da Pampulha, que estava fechado para preparação de uma nova exposição. Só deu para dar uma olhadinha pela entrada e nos jardins de Burle Marx. Nada de salões, de imaginar o cassino e nem de ver os famosos espelhos… Ainda assim, deu para ter uma idéia da grandiosidade do lugar. Gastamos um tempão por ali e procuramos o restaurante Xapuri – Rua Mandacaru, 260 – super indicado, mas não o encontramos nem ninguém soube dizer onde era, mesmo sendo famoso. Erro de não levar GPS… o acerto é que conhecemos muito a cidade agora… Outro lugar que parecia gostoso por ali era o Juscelino, bem de frente para a Lagoa, mas pulamos e continuamos descobrindo a cidade.
Se quiser ver mais de Niemeyer, ainda é possível ver por fora a casa de JK, o Iate Tênis Clube e a Sede do Zôo ali mesmo na Pampulha, o Conjunto JK na Praça Raul Soares, o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública na Praça da Liberdade, onde ficam as esculturas dos “Quatro Cavaleiros do Apocalipse” – Fernando Sabino, Helio Pelegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos.
No fim da tarde demos uma corrida ao Museu Histórico Abílio Barreto , pois fecha às 17hs. Que lugar legal! Além de ser uma graça, cheio de, claro, peças históricas que nos trazem os cheiros dos tempos antigos, é lá que fica a única casa que não foi demolida quando construíram Beagá! Rá, não lembra das aulas da escola né?
O pessoal do Museu te dará a maior atenção e te contará com orgulho que após a instauração da República decidiu-se que Ouro Preto, capital do Estado na época, lembrava muito os tempos coloniais e optou-se pela construção de uma nova e moderna capital na vila do Curral. A vila foi destruída e a cidade racionalmente planejada a partir do contorno, hoje Avenida do Contorno, que dá a volta à todo o centro de Beagá, com base em outras capitais do mundo como Washington D.C..
Ao lado da casa, ainda há a parte moderna do Museu que, quando estivemos lá, estava com uma exposição sobre… botecos. Nada mais apropriado!!!! O museu fica na Av. Prudente de Morais, 202 na região de Savassi e não abre às segundas.
Almoçamos em Lourdes, no Boteco da Carne (Rua Alvarenga Peixoto, 551). Passamos pelo Favorita, pelo Ah! Bom e por diversos lugares que pareciam apetitosos, mas acabamos ali comendo um belo fundi de polenta, que vem lindamente servido com umas carninhas maravilhosas e aproveitamos para contribuir com o abaixo assinado contra o projeto de lei que quer fechar os botecos às 23hs. Nããããão aos malas de plantão que querem sempre acabar com a nossa diversão!!!!!! Em Lourdes, a maior concentração de bares, botecos e restaurantes fica na Rua Curitiba e arredores.
As regiões de Savassi, Santa Teresa, Santo Antônio e Sion também tem bares, botecos e restaurantes bacanas para serem visitados, como o Bar do Antonio – Rua Florida, 21, o Alambique Butiquim Mineiro – Rua Pium-I 726 (para aquela cachaça), o Mercearia Lili – Rua São João Evangelista, 696, O Mercearia Mello – Rua do Ouro, 331.
Não deu tempo de visitar outros museus que gostaríamos, seja o de Ofícios, que fica numa estação maravilhosa na Praça da Estação que só vimos por fora, seja o de Energia na Praça da Liberdade , onde fechamos o dia em um showzinho apreciando a beleza da praça, com o pessoal tranquilo caminhando por ali como se não fosse uma metrópole.
Por fim, fique de olho na programação da cidade, há sempre shows, teatro, festivais, o comida di buteco e outros eventos, muitos deles gratuitos. E boa viagem!