Akrotiri – O impressionante sítio arqueológico de Santorini

Akrotiri, em Santorini, é um dos sítios arqueológicos mais interessantes da Grécia. E olha que não é fácil falar isso desse país em que a gente tropeça distraído e cai numa preciosidade arqueológica! Mas Santorini é um lugar especial e, como ela, seu sítio arqueológico também é especial. To dedicando um post inteirinho para esse lugar porque entre tantas praias paradisíacas e vilas pitorescas, Akrotiri acaba sendo aquele rolê em Santorini pra se der tempo, se te sobrarem dias… mas acredite, vale a pena demais e vou explicar o por quê. Duvido você não se interessar, vem junto.

As casas de Akrotiri estão assim, cheias de peças intactas, mesmo 5000 anos depois!

As casas de Akrotiri estão assim, cheias de peças intactas, mesmo 5000 anos depois!

Akrotiri e a história de Santorini

Muito antes de Santorini ser vista como uma ilha romântica e arrastar multidões para ver seus pores do sol e se deleitar no seu mar azul cobalto, a ilha foi lar de um povo que desapareceu, teve outro formato físico e se transformou ao longo dos séculos, mudando até de nome: de Kallístē (a mais bela), para Strongili (redonda), para Tera (herói que repopulou a ilha em torno de 1200 a.c) e por fim para Santorini, em homenagem à Santa Irene, apesar de ainda se usar o nome Tera em grego.

Bem, mas o primeiro registro de civilização encontrado na ilha data de mais ou menos 4.500 anos antes de Cristo (pré-histórico – período neolítico!) e esse registro foi localizado justamente onde? Nos arredores de Akrotiri, próximo da praia Vermelha no sul de Santorini.

Tanto esses primeiros achados como toda Akrotiri pertencem à civilização Minoan ou minoicos, um povo que habitou tanto Santorini quanto Creta e que lá pelo século 20 antes de Cristo, foi muito grandioso e influente em todo o mar Aegean, na costa grega. Há indícios de negociações entre este povo com a Grécia continental, Chipre, Síria e Egito e Akrotiri era um dos principais centros urbanos da época.

Esse povo tão grandioso praticamente se extinguiu por volta de 1600 antes de Cristo, quando o vulcão que fica coladinho à Santorini entrou em erupção, implodindo a parte da ilha onde hoje é a famosa caldeira de Santorini e por onde hoje navegamos (acho uma das coisas mais impressionantes, pensar que flanamos de barco pela caldeira do vulcão!!!!).

A erupção foi extremamente violenta e não apenas implodiu parte da ilha, deixando-a com formato de meia lua, como também cobriu de lava Akrotiri e as cinzas e fumaças atingiram outras ilhas da região onde viviam os minoicos, além de ter causado um enorme tsunami, matando muitas pessoas e obrigando as demais a se dispersarem. É por isso que chamam Akrotiri de “Pompéia grega” (eu acho essa comparações meio toscas, mas aconteceu algo similar entre as 2 cidades).

Curiosamente, não foram encontrados corpos em Akrotiri, o que leva a crer que as movimentações vulcânicas que precederam a grande erupção afungentou os moradores. Somente uns 300 anos depois os humanos voltaram a ocupar a ilha, liberado por Teras, que fundou a cidade antiga de Tira (ou Thera, outro sítio arqueológico a se visitar na ilha).

Pois bem, então como descobriram Akrotiri e o que existe de tão interessante por lá?

Terremotos e a erupção do vulcão marcaram a história de Santorini.

Terremotos e a erupção do vulcão marcaram a história de Santorini.

A descoberta de Akrotiri e as escavações

Em 1860 um grupo de mineradores estavam lá em Santorini retirando pedras vulcânicas que seriam utilizadas na construção do Canal de Suez quando perceberam que tinham acabado de descobrir um antigo porto que tinha sido soterrado por cinzas e lava.

Era uma construção tão impressionante que desde então os arqueologistas vira e mexe ensaiavam novas expedições na região. Mas foi só em 1967 que o arqueologista grego Spyridon Marinatos iniciou um trabalho sério de escavação e preservação baseado numa teoria que ele vinha desenvolvendo: a de que a erupção tinha sido a causa do desaparecimento dos minoicos e as evidências que ele coletou em Creta e em Akrotiri indicam que a teoria é bastante provável.

Uma parte muito relevante da cidade de Akrotiri foi escavada, mas acredita-se que representa apenas 26% da área total e que há muito mais a ser revelado.

O que impressiona em Akrotiri é um misto da sua grandiosidade e as informações que conseguiram extrair sobre aquela civilização, pois as cinzas mantiveram a cidade super preservada. Isso possibilitou entender como os minoicos viviam, com quem e que tipo de produtos produziam e comercializavam, como açafrão, vinho, azeite, pedras e cobre, que provavelmente era trazido do Chipre e enviado para Creta e Grécia continental por Santorini, que fica ali bem na passagem.

As escavações demonstram que além de agricultores e pescadores, os moradores de Akrotiri incluíam arquitetos, construtores avançados, negociantes e muitos artistas. Em resumo, era uma cidade próspera o suficiente para se desenvolver além do normal e ter tempo para as artes.

