Angola – Chegando
Pisar em Angola é encontrar tudo aquilo que dizem, um choque, uma lixeira, um cara a cara com a pobreza, uma pluralidade de cores em cada pessoa e um ar terroso se espalha por todos os lados de onde se abrem brancos sorrisos…
O que não é possível que ninguém te adiante é o cheiro de pó que tudo impregna, a fumaça dos tambores onde são assadas os frangos, os bodes, as bananas, o perfume dos cabelos bem cuidados, a maresia…
Todos dizem para nos preocuparmos com a saúde, mas ninguém avisa da preocupação genuína que todos tem com um simples espirro e no medo sincero das doenças desta terra que ninguém nem sabe quais são. Incomodado pode ser tudo e é a desculpa oficial para faltar ao trabalho, mas é proibido ter um mal estar e ficar em casa, o único caminho é o do hospital. Bem, lá você deve rezar e contar com a sorte para descobrir o que se passa, mas com uma ajuda do destino você encontra os medicamentos na farmácia.
Às vezes tem-se a impressão que voltamos ao Brasil, mas fomos largados em algum recôndito lugar não visitado, com defeitos e necessidades crônicas. Em outros percebe-se que já evoluímos muito e tem-se aquela velha sensação de saber como nosso país é maravilhoso, mesmo com o que há de pior.
É claro que longe temos a sensação que a nossa cama é mais quente, nossa comida mais saborosa e nossas crianças, mais bem cuidadas. Rá-rá.
A verdade é que cada lugar tem sua história e não é possível reproduzi-la em nenhum outro lugar. Por bem e por mal. Os erros podem ou não serem repetidos, os acertos podem ou não serem considerados.
Às vezes cansa. Mesmo com nossos laços, a distância é abismal. É necessário aprender um novo idioma: o português. É necessário aprender uma nova etiqueta. É necessário aprender uma nova forma de pensar. Ninguém é dono da verdade, mas ninguém avisa que apesar de ser possível ser uma metamorfose ambulante, a mudança muitas vezes é gradual e nada indolor.
Aprendi a utilizar mais a palavra brutal ali. Eu não sabia, mas também pode significar algo excelente. Brutalmente bom. E é assim uma experiência ali. Uma condução forçada à profunda reflexão sobre o que somos como humanos, até onde chegamos e até onde queremos ir. É sair do conforto dos nossos pequenos problemas e enfrentar grandes problemas que sabemos que existem, mas não vemos. É descobrir que quanto mais se aprende sobre o mundo, mais há para aprender.
E para mostrar só um pouquinho do que aprendi lá, começo aqui uma série sobre este país misterioso e lindo!