O transporte em Angola é algo simplesmente inacreditável.
Não existe.
Quer dizer, dizem que existe, mas eu sinceramente não sei onde encontrar.
Primeiro em Luanda.
Como já disse, só vi táxi em um lugar em Luanda: o aeroporto. Não tem nas ruas, não tem nos bares e restaurantes, não tem nos hotéis, mesmo os mais chiques.
Não tem.
Nos deram o telefone de uma suposta rede de táxis: a África Táxis e até nos disseram que a corrida entre o Celeste e o centro custava 50 dólares, mas quando ligamos nunca ninguém atendeu. Nunca. Nem de dia nem de noite. Nem durante a semana nem no fim de semana. Nunca.
Também não tem ônibus. Quer dizer, tem. Eu vi 2, sempre quando ia em direção ao Benfica, mas não tenho idéia de onde vinham nem para onde iam e ninguém sabia dizer. Em geral, não tem.
Então você pergunta como se locomover?
De candongueiro. Os candongueiros são vans azuis e brancas que estão absolutamente por toda parte. Não tem letreiro, não tem indicação. E não tem mapa de Luanda para dar aquela forcinha. Você tem que saber para que lado vai e esperar que o pessoal grite o seu destino para entrar no candongueiro e descer lá onde quiser.
Em geral custa 100 kwanzas ou 1 dólar por trecho. É meio pouco, então não tem limite de lotação. Nem de viagens. Nem de buracos. Nem se sabe de manutenção.
A maioria dos candongueiros está caindo aos pedaços e completamente lotado. Trash. Eu não andei e a maioria dos conselhos locais que recebi foi para não andar sem um angolano, pois chamaria atenção, poderia ser roubada, parar em algum lugar desconhecido ou simplesmente passar mal de calor sufocada por uma multidão. Em outras palavras, não é fácil. É por isso que o trânsito na cidade é simplesmente infernal. Todo mundo quer ter um carro. Todo mundo precisa de um carro.
Há quem seja adepto deste transporte não apenas para andar em Angola, mas por toda a África. Já falei aqui do João Fellet, um cara bem doido que escreveu o ótimo…”Candongueiro”. Recomendo a leitura e a aventura.
Sério, eu sou super a favor dos transportes públicos, não tenho frescura, até cogitei em pegar um candongueiro depois de conhecer um pouco a cidade e ter noção de onde ir, mas a situação é mesmo difícil. Meus amigos angolanos vão dizer que não é verdade e que quando precisam andam de candongueiro e é tranquilo, mas nunca, nos 3 meses em que estive lá, vi um deles usar esse transporte, mesmo quando eles estavam sem carro…
A sua opção é ter ou alugar um carro. Ter porque é o que acontece com a maioria das pessoas que vai morar na cidade, para quem sinceramente ter um carro não é luxo. Nem mesmo o motorista é um luxo. Sim, por que dirigir naquela cidade é algo para poucos. Eu não dirijo nem aqui, é verdade, mas que o trânsito é caótico, é uma unanimidade entre qualquer motorista.
As ruas tem pouca sinalização – inclusive faixas que separam as pistas – há milhares de buracos gigantes, não há muitas faixas de pedestres, semáforos, placas ou qualquer outra coisa que facilite o trânsito. Ao chegar em São Paulo, para mim a referência máxima de como o trânsito pode ser duro, me senti no paraíso. Lá é tudo ou nada, você precisa enfiar o carro, fechar os outros, fazer uma pista onde não há espaço, ser louco!
Uma pessoa que conheci me disse que o problema era que o individualismo estava dominando as pessoas e eu pensei, não, o problema é falta de organização! Mas a verdade é que é de tudo um pouco. Ouvi histórias de pessoas que demoraram 7 (!!!!!) horas num trajeto de 30 minutos. Claro que era um dia de chuva, que causa enchente e piora tudo, mas é absolutamente normal que uma pessoa saia de casa às 4h30 da manhã para chegar ao trabalho às 5hs e esperar dormindo no carro até às 8hs, pois se sair de casa às 7h30 chegaria às 11hs da manhã! E, meu Deus, isto é vida????
