Angola – Clima
O clima em Angola costuma ser bem definido: quente e úmido na primavera/verão, quente e seco no outono/inverno. Por úmido entenda-se problemas sérios de enchente e lama e por seco entenda-se muita poeira com irritação nos olhos e garganta agravados pelo uso incessante de ar condicionado, mesmo que seja para um trajeto de 5 minutos no carro.
É verdade também que no inverno as temperaturas são mais amenas e pode fazer um ventinho frio, em especial à noite. Em algumas regiões parece que faz mais frio mesmo, como em Huambo, onde estive com o maior casacão que não saiu da mala…
O clima também é quente nos demais aspectos. A população é acolhedora, a noite é animada, todo dia é dia de festa, com muita música e comidas pesadas.
A vida pós-guerra está a todo vapor. Tudo está em construção, demolição ou reconstrução. As estradas, os prédios, a cultura, a educação, a política. Todo mundo tem opinião sobre tudo e todo mundo é acusado em algum momento de ainda ter a mente socialista, de esperar que o governo faça tudo ou de estar tentando destruir a identidade angolana.
Os expatriados em geral são bem vindos, mas há certo sentimento de que eles deveriam estar em seus lugares, ou seja… em seus próprios países. Após 30 anos de guerra é um consenso que falta mão de obra especializada no país e que ainda há muito a ser feito. Angola não tem, apenas para exemplificar, uma bolsa de valores, produção suficiente de alimentos e manufaturados em geral para garantir a demanda interna, entre outras coisas.
Assim, é compreendido que é necessária a presença de expatriados, sendo exigido deles a transmissão de conhecimentos e o treinamento de pessoal. Ao mesmo tempo, sendo absurdo o abismo entre as classes sociais mais altas e as mais baixas e quase inexistente uma classe intermediária, é normal que haja certo ressentimento com a riqueza apresentada por quem vem de fora.
As empresas costumam pagar muito e oferecer dezenas de benefícios para quem vem de fora e muito do progresso que vem se apresentando no país é usufruído quase que somente por estas pessoas. Parece com tempos idos? Nada é mera coincidência.
Fora isso, com a celebração de contratos grandes com as empresas chinesas que podem contratar até 70% dos funcionários de seus próprios contingentes houve uma invasão do país de pessoas que trabalham em regime de abelha operária, sendo ainda poucos os casos de integração. Sente-se não apenas a falta de abertura de novos postos de trabalho para os próprios angolanos, mas uma ocupação alienígena de um povo que não fala português, não convive com os locais e acaba sendo mal visto.
Entendo que o sentimento é natural e que somos nós que devemos nos adaptar, nos envolver, criar laços e raízes no país que é deles. Até porque, a força e a vontade que eles têm de levantar a sua pátria, de exterminar os problemas e de viver melhor é avassaladora e contagiante.
Observei que eles vivem um momento de grande conflito interno, em que percebem que sua cultura ancestral como os dialetos, por exemplo, estão se perdendo, e querem resgatar e manter sua identidade ao mesmo tempo em que acreditam que estão perdendo suas características pela influência de outras culturas como a portuguesa, sempre presente, a brasileira, e a recente invasão chinesa.
Para quem está de fora me parece que as coisas não são exatamente assim. Os traços ancestrais são fortes e muito mais presentes do que no Brasil onde vimos nas últimas décadas uma onda de valorização do nacional. As mães com seus panos e bebês nas costas, suas cestas nas cabeças e pratos típicos cozinhados e servidos religiosamente toda semana, seu modo de falar e palavras provenientes de suas outras línguas, suas músicas e danças, mesmo quando em contato com a moderna música eletrônica: tudo totalmente único. Não há mais ninguém no mundo que seja totalmente puro e acho que isso não torna ninguém menos especial ou menos ligado à sua cultura. Lá, isso ficou evidente para mim.
Sem contar a história. Rainha Ginga e sua resistência à dominação portuguesa, a união e desunião das tribos, a colonização, a independência, a guerra, o socialismo, o meio capitalismo atual. Tudo ainda pouco documentado, tudo ainda na cabeça das pessoas que com 2 perguntas te contarão com o maior prazer tudo o que sabem sobre qualquer um destes assuntos e te enriquecerão com uma aula natural. Aqui faço um agradecimento especial aos meus colegas de curso Ana Cristina, Celso e Rita, que me ensinaram muito.
Na educação, batalha-se pela melhora do ensino para que as crianças não assistam aulas sentadas em latas de leite e para que o ensino de línguas como o umbundo seja retomado assim que forem encontrados professores. Nosso curso (MBA Atlântico) é mais um investimento na qualificação local para todos os níveis profissionais, o que certamente vai se intensificar ainda mais a partir de agora. É comum, para todos que como eu nem imaginavam, que os angolanos estudem fora do país, muito embora o país já tenha diversas universidades. A UCAN, além disso, possui um forte centro de pesquisas e vem desenvolvendo maravilhosos trabalhos com muita gente empenhada, como o Relatório Econômico e o GEM cujos lançamentos assistimos e que semearam idéias e planos em nossas mentes.
O presidente do país está no poder desde o fim da guerra e, tendo quem goste e quem não goste, não parece que de lá sairá tão cedo. O país tem uma recente e ainda frágil democracia, mas que se apóia no forte crescimento do país dos últimos anos impulsionado pelas riquezas geradas pela explorção do petróleo pela principal empresa do país.
Como em todo lugar, são vários os relatos de corrupção, quase nenhum punido ou mesmo melhor explicado, mas de modo geral a impressão que se tem é de que o país vem tentando se organizar e manter-se economicamente, o que vem exigindo medidas mais sérias e transparentes.
Tomando como exemplo o Brasil, livre e com uma democracia mais adolescente, fica claro que ainda vai demorar para as coisas se acertarem, pois há um período de conscientização e reeducação que demora anos para fazer efeito. Aqui, por exemplo, ainda falta muito trabalho.
Não se vê ainda, por mais que haja algumas tentativas de forçar a barra, indícios de que alguma revolução ou movimento similar ao dos países do norte vá acontecer, em especial pelo esgotamento que os 30 anos de guerra causaram.
É, mas há quem sinta saudades da guerra e não é nada velada.
Enfim, se solte e converse para aprender muito!
Obrigada, Maria de Fatima! =D
gostei do artigo fiquei a saber muito sobre o meu pais obrigado .
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