Ruas de Akrotiri que se vê no Museu Arqueológico em Santorini.

Ruas de Akrotiri que se vê no Museu Arqueológico em Santorini. Foto: divulgação.

Como visitar Akrotiri em Santorini

Atualmente uma parte de Akrotiri é um museu e nós podemos visitá-lo e ver com nossos próprios olhos o que impressionou os arqueologistas e que, acredite, não são apenas ruínas.

Caminhamos por plataformas entre as ruas da cidade vendo suas impressionantes casas de até 3 andares em formato retangular, construídos com o que havia de mais qualidade em matéria de tijolos, rebocos e pinturas. Os pisos eram cobertos de ardósia no térreo, onde em geral havia armazéns e de mosaicos no piso superior, que geralmente serviam de residências.

Havia na cidade um complexo sistema de drenagem e escoamento de água e esgoto, sendo a descoberta de “banheiros” com um tipo de vaso sanitário e tudo, uma das descobertas mais impressionantes de Akrotiri, já que era algo totalmente inexistente na época.

A gente consegue ver dentro das casas e edifícios, vê as dezenas de vasos e cerâmicas lindos encontrados onde provavelmente eram depósitos, descobre que houve alguma demolição e reconstrução na cidade prévia à grande erupção, provavelmente em razão de terremotos e tem uma breve visão das pinturas de afrescos que foram encontradas ali.

Os afrescos revelam cenas cotidianas, natureza, vestuário, tipos de penteado e arte sacra e são ma-ra-vi-lho-sos. Foram retirados para preservação e ficam no Museu Pré-histórico de Thera, em Fira (Santorini) e algumas imagens estão também no museu de Atenas. O combo de visita ao museu do sítio arqueológico e ao museu de Fira é imperdível.

Depois de ver de onde os afrescos saíram, vê-los pertinho dos olhos ali no museu é incrível e tanto a riqueza de detalhes quanto as cores e a beleza são muito impressionantes. Os afrescos dos macacos, do pescador e das mulheres são tão incríveis que a gente fica com a cabeça rodando depois, pensando em como nós humanos somos capazes e criativos.

Alguns dos afrescos de Akrotiri.

Alguns dos afrescos de Akrotiri. Foto: diulgaçao.

Alguns dos afrescos de Akrotiri Santorini

Alguns dos afrescos de Akrotiri em Santorini. Foto? divulgação.

É em grande parte baseado na arte cerâmica e nos afrescos que os arqueolojistas conseguiram concluir o alcance do comércio dos minoicos. As cores dos afrescos vem de tintas utilizadas na Síria e no Egito, os estilos de desenho batem com outros localizados no Dedocaneso. Gente, eu acho isso muito mágico, sabe? Conseguirmos entender um pouco de um povo que sumiu há cerca de 5000 anos por meio da arte!

A visita ao sítio arqueológico pode ser feita sem guia e há bastante informação em cada ponto de destaque, mas acho que um guia explicando e detalhando as descobertas vai fazer seus olhos brilharem.

Você pode comprar os ingressos online ou na porta de cada local, mas recomendo comprar o ticket combinado, que dá acesso à Akrotiri,  ao Museu Arqueológico de Thera em Fira, onde ficam os Afrescos, e à cidade antiga de Thera, outro sítio arqueológico (posterior à Akrotiri, mas ainda assim, milenar) que fica no topo da ilha e além de também ser super interessante, tem uma vista fantástica.

Neste ponto tenho que dizer que Akrotiri é apenas um dos motivos pelos quais você não deve conhecer Santorini em apenas 1 dia. Dá para você apertar uma combinação de Akrotiri, uma vinícola, Oia e uma praia num dia em Santorini? Dá. Vai ser corrido? Muito. E você não vai desfrutar da graça de absorver as coisas com calma, nem de se aprofundar em nada. Não vai dar nem pra almoçar em paz e nem de sentar e curtir a vista embasbacante de Santorini.

Por exemplo, dá para visitar as ruínas da antiga Thera, Akrotiri e o museu de arqueológico de Fira no mesmo dia, mas não precisa. Os ingressos valem por 3 dias. Você pode visitar Akrotiri junto com a praia Vermelha, Vlichada ou o Farol em um dia, as ruínas de Thera e uma das praias como Perívolos ou Kamari no outro e o Museu em outro dia, quando for passear por Fira, antes ou depois de um passeio de barco ou do pôr-do-sol em Oia. Mas para quê correr de um lado para outro se você pode viver a vida num ritmo muito mais gostoso?

Por fim, destaco que tanto Akrotiri quanto a antiga Thera só admitem entrada até 15h e eu recomendo mesmo é que você vá logo cedo de manhã porque fica muito quente depois, em dias de onda de calor eles inclusive fecham mais cedo, às 13h ou fecham totalmente para evitar que as pessoas passem mal. No museu de Fira a entrada é até 15h30, mas ele é todo fechadinho e com ar condicionado, então eu diria até que dá para se esconder do calor por lá. ;)

Akrotiri fica no sul da ilha e há ônibus partindo de Fira que param lá. Se estiver de carro, vá cedo para ter facilidade para estacionar.