Como se não bastasse, Angola não tem energia suficiente. Na verdade, a produção de energia corresponde atualmente à 1/3 da necessidade básica. Queda de energia é normal, assim como o uso de geradores pelos particulares. No trânsito isto é gravíssimo, pois há avenidas importantíssimas da cidade sem qualquer iluminação. Somado à ausência de calçadas, de semáforos e de manutenção de alguns carros, dirigir à noite é perigosíssimo e os acidentes e atropelamentos são frequentes.
Alugar um carro sem motorista, portanto, pode ser uma aventura e tanto. Mas parece que depois de algum tempo você se acostuma… Lembrando que utilitário é essencial para aguentar a geografia da cidade…
Uma observação importante é que existe uma classe alta em Angola que possui carros maravilhos que eu não tenho a menor idéia de quais sejam e com os quais eles gostam de se exibir e correr. Muitas vezes bêbados e de madrugada. Portanto, todo cuidado é pouco.
Sobra mesmo andar a pé. Mas isso também é uma aventura e tanto. Assim como andar de carro, à noite é difícil sem luz e calçadas. De dia as dificuldades podem ser os carros, os buracos, a poeira, o lixo e, nas épocas de chuva, a água. O escoamento em Luanda é péssimo e se formam pequenas lagoas por todos os lados. Existem até pessoas que atravessam pessoas nas costas por alguns trocados… mas dá. Foi assim que me locomovi sempre que não estavamos no carro disponibilizado pela UCAN com nosso querido motorista de fórmula 1, Miguel.
De modo geral, nossa experiência foi difícil neste aspecto. Tínhamos transporte para ir e voltar das aulas e podíamos eventualmente pedir ao Miguel que nos levasse à algum lado, mas nem sempre ele estava disponível. Além disso, éramos obrigados a andar sempre juntos e cumprir os horários, o que nem sempre foi fácil… Nossos amigos angolanos foram dos mais colaborativos possíveis, sempre nos pegando e nos levando para lá e para cá, mas sabe aquele dia que você só quer dar uma voltinha? Não dava. E nem sempre dava para todos irem, o que causava certos embaraços. Mais do que isso, nossa vida foi muitas vezes facilitada pelo Ricardo, o marido angolano da portuguesa Ana que tinha seu carro e muitas vezes fez papel de motorista…. (obrigada por tudo!)
Nem tentamos alugar um carro, mas ouvi dizer que deve custar qualquer coisa entre USD 100 e USD 200 por dia. Fora isso, ouvi relatos de que os “contratos” do aluguel são meio “informais” e nem sempre os carros estão em bom estado. Procure as empresas mais conhecidas, como a AVIS. Se tiver motorista, lembre-se de recompensá-lo e de que às vezes os angolanos não aparecem na hora marcada e em outras vezes sequer aparecem.
Para sair de Luanda, outra odisséia. Nunca ouvi dizer que exista uma rodoviária e ônibus regulares para lado algum. Sinceramente não sei como as pessoas viajam sem ser de carro, se viajam. O que sei é que está em funcionamento a linha de trem entre Luanda e Malange e parece muito agradável. Não sei exatamente os horários e dias, mas sei com toda certeza de que um bom roteiro é ir para Malange na sexta pela manhã e voltar no domingo à tarde, então pelo menos nestes dias a linha funciona.
Fora isso, há algumas empresas aéreas que fazem vôos entre Luanda e as principais cidades como Benguela, Huambo, Malange, Lubango, Cabinda e Namibe, sempre em torno de USD 150,00. Bons contatos para obter as passagens são as agências Tropicana e M2A.
Aqui mais umas dicas sobre Angola, do Roads &Kingdoms.