Fui à Angola para estudar. Sim, pode parecer estranho, mas foi lá que ralei durante os 3 primeiros meses do meu MBA.
Confesso que tinha muitas dúvidas, inclusive sobre a minha própria capacidade de acompanhar aulas de contabilidade e finanças empresariais. Mais do que isso, tinha dúvidas se sobreviveria 3 meses do outro lado do Atlântico, num país absolutamente desconhecido por mim e que, pelas poucas informações que consegui colher nas 3 semanas e um infarto do meu pai que antecederam a inscrição e a viagem, sofre de preços altos e falta de tudo.
Meu primeiro passo foi consultar o oráculo universal chamado google. Acho que gastei umas 100 horas em pesquisas sobre Angola, a maior parte do tempo em blogs que relatam a vida em Luanda e Angola e deixo aqui a indicação daquele que, para mim, melhor dispõem de informações daqueles que querem dar umas voltas pelo país: Menina de Angola. Também são excelentes os seguintes: Blog da Ju, Candongueiro (mais informações abaixo) e Casa de Luanda.
Naquela época eu achava que as pessoas que estavam em Angola estavam mais preocupadas em perceber a realidade social e acompanhar a reconstrução do país e menos em divulgar informações úteis para quem quer explorar aquelas bandas e não conseguia encontrar o que eu queria sobre o país. Cheguei até a comprar um guia da África da Lonely Planet.
O guia, como todos da Lonely Planet, era excelente – embora eu deva confessar que fui muito atraída pela capa que tem uma foto meio hipnótica de um leão (o que aliás também deixou o vendedor simpaticíssimo da Livraria Cultura encantado) – mas enorme e com cerca de 10 páginas sobre Angola, únicas 10 páginas sobre Angola encontradas em algum guia vendido no Brasil, e em inglês.
Eu estava animada com a minha primeira viagem pela África e queria aproveitar para conhecer bem Angola e também alguns países vizinhos e a não tão vizinha, mas próxima, África do Sul.
Eu já tinha conversado com um amigo, o Ale, que tinha passado algum tempo planejando uma visita completa pela África que ainda não saiu do papel, e que me disse para ir à Namíbia e ao Zimbábue, o que daria para fazer facilmente de Angola.
Li tudo sobre estes países, já tinha mil planos de safaris, vinícolas, praias e guetos quando tomei meu primeiro balde de água fria: o visto para Angola era de entrada única, o que significava que eu só poderia sair do país quando fosse embora ou teria que solicitar novo visto.
O visto para Angola é super burocrático. Para ter a certeza de que você vai viajar é bom dar entrada com mais de 1 mês de antecedência! Mesmo assim, não é certeza. São inúmeros os documentos solicitados como certidão de antecedentes criminais, carta convite, comprovante de meios de arcar com as despesas e se você não tiver uma empresa ou escola agilizando as coisas para você, é extremamente recomendado que procure a ajuda de um despachante (há especialistas em vistos para Angola). Aqui está o site do Consulado em SP
, que fica na Estados Unidos, 821, pertinho da Nove de Julho e tem horários bem restritos. Eu achei muito mais complexo do que para outros países que já tem fama de chatos, como os EUA e o Canadá e por sorte tivemos o nosso facilitado pela carta convite enviada pela Universidade Católica de Angola que se responsabilizava pela nossa estada lá e pelo nosso retorno, claro!
É importante ainda que se saiba que o visto ordinário tem validade de 30 dias. Tinhamos 60 dias para chegar em Angola antes que o visto expirasse, mas apenas 30 dias para permanecer lá. Em outras palavras, muito trabalho para renovar o visto 2 vezes enquanto estivemos estudando.
Eu ainda tinha esperanças de conhecer a África do Sul, pois nosso vôo faria uma escala em Johanesburgo e eu pretendia aproveitar e estender. Achei mais proveitoso, assim, tirar uma cópia das páginas relativas à Angola e à África do Sul e deixar as 500 páginas do guia em casa.
Foi uma sábia decisão, pois assim como na internet, o guia não dispunha de muitas informações. Pelo menos era o que eu achava, já que um país tão grande não poderia ter só aquilo de atrações e possibilidades.
No fim das contas, não consegui nem mesmo passar pela África do Sul, pois nosso vôo de regresso foi trocado por um vôo direto e eu pagaria uma fortuna para fazer toda a viagem por minha conta, lembrando que ainda restavam 9 meses de curso e 2 de férias para gastar muito sem ganhar nada.
De qualquer forma, acho que o guia foi um bom investimento (cerca de R$ 80,00), pois a visita a Angola apenas fez nascer uma vontade ainda maior de conhecer todo o resto do continente, o que certamente será feito e contado aqui.
Aproveito para indicar o sen-sa-cio-nal livro do João Fellet, “Candongueiro”. Ele morou em Angola e depois partiu por uma louca e incrível viagem pela África que contou não apenas em seu blog, como transformou em livro. Não tem como não viajar junto e pode ser um bom começo para quem planeja uma viajem parecida.
Por meio deste livro também descobri o “Tás a ver?”, que faz um trabalho sensacional de aproximação entre o Brasil e a África por meio das artes e é uma fonte inesgotável de conhecimento (aproveite para se acostumar com estas 3 palavrinhas…).
Por fim, para quem quer saber mais de pessoas que estão na África, e também para aqueles que sonham com a carreira de diplomata um outro blog interessante é o jovens diplomatas. Vale uma visita.
Agora que você já sabe onde mais procurar informações, vamos em pílulas sobre a nossa experiência.