Fátima
Não posso dizer que sou uma peregrina. Não posso dizer nem mesmo que sou católica. Mas ninguém pode dizer que eu não tenho fé! Fé em Deus, em milagres, em forças divinas e inexplicáveis, na amizade, no amor.
Apesar de ter acabado de retornar ao Brasil depois de mais de 3 meses em Portugal, voltei para a terrinha e fui até Fátima para a celebração do casamento do meu amigo Pedro com sua linda Ale. Fui porque passei com o Pedro bons momentos do tipo “nunca vamos terminar essa porcaria de trabalho?” ou “como seremos pessoas melhores?”. Fui porque o Pedro foi meu único companheiro de caminhadas e filosofadas na empoeirada Luanda, porque partilhamos um certo gostinho pela fotografia, porque nos aventuramos mundo afora, porque antes mesmo de conhecer pessoalmente já éramos íntimos das famílias e amores um do outro e foi assim que conheci a história do português Pedro, que conheceu a mexicana Ale na Índia quando os 2 faziam voluntariado e, enfim, passei a fazer parte disso, não???
Bom, mas o post é sobre a viagem. Fátima fica a cerca de 2 horas de Lisboa e do Porto e há dezenas de excursões organizadas, basta perguntar no hotel. Se quiser fazer incursão solo, saiba que é muito mais fácil de ônibus, pois a estação de trem chamada Fátima fica bem fora da cidade, a cerca de 23kms. Se quiser insistir no trem, desça em Caxarias, que fica 13kms mais perto e tem mais ônibus para o Santuário.
Já a estação de ônibus está a cerca de 10 minutos andando do santuário. Em Lisboa os ônibus saem da rodoviária de Sete Rios, na estação Jardim Zoológico e do Porto saem da Praça da Batalha, próximo ao metrô São Bento. Fique atento aos horários para retorno, que variam entre 19hs e 21hs.
De carro, moleza, basta pegar a A1 e seguir as placas. É a principal estrada do país e leva Porto à Lisboa, então tanto faz de onde você venha.
Se quiser dormir na cidade, há centenas de hotéis e pensões. Fiquei no Luna Hotel, bom e barato e um pouco mais afastado das hordas de turistas (e do incômodo resultante disso), mas a poucos minutinhos andando do Santuário. Coladinho à ele fica o Dom Gonçalo Hotel e Spa, mais estiloso.
Fátima é especialíssima porque, para quem não sabe, foi lá que Nossa Senhora de Fátima apareceu aos 3 pastorinhos Francisco, Jacinta e Lúcia e contou a eles 3 segredos sobre a humanidade. Eu, na minha ignorância, me surpreendi quando soube que na verdade foram várias aparições, durante meses seguidos no ano de 1917 e ainda algumas antes disso, de um anjo que os preparou para o encontro. Veja tudinho no site do Santuário, é muito elucidativo.
A cidade é muito parecida com a nossa Aparecida do Norte, sem muita graça, para ser sincera. Só que a Basílica de Fátima , construída em homenagem e à pedido da Santa no local da primeira aparição, fica numa praça bastante aberta (maior até que a da Basílica de São Pedro!!) onde são realizadas missas campais e onde os fiéis circulam com um pouco mais de liberdade. Além disso, a cidade é consideravelmente mais limpa e organizada.
De qualquer forma, é impossível não se sentir imediatamente inundado por uma energia que vibra pela cidade. É saber que você está em um lugar especial, perto de milhares de pessoas orando, agradecendo, abençoando. Inexplicável.
Muito embora eu tenha uma amiga que diga que falou com a Lúcia recentemente, ali na catedral ficam os túmulos dos 3 pastorinhos (Lúcia faleceu em 2005 em um convento de Coimbra) e são realizadas várias missas diárias. Nos braços da catedral há diversas capelinhas menores para maior contemplação e oração mais profunda. Do lado de fora, fica a enorme e moderna Igreja da Santíssima Trindade e a Capela das Aparições , que é na verdade o ponto principal do Santuário. Ali se realizam várias missas e o dia todo há centenas de pessoas orando. Como é aberta, não esqueça de fazer silêncio e respeitar quem está ali movido pelo espírito e não apenas pela curiosidade.
Também ali fora ficam várias lojinhas de livros, medalhinhas, santinhos, terços e tudo o mais que a imaginação dos comerciantes é capaz, e o velário. Como eu tinha algumas encomendas e tive que entrar numa das lojinhas, aproveitei para comprar uma vela e fazer também a minha parte. Nunca é demais.
E então tive uma experiência completamente fora do normal, no velário. O velário de Fátima produz um fogo para que os fiéis acendam as velas e alguns suportes para você deixar a vela lá, como candelabros em forma de anéis. Só que na verdade o fogo está mais para incêndio e os candelabros são dentro dele! São labaredas enooooormes e o calor é sufocante. É difícil de se aproximar para acender a vela e depois de acesa você precisa praticamente jogar a vela e torcer para ela cair no anel do suporte. Senão, se contente em vê-la queimando por inteiro lá no fogaréu mesmo, muito embora eu duvide que Nossa Senhora se importe se acontecer esse probleminha…
Eu, que não sabia de nada disso, tive a brilhante idéia de fazer uma oração ali no velário. Me concentrei e falei umas 4 palavras com calma, depois acelerei no 220 e já fui tentar acender logo a vela sem nem acabar a prece. Impossível ficar ali. Outra batalha porque eu não conseguia acender naquelas labaredas que ora subiam até o teto, ora desciam onde eu não conseguia alcançar e infinitos minutos depois, jogei a vela acesa num anel e, milagre, acertei. Resumindo, sai de lá uns 20 minutos depois, completamente vermelha e pingando como se tivesse passado a tarde torrando no sol. Não sei se isso é um tipo de ritual, mas me esgotou. Minha amiga Eduarda (beijo!), que não é boba nem nada, me esperava lá, lá longe.