Agora você já sabe como visitar, o que vai encontrar e que uma passadinha para ver os afrescos é essencial. Mas tem mais!!!!

A vista do sítio arqueológico da antiga Thera é linda. Aqui vemos Thirasia e parece que ela está voando... mais uma mágica de Santorini.

A vista do sítio arqueológico da antiga Thera é linda. Aqui vemos Thirasia e parece que ela está voando… mais uma mágica de Santorini.

Akrotiri e a lenda de Atlântida

Não bastasse toda a importância arqueológica, Akrotiri também é envolvida na lenda de Atlântida trazendo mais umas camadas de mistério pra esse lugar fantástico.

A lenda de Atlântida, para quem não sabe, surgiu de escritos de Platão do século IV a.c. De acordo com os textos de Platão, baseados em histórias que seu avô contava, havia uma incrível civilização vivendo numa ilha em algum lugar próximo do estreito de Gibraltar por volta do ano 9000 a.c., que era muito desenvolvida tecnologicamente, rica e poderosa e que pertencia a Poseidon, o rei dos mares.

Segundo a lenda, esta civilização entrou em guerra com Atenas, a deusa da guerra, perdeu e foi extinta por causa de um terremoto, tendo Atlântida desaparecido no mar.

Desde que Platão botou essa lenda no papel, há quem acredite que é tudo invenção,  uma fábula de cunho moral para que o homem lembrasse que por mais poderoso que fosse, a natureza é ainda mais, e há quem acredite piamente que Atlântida existiu e que suas ruínas da cidade perdida estão em algum lugar do oceano.

Há quem acredite que a cidade ainda existe, que os atlantes eram seres de outro planeta, seres fluídos místicos, ou algo mais parecido com o mundo do Aquaman. Até os nazistas chegaram a dizer que os arianos eram descendentes dos atlantes! Teorias malucas não faltam.

Lenda da cidade perdida de Atlântida

Lenda da cidade perdida de Atlântida

Mas há quem acredite em algo muito mais palpável, que Atlântida existiu e pode ser localizada e que os atlantes eram de fato uma civilização terráquea e normal, com desenvolvimento tecnológico e social avançados para a época (pré-história), mas normais e  não como em uma ficção científica.

E essa galera que acredita que Atlântida está por aí estuda muito sobre o assunto e vive uma busca sem fim pela cidade. Entre eles, muitos acreditam que a lenda é sobre Santorini e mais precisamente, sobre o povo minoico que vivia em Akrotiri.

O mito de Platão diz que a ilha era ovalada, montanhosa, muito próspera, com muitas árvores, animais, planícies férteis, metais e tudo que era necessário para o povo, que por sua vez era engenhoso, com arquitetura forte, campos de irrigação, grandes portos e templos, casas de banho e outras modernidades.

Para completar, diz-se que possuíam um enorme exército, muitos navios de guerra e tinham uma sede de conquistar outros territórios, motivo pelo qual guerreiam com Atenas e se ferram.

A descrição da ilha, o tipo de desenvolvimento, a prosperidade e o desaparecimento por terremoto vão de encontro ao que se descobriu com relação à população minoica que viveu em Akrotiri e a ilha, como se sabe, tinha um formato ovalado antes da erupção que formou a caldeira. E é assim que se criou a lenda de que Akrotiri é parte da cidade perdida de Atlântida, que estaria submersa em algum lugar em volta de Santorini.

Tem até um museu dedicado à essa lenda no caminho de Akrotiri, mas não visitei para te dizer como é (achei caro).

Eu não sei se essa teoria é verdade, mas sei que eu gostaria que fosse. Imagine se a gente conseguisse provar que o mito tinha base real e a base está ali naquele lugar mágico chamado Santorini????

Existem muitos sites e vídeos sobre esse tema, se você quiser mergulhar nisso, vá fundo! Alguns livros sobre o tema (por sua conta e risco): Timeu e Crítias de Platão (o livro original do mito); Entre Dois Mundos; O Mistério de Atlântida.

Deixo para terminar uma indicação de um livrinho simples chamado Amor e Azeitonas da Jenna Evans Welch. É um romance sobre uma garota que vai atrás do pai que vive Grécia em busca de Atlântida e vive uma jornada de descobrimento, ou seja, não é um livro sobre Atlântida, sendo as teorias sobre a ligação com Santorini um pano de fundo, mas ele dá um cheiro do que pensam esses teóricos, como identificam os sinais com o texto de Platão e de quebra dão dicas de lindos cartões postais de Santorini. É um livro bom para ler no avião para a Grécia ou na balsa para Santorini, sem compromissos, mas instigando a curiosidade e dando um toque de cor na sua viagem.

Viu como Santorini é muito mais que um pôr-do-sol muvucado em Oia? Aproveite e conheça também Pyrgos, uma vila de Santorini que é pura paz.

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Tudo sobre Akrotiri em Santorini: como visitar, o que esperar e a lenda de Atlântida.

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