A dica que vale ouro se apesar do meu sofrido relato você decidir enfrentar o fogo sagrado de Fátima é: compre uma vela enoooorme, bem comprida para dar um espacinho entre você e as chamas. E não compre as muito grossas porque a probabilidade de você acertar o candelabro fica mais remota.
Se além dessas aventuras na catedral você quiser mais, saiba que é possível visitar as casas onde viviam os pastorinhos , os locais de aparição do anjo e de nossa senhora em Valinhos , um pedaço do muro de Berlim e as famosas grutas de Fátima : Moedas, Mira de Aire, Alvados e Santo Antonio, sendo a primeira a mais próxima da cidade e a segunda a maior. Sei que é emocionante, mas não tive tempo por causa do casamento. Apesar de termos saído cedo de Lisboa, até fazermos o check in, encontrarmos os amigos e almoçarmos um churrasquinho no agradável Rotunda do Norte – Rua São Francisco de Assis, 57 -, já era hora do casamento. Depois: cerimônia, festa e esticada no Lérias Bar – Rua Santa Luzia, 27 – e o dia seguinte foi um tanto perdido, só o tempo das voltas pela catedral, compra de presentes, almoço no restaurante Fátima – Rua São José, 2-1 – e minha experiência com o elemento fogo.
Há 3 museus na cidade: o de Arte Sacra e Etnologia , que desconfio ser o mais interessante e só fecha às segundas, o das Aparições que dizem ser um pouco esquisito e o de Cera. Como não tenho nenhum apreço por bonecos de cera, não vou opinar.
Atenção para quem não gosta de muvuca! Assim como acontece em Aparecida do Norte, Fátima fica completamente tomada na data da primeira aparição, em 13 de maio. Mas não é só! Também recebe milhares de fiéis em 13 de outubro, dia do Milagre do Sol, quando supostamente uma bola de fogo desceu do céu e curou doentes. Agora, para quem gosta de muvuca e grandes eventos, visite a cidade nestes dias ou programe sua viagem para estes dias em 2017, quando as aparições farão 100 anos. Os preparativos para as festividdes já começaram…
O Pedro me deu mais umas dicas de restaurantes, que compartilho aqui: Retiro dos Caçadores e O Crispim nas costas do Santuário e O Convite no Hotel Dom Gonçalo, onde foi o casamento.
Se ainda sobrar tempo, uma visitinha à Tomar, que fica ali pertinho, pode ser interessante. Nesta cidadezita fica o Convento de Cristo, que foi sede da Ordem dos Cavaleiros Templários que instigaram os Descobrimentos e é tombado como Patrimônio Histórico da Unesco.
Como não posso terminar sem entrar de novo no assunto casamento digo que casar em Fátima é uma idéia muito bacana para aqueles que, assim como o Pedro e a Ale, são mais religiosos. Marcar data não é difícil e as taxas são acessíveis. Só tem 2 horários: 12hs ou 15hs, o primeiro na catedral e o segundo em uma das capelas menores. O deles foi às 15hs e achei muito mais íntimo sem os turistas e mesmo assim, muito carregado de significado.
Além disso, eu que fico entediada em cerimônias de casamento percebi que havia passado 2 horas (!!!) ali super entretida e ainda sai cantando toda feliz! Ok, a família do Pedro já morou em Fátima, o padre lembrava dele desde criancinha e se ateve à falar sobre a linda história dos dois, o que não lhe deixou tempo para sermões exaustivos ou sem sentido, como muitas vezes acontece. Também teve o fato dos pombinhos terem escolhido boas músicas e lindas passagens que a gente acompanhava no folheto com motivos indianos, meio em português, meio em espanhol.
Depois da cerimônia e fotos, uma deliciosa recepção no hotel Dom Gonçalo. Meus queridos, se comer em Portugal é tudo de bom, conseguem imaginar um jantar de casamento? E a mesa de sobremesa??? Passei vergonha!!!!
Como o barulho no hotel tinha limites, seguimos para a disco Lérias com a família dos noivos e todos os animadíssimos convidados-cidadãos-do-mundo que vieram de todas as partes para estar com eles. Confesso que duvidei que houvesse um agito daqueles em Fátima, mas afinal, a cidade não é apenas um santuário! Barato, dançante, o único probleminha foi quando desligaram as luzes e cortaram o som, mas desconfio que tudo na vida uma hora acaba…
Quase tudo né? Como bem dizia o convite de casamento e Madre Teresa: “We have been created for greater things: to love and to be loved!” O amor nunca acaba. Nem a fé.
Namaste Fátima!
Devo confessar que so agora vi o post! :S Mas está muito bonito!! Assim como o de Braga! Consegues transcrever a beleza dos lugares e momentos de um modo especial!! Parabéns!!!
Um beijinho grande para ti da familia Escobar Rito :D